2 de dezembro de 2011

São Paulo: Governo usará universitário para ajudar 254 escolas ruins


Intenção da Secretaria da Educação é que estudante colabore com professores

Medida integra novo pacote de ações para a rede estadual de ensino que será divulgado hoje pelo governadorFÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
O governo paulista vai dar auxílio mensal de R$ 500 para universitários que fizerem estágio em colégios básicos estaduais considerados ruins.
A ideia é que estudantes de licenciaturas ajudem no ano que vem 254 escolas que têm mais dificuldades pedagógicas ou que estão localizadas em áreas periféricas. A rede estadual tem 5.000 unidades.
Segundo o governo, além de auxiliar a rede no curto prazo, os universitários terão experiências que os deixarão mais bem preparados para quando estiverem formados.
A medida integra novo pacote de ações na educação -que a Folha antecipou-, a ser anunciado hoje pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). No evento, ele vai convocar a sociedade a participar da melhoria do ensino.
A gestão visa colocar o Estado entre as 25 melhores redes do mundo até 2030. Atualmente, está em 53ª entre 65, considerando simulação que apresenta SP como um país no Pisa (prova internacional).
PLANO DE TRABALHO
Para atingir a meta, o governo lançou em outubro um plano de melhorias. Agora, apresenta ações complementares. Uma das principais é o aperfeiçoamento dos estágios de alunos de licenciatura.
A avaliação da secretaria é que os estágios atuais têm tido pouco efeito para os licenciandos e para as escolas.
No novo programa, chamado de Residência Escolar, os estudantes terão de apresentar um plano de trabalho, que será acompanhado por um professor da unidade.
Os bolsistas poderão ajudar os docentes nas aulas, em correção de trabalhos ou no auxílio aos alunos com dificuldades. Cada estagiário terá um programa diferente.
O governo diz que já tem acordo com PUC, Mackenzie, UFSCar, UFABC e Unifesp.
Os bolsistas farão estágio de 400 horas -o normal é 300 horas no curso todo.
"Haverá benefícios para os universitários, que terão uma formação melhor, e para as escolas, que poderão contar com esses estagiários", disse a responsável pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, Leila Mallio.
Paralelamente, está mantido o programa do professor-auxiliar, que fica na sala de aula com o docente titular, nos cinco primeiros anos do ensino fundamental.
Iniciado na gestão José Serra (PSDB), o projeto enfrenta falta de professores interessados (60% das turmas previstas estão desatendidas).
O plano de Alckmin é o segundo da gestão tucana em São Paulo em quatro anos. O anterior, de Serra, terminou em 2010, com metas parcialmente atingidas.

Especialistas veem medida com ressalvas
Para docentes, estagiário está em sala de aula para aprender na rede pública, não para ser responsável por ela
Professora também afirma que carga horária não pode atrapalhar estudos do universitário
ELTON BEZERRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Especialistas consultados pela Folha disseram que o projeto de dar auxílio mensal para que universitários façam estágio em colégios considerados ruins é importante, mas fizeram ressalvas em alguns aspectos da proposta.
Para o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse, há um sério risco de se transferir para os estagiários uma responsabilidade que é da rede de ensino. "Um estágio não pode jamais significar a substituição de um trabalhador."
Mesma preocupação tem Angela Soligo, da Unicamp. "O estagiário está na escola para aprender, não pode ser responsável por uma classe." Outro alerta que ela faz está relacionado à carga horária, que não pode atrapalhar os estudos dos alunos.
Para Alavarse, outro ponto a ser observado refere-se ao valor da bolsa oferecida.
"A maioria dos estudantes de licenciatura estuda em situação precária, e muitos trabalham. É preciso ver se a bolsa é atrativa", disse.
PONTOS POSITIVOS
Apesar das ressalvas, os especialistas veem pontos positivos na proposta.
Soligo afirma que o projeto coloca o estudante em contato com a realidade escolar.
"Isso vai implicar uma imersão do estagiário em áreas importantes, como planejamento, elaboração de propostas, dificuldades e progressos", disse.
Para a pesquisadora Paula Louzano, da Fundação Lemann, os futuros professores estarão mais preparados para lidar com os alunos.
"As faculdades de educação ficarão mais próximas da escola pública", afirmou.
Já para Mozart Neves Ramos, do Conselho Nacional de Educação e do Todos pela Educação, a proposta ajuda a preparar o jovem para a realidade da escola pública.
"Esse projeto é muito importante para que não haja o choque que afasta o professor da rede."
Ele afirmou que a proposta é semelhante à realidade da Finlândia. "Lá, os jovens concursados são obrigados a fazer residência docente."



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