Aprendizado de matemática piora do meio para o fim do ensino fundamental; país precisa de plano emergencial para formar mais professores
Quanto mais uma nação se mostra encantada com estatísticas, tanto mais se deve perguntar pela capacidade de seus dirigentes e do público para digeri-las e daí derivar um curso de ação. O Brasil, todos sabem, não é um país dado às contas -e poucas áreas deixam isso tão evidente quanto a educação.
Não lhe faltam, hoje, avaliações e indicadores a apontar a má qualidade do ensino. Os avanços obtidos -e os há- são incrementais, difíceis de perceber e de valorizar. As más notícias tendem a ganhar mais atenção, como as que vêm do ensino de matemática.
O buraco negro está no segundo ciclo do ensino fundamental (antigo ginásio). Resultados de 2011 da Prova Brasil -exame bienal realizado pelo governo da União- já haviam indicado algum progresso no primeiro ciclo do ensino fundamental e um desastre no ensino médio (antigo colegial).
No primeiro caso, 36% dos alunos do quinto ano (final do primeiro ciclo fundamental) demonstravam conhecimentos adequados de matemática, ultrapassando assim a modestíssima meta de 35% fixada pelo movimento Todos pela Educação. No terceiro ano do ensino médio, só 10% dos formandos tinham domínio satisfatório, muito aquém do objetivo (reles 20%).
Novo levantamento da organização, com base na mesma Prova Brasil, confirma agora algo que já estava implícito na comparação entre níveis de ensino num mesmo ano: à medida que progridem entre os níveis de escolaridade, o desempenho dos alunos piora.
Na Prova Brasil de 2007, 22% dos estudantes no quinto ano estavam bem em matemática. O mesmo contingente de alunos, ao terminar o nono ano em 2011, tinha só 12% de formandos com aprendizado satisfatório da matéria.
Em outras cifras, 88% deles chegaram ao nível médio sem competência para fazer contas de percentuais ou para interpretar gráficos -habilidades hoje demandadas até nos postos de trabalho de remuneração mais baixa na indústria, no comércio e no agronegócio.
São muitas as razões para esse fracasso, mas há certo consenso de que a deficiência maior está no lado docente. Não apenas a formação notoriamente precária dos professores, mas a pura e simples carência deles: só 45% dos mais de 145 mil docentes na disciplina tinham a habilitação necessária (licenciatura em matemática), segundo o Censo Escolar de 2007. Hoje se estima que o deficit da área seja de 65 mil professores.
Trata-se, já se vê, de uma emergência. Não basta um Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. O Brasil precisa pôr a mesma ênfase na matemática -para não se tornar um país de faz de conta.
Folha de S.Paulo, 2/4/2013
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