06 de julho de 2015
Escola de Águas Claras foi alvo de severas críticas por conta da ação de educadoras
Fonte: R7
O caso de maus-tratos a crianças de aproximadamente três anos no Colégio Ipê, de Águas Claras, chocou o Distrito Federal na última semana. Foram divulgados mais de 20 vídeos que mostram a forma rude como as crianças eram tratadas pelas educadoras da instituição de ensino.
Em um dos vídeos, a professora chacoalha com força os braços de um garoto, enquanto outra tenta colocar algo na boca dele. Além disso, vazaram áudios de supostas professoras impacientes com um menino que urinou nas calças. Elas dizem que ele está com “fedorzão de xixi” e, quando ele começa a chorar, as educadoras ameaçam tirar a roupa dele e forçá-lo a andar pelado pela sala de aula, caso urine novamente.
O R7 ouviu o especialista em psicologia da educação da UnB (Universidade de Brasília), Célio Cunha, para entender o que situações como esta podem causar a crianças desta idade. Segundo ele, as imagens e áudios divulgados mostram "uma forma de castigo infantil condenado pela lei" e revelam que a escola não está cumprindo a sua tarefa de "promover o desenvolvimento da criança".
— Isso é altamente condenável. Pedagogicamente, castigos corporais, violentos, implicam na vida da criança. Implicam na aprendizagem. Ainda mais nessa idade, quando a educação começa. [O caso revela] falta de conhecimento sobre a psicologia infantil.
Para o especialista, é preciso "educar democraticamente" e, humilhar uma criança publicamente, dizendo que ela vai andar de fraldas ou pelada pela sala de aula caso faça xixi novamente, é uma atitude "altamente condenável" e que pode afetar de forma grave o desenvolvimento durante a infância.
— [Os mau-tratos] vão moldando o comportamento da criança, ela tem que ser educada democraticamente para iniciar o desenvolvimento da personalidade da criança. [A atitude das educadoras do Ipê] afetam o desenvolvimento moral, social, cognitivo - afetam todos os tipos de desenvolvimento das crianças.
Cunha garante que as crianças que sofreram maus tratos no Colégio Ipê irão se recuperar dos traumas após saírem desse ambiente. Caso contrário, o especialista alerta: no futuro elas podem reproduzir essa maneira de educar, maltratando os filhos ou as crianças com as quais possam vir a conviver.
— Se não for corrigido esse tipo de educação, é claro que a criança tende a repetir o comportamento adulto.
A promotora de eventos Kelly Rezende, de 41 anos, descobriu que a filha de dois anos estava passando por situação difícil no Colégio Ipê justamente assim: a menina reproduziu com as bonecas o que a professora fazia com ela.
— Eu descobri quando cheguei em casa, parecia um filme de terror. Ela virou as bonecas todas para a parede e ficava gritando: está de castigo, está de castigo. Eu não fazia isso com ela, ainda mais gritando daquele jeito. Outra vez ela chorou no banho e falou: engole o choro. Ai eu perguntei porque ela falou aquilo e ela falou que a tia [da escola] tinha dito isso.
Desconfiada, Kelly colocou a filha em cima de uma mesa para olhar nos olhos dela, prometeu um chocolate caso contasse tudo e a criança logo revelou: no dia do brinquedo, uma coleguinha emprestou uma boneca para ela, mas outra tentou arrancá-la dela à força e bateu em sua cabeça. Quando a menina tentou revidar, a professora a colocou de castigo de costas, com a cabeça virada para a parede e sem o lanche da tarde.
— No dia que ela me contou, me perguntou: por que, mamãe, a professora não deixou eu comer meu lanchinho? Só eu estava de costas para a parede, ninguém mais. Fui lá conversar e disseram que criança dessa idade cria muito, mas eu sei o que eu ensino e essas frases como "engole o choro", eu não ensinei, ela aprendeu lá. Ela me contou até as falas da professora, era linguagem de adulto, não tinha como ela ter inventado.
A Aspa–DF (Associação de Pais e Alunos de Instituições de Ensino do Distrito Federal) vai acionar o Ministério Público para atuar nas investigações de agressão a estudantes no Colégio Ipê. A organização garantiu que vai pedir a apuração de denúncias à Proeduc (Promotoria de Justiça de Defesa da Educação). A entidade faz um levantamento de relatos de pais e alunos que dizem ter passado por situações semelhantes na mesma unidade de ensino. Os depoimentos em redes sociais e enviados à associação podem servir como provas em um possível processo judicial.
A instituição ainda estuda mover um processo por danos morais contra o Colégio Ipê por defeito de prestação de serviço, com base no Código do Consumidor. A Polícia Civil registrou 12 denúncias contra a escola. A 21ª Delegacia de Polícia investiga os casos, mas ainda não há previsão de data para a oitiva dos depoimentos.
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