Sexta-Feira, 25 de novembro de 2011
JC e-mail 4391, de 24 de Novembro de 2011.
Correio Braziliense de hoje (24).
Aconteceu num seminário sobre formação inicial de professores, frente a um painel reunindo grandes expoentes na área de educação, quando se franqueou a palavra ao público. A primeira manifestação, vinda de uma jovem professora, fazia um apelo aos especialistas para que lhe dessem uma luz, antes que tomasse a decisão eminente de largar o magistério. Em seu relato emocionado, destacava que, mesmo após cinco anos de magistério, ainda se considerava carente de instrumentos metodológicos para realizar um bom trabalho. Seu cotidiano era um verdadeiro inferno: sofria bullying por parte dos alunos, não conseguia resultados e não sabia o que fazer. Como forma de diminuir a tensão, faltava no limite de suas possibilidades.
Esse pedido de socorro possivelmente retrata a realidade de grande número de professores que, em sua formação inicial, não adquiriram os instrumentos mínimos para o exercício do magistério. Perdidos num cipoal de teorias, em grande parte estéreis e mal interpretadas, os cursos de formação acabam passando ao largo do desenvolvimento das competências básicas de um professor. Os jovens educadores saem das faculdades sem dominar o conteúdo que vão ensinar, os melhores métodos para o trabalho com esses conteúdos, e sem desenvolver as habilidades de organização do tempo e do espaço, bem como aquelas referentes às relações interpessoais e às dinâmicas de funcionamento de grupos.
O mais grave parece ser o total divórcio entre teoria e prática, bem como a inexistência de uma prática consistente. Em geral, a experiência se resume a algumas "aulas", em situações totalmente artificiais. Assim, as habilidades básicas da prática docente acabam sendo desenvolvidas na dura experiência inicial que, quando muito traumáticas, provocam o abandono do magistério, ou uma prática de absenteísmo desregrado. Baseados nessa constatação, alguns programas propõem a institucionalização da figura de um professor, com mais experiência, que possa atuar como mentor dos mais jovens.
Se quisermos, entretanto, enfrentar o problema em sua raiz, urge repensar os currículos de formação de professores. Pessoalmente, devo muito ao trabalho desenvolvido como "professoranda". Aluna do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, numa época de grande carência de professores na rede pública, participei de uma experiência em que o conteúdo previsto para o último ano foi condensado num curso de férias, para que assumíssemos uma turma durante todo o ano letivo. Um dia por semana, tínhamos aulas de didática em que discutíamos os desafios, trocávamos experiências e recebíamos orientações. Funcionava como uma "residência", típica da área de saúde. Uma possibilidade de incluir a experiência de residência em educação seria utilizar o período probatório para o desenvolvimento de um programa estruturado para esse fim.
Urgentíssima, porém, seria uma total reformulação do chamado estágio curricular. Temos aí um grande campo de oportunidades. A experiência do Projeto Entre Jovens, proposto pelo Instituto Unibanco, mostra-nos que um programa de tutoria, desenvolvido como forma de estágio curricular, pode se constituir num verdadeiro jogo de ganha-ganha. O projeto, voltado para o desenvolvimento de pré-requisitos considerados indispensáveis para o prosseguimento dos estudos, e que poderia ser aplicado ao final de cada uma das etapas em que ocorre uma mudança de estrutura curricular (quinta série, nona série e terceira série do ensino médio), vem demonstrando impactos bastante consistentes.
Numa proposta de dar conta das lacunas de aprendizagem antes que se avolumem, ganhariam os alunos, os professores, que não necessitariam voltar a conceitos anteriores, e os futuros educadores, com uma efetiva prática docente.
Assim é que uma situação de crise, que vem à tona por intermédio de gritos de socorro de professores que se sentem despreparados para a nobre missão de educar as novas gerações, pode representar uma oportunidade de se repensar o processo de formação inicial e o desafio de gargalos de aprendizagem que acabam determinando o abandono da escola, tanto por parte de professores quanto de alunos.
Wanda Engel é superintendente-executiva do Instituto Unibanco.
JC e-mail 4391, de 24 de Novembro de 2011.
Correio Braziliense de hoje (24).
Aconteceu num seminário sobre formação inicial de professores, frente a um painel reunindo grandes expoentes na área de educação, quando se franqueou a palavra ao público. A primeira manifestação, vinda de uma jovem professora, fazia um apelo aos especialistas para que lhe dessem uma luz, antes que tomasse a decisão eminente de largar o magistério. Em seu relato emocionado, destacava que, mesmo após cinco anos de magistério, ainda se considerava carente de instrumentos metodológicos para realizar um bom trabalho. Seu cotidiano era um verdadeiro inferno: sofria bullying por parte dos alunos, não conseguia resultados e não sabia o que fazer. Como forma de diminuir a tensão, faltava no limite de suas possibilidades.
Esse pedido de socorro possivelmente retrata a realidade de grande número de professores que, em sua formação inicial, não adquiriram os instrumentos mínimos para o exercício do magistério. Perdidos num cipoal de teorias, em grande parte estéreis e mal interpretadas, os cursos de formação acabam passando ao largo do desenvolvimento das competências básicas de um professor. Os jovens educadores saem das faculdades sem dominar o conteúdo que vão ensinar, os melhores métodos para o trabalho com esses conteúdos, e sem desenvolver as habilidades de organização do tempo e do espaço, bem como aquelas referentes às relações interpessoais e às dinâmicas de funcionamento de grupos.
O mais grave parece ser o total divórcio entre teoria e prática, bem como a inexistência de uma prática consistente. Em geral, a experiência se resume a algumas "aulas", em situações totalmente artificiais. Assim, as habilidades básicas da prática docente acabam sendo desenvolvidas na dura experiência inicial que, quando muito traumáticas, provocam o abandono do magistério, ou uma prática de absenteísmo desregrado. Baseados nessa constatação, alguns programas propõem a institucionalização da figura de um professor, com mais experiência, que possa atuar como mentor dos mais jovens.
Se quisermos, entretanto, enfrentar o problema em sua raiz, urge repensar os currículos de formação de professores. Pessoalmente, devo muito ao trabalho desenvolvido como "professoranda". Aluna do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, numa época de grande carência de professores na rede pública, participei de uma experiência em que o conteúdo previsto para o último ano foi condensado num curso de férias, para que assumíssemos uma turma durante todo o ano letivo. Um dia por semana, tínhamos aulas de didática em que discutíamos os desafios, trocávamos experiências e recebíamos orientações. Funcionava como uma "residência", típica da área de saúde. Uma possibilidade de incluir a experiência de residência em educação seria utilizar o período probatório para o desenvolvimento de um programa estruturado para esse fim.
Urgentíssima, porém, seria uma total reformulação do chamado estágio curricular. Temos aí um grande campo de oportunidades. A experiência do Projeto Entre Jovens, proposto pelo Instituto Unibanco, mostra-nos que um programa de tutoria, desenvolvido como forma de estágio curricular, pode se constituir num verdadeiro jogo de ganha-ganha. O projeto, voltado para o desenvolvimento de pré-requisitos considerados indispensáveis para o prosseguimento dos estudos, e que poderia ser aplicado ao final de cada uma das etapas em que ocorre uma mudança de estrutura curricular (quinta série, nona série e terceira série do ensino médio), vem demonstrando impactos bastante consistentes.
Numa proposta de dar conta das lacunas de aprendizagem antes que se avolumem, ganhariam os alunos, os professores, que não necessitariam voltar a conceitos anteriores, e os futuros educadores, com uma efetiva prática docente.
Assim é que uma situação de crise, que vem à tona por intermédio de gritos de socorro de professores que se sentem despreparados para a nobre missão de educar as novas gerações, pode representar uma oportunidade de se repensar o processo de formação inicial e o desafio de gargalos de aprendizagem que acabam determinando o abandono da escola, tanto por parte de professores quanto de alunos.
Wanda Engel é superintendente-executiva do Instituto Unibanco.
"sofria bullying por parte dos alunos, não conseguia resultados e não sabia o que fazer. Como forma de diminuir a tensão, faltava no limite de suas possibilidades." É o relato desesperado da professora. Isso se reverte na formação do professor????!
ResponderExcluirPenso que a Doutora Wanda perdeu o senso ao querer criar um gancho para vender o projeto da instituição a qual pertence.
Lamentável.