LONDRES - A Human Rights Watch divulgou nesta segunda-feira um relatório alarmante sobre a condição das crianças sírias refugiadas. Na Turquia, 400 mil estão sem acesso à escola. O número equivale a quase 75% de todos os refugiados do país em idade escolar. Dentro dos campos de refugiados, a frequência escolar é alta: 90%. Mas fora, a situação é diferente. A educação formal sofre com uma série de obstáculos.
De acordo com a organização humanitária, há vários motivos para o número elevado de não acesso: a necessidade de ajudar os pais com trabalho, o preconceito por parte da população local, a barreira do idioma e a insuficiência de dinheiro ou condições que favoreçam o acesso a instituições públicas e privadas.
Um dos mais de 130 sírios ouvidos pela HRW, Radwan não consegue estudar porque tem que ajudar os pais em seu trabalho fabricando tecidos em Gaziantep, Sudeste do país.
— Adorava a escola, matemática. Sinto saudades. Hoje trabalho 12 horas por dia, sete dias por semana — lamenta o menino de 11 anos.
Em setembro de 2014, o Ministéria da Educação turco deu aval para que todos os refugiados sírios tivessem acesso universal a escolas públicas e locais de adaptação geridos por organizações voluntárias. No entanto, a realidade é outra: a falta de conhecimento em turco (e a escassa oferta de aulas), problemas de integração e até bullying sofrido pelas crianças sírias foram amplamente citados. Algumas famílias dizem também não saber como ter acesso ao sistema de apoio.
Nas instituições privadas, o pagamento de mensalidades está fora do padrão dos sírios. Bolsas são raras, eles relatam. E como legalmente os sírios não têm permissão para trabalhar — para evitar que se enquadrem como migrantes econômicos —, têm de sobreviver do mercado informal. Algumas famílias afirmaram até que foram barradas por administradores de escolas, mesmo com dinheiro.
A Turquia alega que já gastou mais de US$ 7 bilhões em resosta à crise síria, e somente em educação para crianças do país entre 2014 e 2015, US$ 252 milhões. Segundo o Ministério da Educação, a meta é fechar o ano com 270 mil na escola (hoje, são pouco mais de 200 mil), e terminar 2016 com 370 mil.
— Os direitos precisam ser respeitas também pelaexperiência de estarem deslocados. Isto inclui o direito à educação. Eles precisam ser salvaguardados — alertou Stephanie Gee, coordenadora de estudos de migração na HRW.
Antes da guerra civil síria, iniciada em 2011, as taxas de acesso escolar no sistema primário eram de 99%. Hoje, 3 milhões de crianças não têm acesso à escola local.
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