7 de novembro de 2011

A vez dos tolos e insensatos? Marcelo Mariaca


07 de novembro de 2011
Educação no Brasil | Brasil Econômico | PONTO FINAL | BR

No agora mítico discurso que fez na Universidade de Stanford, em 2005, Steve Jobs conclamou os estudantes: "Tenham sempre fome, sejam insensatos, tolos e ingênuos". Fora a fome de conhecimentos, o conselho vem na contramão do que costumam ensinar os pais, os mestres e os líderes da empresa.
Numa seleção a um posto na organização, serão poucas as perspectivas de sucesso daquele que se mostrar insensato, tolo ou ingênuo na entrevista.
De fato, num mundo extremamente competitivo, passamos a exigir muito dos jovens que tentam ingressar numa empresa de excelência e começar uma carreira executiva de sucesso. Nem bem chegou aos 15 anos o garoto ou menina deve estar preparado para enfrentar as provas de acesso ao ensino médio dos colégios mais disputados. Três anos depois é a vez dos exames do Enem e dos concorridos vestibulares para as universidades de ponta. Infelizmente, nem mesmo saiu da puberdade o jovem já tem de tomar uma decisão que exige maturidade, ao definir qual profissão seguirá.
É verdade que, no meio do caminho, ele terá condições de mudar o curso de sua vida profissional - segundo as estatísticas do MEC, de 2008 para 2009, quase 21% dos estudantes matriculados nas faculdades e universidades abandonaram o curso. Mas a entrada na universidade é um marco extremamente importante para o sucesso profissional.
No último ano da faculdade, o jovem precisa disputar concorridíssimos concursos públicos ou processos de seleção nas empresas mais admiradas.
Se for um dos escolhidos, sua vida não será fácil, pois terá de lutar para vencer a concorrência aos poucos e cobiçados postos da alta direção. Em resumo, o jovem tem de ralar muito para ter uma carreira de sucesso.
Por tudo isso, o jovem é orientado desde cedo, na família e na escola, a ter foco e disciplina para tomar as decisões corretas e sensatas. A palavra de ordem é que estude muito para aumentar a sua competitividade diante dos desafios que virão pela frente. Não poderá ser insensato nem tolo, sob o risco de comprometer seu futuro.
Imagino que só duas categorias de executivos podem ser insensatos: os gênios e visionários, que têm condições de afrontar o chamado sistema e o status quo para impor suas ideias ou quem não tem nada a perder. Afinal, o velho dicionário "Aurélio" não reserva nenhum qualificativo positivo para insensato, cujos sinônimos são "falta de senso ou razão", "demente", "louco" e "deslocado".
Entendemos, porém, que o fundador da Apple quis dizer é que o jovem tem de perseguir sempre seus sonhos e ideais, apostar em seus projetos por mais mirabolantes que possam parecer aos outros, manter o espírito de curiosidade próprio da idade e não deixar morrerem o entusiasmo e a paixão juvenis. Assim, o jovem pode abrir mão de uma profissão abençoada pelos pais ou considerada rentável para fazer aquilo que realmente ame.
Em outras palavras, se seguir sua verdadeira paixão, o jovem provavelmente terá sucesso. Essa insensatez é sempre bem-vinda.
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Num mundo competitivo, passamos a exigir muito dos jovens que tentam ingressar numa empresa de excelência e começar uma carreira de sucesso

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