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Menos de 4% dos alunos que participaram do programa federal de intercâmbio Ciência sem Fronteiras foram estudar nas melhores universidades do mundo.O levantamento foi feito pela Folha na base de dados pública do programa federal.
Ao todo, 108.865 estudantes foram beneficiados com bolsas do Ciência sem Fronteiras. Uma parte ainda está com a bolsa vigente, mas a maioria já voltou para o Brasil (veja infográfico).
A proposta do programa, conforme seu material institucional, era que os estudantes do Ciência sem Fronteiras teriam treinamento "nas melhores instituições e grupos de pesquisa disponíveis (...) de acordo com os principais rankings internacionais." Uma dessas classificações é o ranking britânico THE.
Diego Padgurschi/Folhapress | ||
A farmacêutica Karina Mendonça, 26, que estudou na Universidade de Toronto, no Canadá |
A classificação utilizada foi o ranking de universidades THE (Times Higher Education), lista considerada a mais importante atualmente.
De acordo com a literatura científica sobre ensino superior, o primeiro quadrante dos rankings universitários revela as escolas "de elite".
As britânicas LSE (London School of Economics) e College London, que estão no grupo das melhores do mundo, não receberam nenhum brasileiro do programa.Já a Universidade Kingston, também do Reino Unido, classificada no grupo 601º-800º no ranking THE, teve 150 brasileiros (a partir da 201ª posição, o THE agrupa as universidades).
Para se ter uma ideia, a USP, melhor brasileira no ranking, está no grupo 201º- 250º.
O número de alunos que frequentou universidades "top" pelo programa foi menor do que o de alunos enviados para Portugal –país sem universidades entre as 350 melhores do mundo no THE.
A Universidade de Coimbra, com 952 alunos brasileiros, por exemplo, está no grupo 401º-500º no ranking THE.
O "boom" da demanda por universidades de Portugal aconteceu logo no início do programa. Em 2012, as escolas portuguesas chegaram a concentrar um em cada cinco bolsistas brasileiros. O país acabou sendo excluído do programa e alguns alunos foram realocados para instituições de língua inglesa.
Estar em uma universidade de elite pode fazer a diferença. "Trabalhei com professores que são referência mundial em nutrigenômica [ciência que estuda a relação entre nutrição e genética]", diz a farmacêutica Karina Mendonça, 26, da Unifesp.
Ela teve uma bolsa de um ano e meio do Ciência sem Fronteiras na Universidade de Toronto (Canadá), uma das melhores do mundo. Fez seis meses de inglês, estágio e um ano de disciplinas. Na escolha da instituição, levou em consideração sua posição em rankings e também a facilidade do processo de ingresso em comparação com outros países.
Nem todos os alunos do programa, no entanto, foram para "universidades". Alguns foram para instituições como hospitais e institutos de pesquisa, como a agência espacial norte-americana Nasa.
Para o especialista em internacionalização da Unicamp Leandro Tessler, a baixa quantidade de participantes do Ciência sem Fronteiras em universidades de ponta não é surpreendente.
"O anúncio de que os alunos iriam para as melhores universidades do mundo mostra que o governo estava fora da realidade", diz. "A maioria dos alunos brasileiros não fala inglês."
Suspenso e sem perspectiva de receber novas verbas para continuar, o programa divide opiniões no meio acadêmico, principalmente no que diz respeito às bolsas de graduação –8 em cada 10 do total disponibilizado.
Uma das críticas mais comuns ao projeto é a de que estágios no exterior poderiam trazer benefício real apenas durante a pós-graduação.
Já a bióloga Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) elogia o programa."Esses meninos vão transformar a ciência nacional", disse em entrevista recente à Folha. A SBPC traz, desde 2012, uma sessão com relatos de ex-bolsistas do programa na sua reunião anual.
OUTRO LADO
A reportagem não conseguiu retorno do governo sobre o programa. O MEC orientou a Folha a falar com a Capes, uma das agências federais responsáveis pelo projeto, que informou que está passando por um momento de transição. O novo presidente da agência, o sociólogo Abílio Afonso Baeta Neves, foi nomeado na sexta (10).
A Folha apurou que o novo governo deve priorizar as bolsas de pesquisa científica nacionalmente até que a situação econômica do país se estabilize.
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