15 de junho de 2016

Governo Alckmin esvazia ações de reforço escolar, como recuperações

PAULO SALDAÑA


PUBLICIDADE
O governo Geraldo Alckmin (PSDB) abandonou totalmente o reforço dado além do período de aulas a alunos com dificuldades de aprendizado e esvaziou os outros dois modelos de recuperação presencial da rede paulista.
As duas modalidades de reforço –de salas menores e com dois professores na aula– sofreram fortes reduções. O número de professores auxiliares, que atuam na chamada recuperação contínua, caiu 88% entre os anos de 2012 e 2015, passando de 40 mil docentes para 4.635.
A redução mais drástica foi no ensino médio, etapa com as maiores dificuldades de aprendizagem. Eram 6.620 professores atuando como auxiliares em 2012. No ano passado, havia só 23.
No caso do reforço em salas menores, a chamada recuperação intensiva, houve queda de 45% no número de alunos atendidos. Eram 33,5 mil alunos envolvidos em 2012. No ano passado, esse número foi de 18,5 mil.
André Lucas Almeida/Futura Press/Folhapress
Escola estadual Fernão Dias Paes, em São Paulo
Escola estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo
Os dados foram obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação. A rede tem 3,8 milhões de alunos.
No sistema de avaliação da rede de ensino, o Saresp, 94,1% dos alunos do ensino médio ficaram no ano passado com desempenho "básico" ou "abaixo do básico" em matemática. No 9º ano, 84,5% estavam nessas condições e no 5º ano, 50,7%.
Em 2012, quando a gestão lançou esses dois modelos de recuperação, o governador prometeu que aulas de reforço no contraturno não seriam interrompidas. Não há, entretanto, registro dessas turmas desde aquele ano.
ON-LINE
O governo afirma que ampliou a oferta de recuperação de alunos por meio de ferramentas digitais. A rede lançou uma plataforma chamada Aventuras do Currículo+.
A Secretaria Estadual de Educação, porém, não informou como está esse atendimento de recuperação em 2016 nem a meta para o ano, tendo em vista o desempenho dos alunos no ano passado.
Professores consultados pela Folha afirmam que na secretaria não há reforço presencial neste ano nas escolas.
"Não foram criadas classes de recuperação, o que já cobramos do governo. Sem o reforço, a escola acaba levando para frente as dificuldades dos alunos", diz Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp (sindicato dos docentes).
O reforço ocorre na rede desde 1997 (no contraturno, até 2012). Essas atividades são consideradas fundamentais no sistema de ciclos, em que não há reprovação todos os anos. A ideia é que o aluno supere a defasagem de conteúdo sem precisar reprovar.
"O papel essencial da recuperação é trabalhar com o aluno em outras condições", diz o professor Rubens Barbosa de Camargo, da Faculdade de Educação da USP. "A tendência agora é agravar ainda mais as defasagens."
CICLOS
O governo ampliou em 2014 as possibilidades de reprovação. Antes, o aluno só repetia no 5º e no 9º anos do fundamental. Com a mudança, isso passou a ser possível no 3º, 6º e 9º anos.
"A nova estrutura permitirá o acompanhamento permanente do aluno, também, por meio das novas ferramentas de reforço, como a recuperação contínua, na qual as classes contam com um professor auxiliar", ressaltava texto da própria secretaria de Educação, ainda no site da pasta.
Quando a recuperação intensiva foi lançada, em 2012, ela era prevista em quatro etapas: no 4º, 5º, 7º e 9º anos. Em 2015, só alunos do 3º, 6º e 9º participaram.
OUTRO LADO
A secretaria de Educação da gestão Alckmin (PSDB) afirma que, desde 2015, os processos de recuperação escolar passaram a ter foco em atividades on-line. Não houve, segundo a pasta, "descontinuidade" nas atividades.
O governo diz que um site de recuperação, chamado Aventuras do Currículo+, recebeu acesso de 104 mil alunos da rede no ano passado.
"Não há descontinuidade no sistema de recuperação das escolas estaduais. Ao contrário, a secretaria criou novas modalidades de reforço e também implementou ferramentas estratégicas de gestão pedagógica", afirma.
Com a plataforma, as atividades de reforço de português e matemática são feitas no computador, na escola ou em casa. Ela funciona como um jogo virtual, onde os exercícios são como missões.
Segundo o governo, 2,4 mil escolas indicaram alunos para estudar pela plataforma.
A pasta ainda argumenta que a melhora nos resultados do Idesp, o indicador de qualidade da rede paulista, é resultado dessa política.
O Idesp apresentou alta em 2015 nas três etapas (anos iniciais e finais do ensino fundamental e no médio). Entretanto, mesmo com o crescimento no Idesp, esses indicadores ainda estão em níveis distantes do ideal.
O percentual de alunos com desempenho "baixo" e "abaixo do básico" em português e em matemática na avaliação da rede, o Saresp, é também elevado.
Para a professora Eloiza Oliveira, da Faculdade de Educação da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), o uso da tecnologia tem grande potencial em atividades de reforço. Mas a docente faz uma ressalva.
"Essas atividades são complementares, deve haver diálogo entre o presencial e o virtual", afirma Eloiza.
Quando a modalidade virtual foi lançada pelo governo de São Paulo, em 2015, a secretaria estadual disse garantir que não haveria substituição dos modelos vigentes –as recuperações contínua, intensiva e no contraturno.
A pasta não explicou quais critérios são usados para que alunos com dificuldades sejam encaminhados à plataforma on-line ou para os modelos de reforço presencial.
O governo Alckmin também ressalta a implementação de ferramentas de acompanhamento dos alunos.
Entre os citados, estão uma plataforma que oferece para as escolas informações sobre as avaliações externas e a avaliação de aprendizagem, que passou a ser bimestral em 2016 para toda a rede. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário