Para os jovens das periferias, a cultura do hip hop – e especialmente o grupo Racionais MC"s – deu voz aos seus espaços e modos de vida. Por meio da cultura, os estudantes viram a possibilidade de reconhecimento e de serem sujeitos protagonistas da suas histórias. Assim, eles se afirmaram e se expressaram por meio de raps, das diferentes coreografias, dos grafites, do funk e dos saraus de literatura. Ser periférico deixou de ter um caráter negativo e tornou-se, com o apoio dos grupos de cultura, uma forma de resistência à exclusão e segregação normalmente impostas a eles. Neste contexto, o território adquire uma importância fundamental na representação dessas juventudes, que denunciam os preconceitos intensos que a periferia sofre.
Voltar o olhar para as periferias é descobrir a potência, a criatividade e a mobilização existentes nesses espaços. Coletivos culturais, teatros de rua, grupos de música, campeonatos esportivos e saraus são alguns exemplos da energia irradiadora de projetos e ações ali produzidos.
É nesse contexto que as escolas de todos os territórios devem ser capazes de ouvir, acolher e debater todas essas questões dentro das salas de aula. Os jovens no Brasil e em todo mundo têm se rebelado de diferentes maneiras para serem ouvidos, serem levados em conta, serem protagonistas, autores. Muitas vezes a internet funciona como um instrumento valioso para a expressão de opiniões, de manifestações artísticas e de articulação entre diferentes grupos. Mas cabe à escola fazer uma conexão entre os saberes escolares com os temas contemporâneos.
É preciso ouvir os jovens e, ao mesmo tempo, ampliar o seu repertório de conhecimento para que essa participação política e cultural seja mais qualificada. A palavra é um objeto essencial nas escolas, não apenas na forma da escrita, mas na expressão de múltiplas falas. São vários os professores que se arriscam em projetos que buscam esse diálogo. Exemplos são iniciativas que fazem o uso de novas ferramentas digitais, como aplicativos, para que os jovens possam acessar informações, participar das questões da cidade ou do país. Blogs de literatura também fazem parte dessa autoria jovem que quer se expressar e compartilhar seus escritos.
A violência nos territórios tem ocupado um espaço cada vez maior, e muitas vezes acaba deixando a escola imobilizada e enfraquecida. Uma forma de enfrentar esse problema e buscar saídas com a comunidade é trazer a cultura e as questões intrínsecas a ela para dentro da escola. Quando passamos a ouvir as identidades, as questões sobre gênero, preconceitos, raça e orientação sexual, aproximamos as famílias da escola e criamos novos laços e um sentimento de pertencimento. Trabalhar a diversidade cultural é buscar dialogar com o mundo de hoje e construir pontes entre os diferentes.
As secretarias de educação precisam olhar para esses pontos, que já brilham em algumas escolas, e buscar desenhar políticas que deem condições para que todas as instituições de ensino possam atuar de forma mais conectada com o mundo jovem e com as demandas do século 21. Para isso, é essencial que se dê prioridade à formação de professores – tanto na capacitação inicial como na formação continuada, nas universidades e em serviço, dentro das escolas.
Os professores e educadores precisam estar capacitados para colocar esses temas em debate e fazer as possíveis articulações com os demais saberes. Não podemos exigir que as escolas assumam exclusivamente responsabilidades sobre questões que a própria sociedade não consegue resolver, como a violência. Mas podemos demandar que elas se abram e debatam esses temas de forma clara, envolvendo diferentes perspectivas. A escola continua sendo a referência mais importante nas comunidades, tanto para as crianças e jovens como para os pais. É preciso então que ela tenha as condições para assumir este papel.
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