21/12/2015 06:00
Depois dos professores, nada dentro no ambiente escolar é tão importante quanto o diretor para explicar os resultados dos alunos. Essa tese é comprovada por estudos acadêmicos, mas nem precisaria. Quem conhece o ambiente escolar sabe o quanto um bom diretor pode fazer a diferença. Acontece que há muita pesquisa sobre esse tema no mundo, mas pouca no Brasil. Um estudo inédito, feito sob encomenda do Sesi do Rio de Janeiro pelas universidades de Nottingham (Reino Unido) e pela UFF ajuda a preencher parte dessa lacuna. O levantamento foi realizado em 2014 com 744 diretores de escolas de ensino médio na rede estadual do Rio e investigou quais práticas estavam associadas a melhores resultados no Iderj (Índice de Desenvolvimento da Educação do Rio de Janeiro).
Um grupo de escolas foi analisado separadamente, por terem sido classificadas como mais efetivas, seja por terem mantidos indicadores relativamente melhores ou por terem avançado mais entre 2011 e 2013. Nesse grupo, identificou-se que os diretores eram mais propensos a ter uma expectativa maior em relação ao desempenho dos alunos, eram menos centralizadores, compartilhando sua liderança com outros profissionais, e incentivam a equipe a utilizar dados de avaliações externas em seu planejamento. Eles também estabeleciam políticas claras sobre deveres de casa e práticas para reduzir o absenteísmo dos professores.
Foi feita também uma análise específica em sete de 112 escolas que têm, em sua maioria, alunos beneficiários do bolsa família. Esses colégios, apesar do contexto mais desafiador, também estavam entre os mais efetivos. Entre as características encontradas pela pesquisa nesse grupo específico estavam o maior envolvimento da comunidade nos esforços de melhoria da escola, preocupação em aprimorar procedimentos internos de avaliação, além do estabelecimento de metas e uso de avaliações externas para monitorar o desenvolvimento dos estudantes.
Analisando a percepção de todos os diretores sobre suas práticas, o estudo confirma um problema já detectado em outras pesquisas: a maior dificuldade desses profissionais no Brasil em trabalhar diretamente com os professores na observação de suas atividades de sala de aula, com o objetivo de aconselhar, orientar e compartilhar melhores práticas dentro da escola. Também foi identificada maior dificuldade para trabalhar de forma colaborativa com outros colégios e para envolver pais e comunidade.
O estudo encomendado pelo Sesi obviamente não esgota o assunto. Ainda há muito a investigar para entender, no contexto brasileiro, como alguns diretores conseguem, na prática, melhorar o clima escolar e a aprendizagem de seus alunos.
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Um outro dado da pesquisa que merece atenção: no grupo de colégios onde menos de um quinto dos jovens recebe bolsa família, 68% dos estabelecimentos avançaram no Iderj de 2011 a 2013. Nas escolas onde o percentual de beneficiados variava entre 31% e 50%, a proporção dos que melhoraram foi de 55%. É positivo constatar que a maioria das escolas, no geral, melhorou, mas, para um país com taxas ainda tão altas de desigualdade, o ideal seria que essa evolução tivesse sido mais intensa nos colégios que atendem os mais pobres, e não o contrário.
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