SÃO PAULO - Nas escolas públicas administradas pela Polícia Militar, que estão virando moda no país, os alunos devem estar sempre fardados e precisam bater continência para militares, professores, a bandeira, o hino nacional... Cabelos cortados fora do padrão militar constituem falta média, assim como unhas. Namorar de uniforme é infração grave. E por aí vai.
Para mim, esse é um cenário de pesadelo, mas como, ao contrário de pessoas muito à esquerda ou à direita no espectro ideológico, não penso que minhas preferências pessoais sejam universalizáveis, não chego a defender a extinção dos colégios militares. Quem aprecia as vantagens de uma disciplina mais rígida e não se incomoda com as caretices que vêm no pacote deve ser livre para matricular-se em instituições marciais.
Penso, porém, que transferir o controle de escolas públicas para a Polícia Militar, como vêm fazendo alguns Estados brasileiros, encabeçados por Goiás, constitui uma violação à ordem republicana. O ponto central é que, quando a secretaria de educação "militariza" um colégio, ficamos com uma instituição civil a menos. O sujeito que estudava ali e não se identifica muito com os ideais castrenses perdeu sua escola.
Para agravar mais o quadro, a passagem conspurca o princípio da gratuidade do ensino público, já que os estudantes precisam arcar com o custo dos uniformes e, em alguns casos, os novos administradores pedem uma contribuição mensal não obrigatória, mas, ainda assim, constrangedora para quem não pode pagar.
Podem me chamar de antiquado, mas acho que a escola básica pública deve ser civil, laica, gratuita e tão neutra quanto possível em relação a ideologias e visões de mundo. Se não for assim, por que limitar a terceirização à PM? Os Estados deveriam organizar licitações para passar o controle de colégios a instituições religiosas, partidos políticos, sindicatos, grupos de hippies etc.
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