7 de outubro de 2015

Avaliação inédita mostra que Mais Educação não impactou notas de estudantes


06 de outubro de 2015
Em Porto Alegre, resultados foram positivos em razão da articulação do projeto com outras iniciativas

Fonte: Zero Hora (RS)



Não houve impacto – a curto prazo – do programa Mais Educação nas notas dos estudantes de instituições que participaram da iniciativa, revelou uma avaliação inédita divulgada nesta segunda-feira durante o 12º Seminário Itaú Internacional de Avaliação Econômica de Projetos Sociais, em São Paulo.
No evento, propostas e modelos de educação integral foram discutidos por especialistas nacionais e internacionais. O programa Mais Educação é uma iniciativa do governo federal que amplia a jornada escolar com foco para a Educação Integral.
O levantamento, realizado pela Fundação Itaú Social e pelo Banco Mundial, comparou o desempenho dos alunos em língua portuguesa e matemática na Prova Brasil e também as taxas de abandono escolar entre 2,7 mil escolas que aderiram ao programa e instituições que não eram integrantes do Mais Educação, mas com características semelhantes, como número de alunos e notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

— Notamos que, naquelas que aderiram ao programa, não ocorreram os efeitos positivos esperados e, no caso de matemática, houve até diminuição das notas a curto prazo — revelou Naercio Menezes Filho, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa da USP que apresentou os dados no evento.
Para tentar compreender o resultado da avaliação, realizada entre 2008 e 2011, os pesquisadores também fizeram estudos de seis casos: quatro redes municipais, uma estadual e no Distrito Federal. O olhar mais qualitativo da falta de efeito nas notas em colégios com educação integral, que é conceituada pela ampliação de tempo, espaço e conteúdo na instituição, detectou uma dificuldade por parte das direções de se alinharem com o programa a pouco prazo.
– A escola precisa redimensionar suas ações em um curto espaço de tempo e isso acaba gerando desorganização. Há uma fase de alinhamento com o Mais Educação que é gradual. Por outro lado, as secretarias de educação precisam direcionar o seu papel para potencializar resultados positivos do programa – ressaltou Karen Dias Mendes, gestora da área de avaliação da Fundação Itaú Social que participou da pesquisa.
Porto Alegre foi uma das redes analisadas e notou-se que, na capital gaúcha, existe a articulação das ações do Mais Educação com outras iniciativas da cidade que melhoram resultados.

Outro ponto sugerido pela pesquisa para elevar os índices da iniciativa do governo federal é ampliar a forma de apoio às instituições participantes. Existe a preocupação em garantir recursos, como material didático, e ampliar o tempo no colégio, mas pouco se considera o apoio pedagógico.
– Não adianta só aumentar o tempo de aula para repetir o que foi feito no período normal ou criar atividades desfocadas da realidade da escola. Existe um caminho enorme de aprimoramento do programa – disse Karen.
A avaliação de impacto considerou apenas as notas em língua portuguesa, matemática e taxas de abandono escolar porque não são disponibilizados, por parte do governo, dados sobre outros aspectos considerados para a implementação do Mais Educação.
Entre eles estão redução do trabalho infantil, da violência contra crianças e adolescentes e desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
– Isso daria uma visão bem mais ampla desse impacto – lamentou Karen.
O conceito
O termo Educação em Tempo Integral ou Escola de Tempo Integral diz respeito àqueles colégios e secretarias de educação que ampliaram a jornada de seus estudantes, trazendo ou não novas disciplinas para o currículo escolar. A maioria das unidades de ensino que adotam esse modelo geralmente implementam a extensão do tempo em turno e contraturno escolar. Ou seja, durante metade de um dia letivo, os alunos estudam as disciplinas do currículo básico, como português e matemática, e o outro período é utilizado para artes ou esporte.
Na perspectiva da educação integral, o conceito de tempo integral suscita várias discussões, uma vez que há algumas correntes dos movimentos sociais ligados à educação que defendem que apenas a ampliação do tempo de estudo não garante o resultado ambicionado pela educação integral no ensino e na aprendizagem dos estudantes – resultado este que deseja garantir o pleno desenvolvimento deles.
Fonte: Centro de Referências em Educação Integral
COMO É A ADESÃO
- As atividades de educação integral, por enquanto, são optativas e envolvem 10 macrocampos: acompanhamento pedagógico, educação ambiental, esporte e lazer, direitos humanos em educação, cultura e artes, cultura digital, promoção da saúde, comunicação e uso de mídias, investigação no campo das ciências da natureza e educação econômica.
- A escola precisa cumprir alguns pré-requisitos para participar do programa Mais Educação, como ter Ideb baixo, estar em uma região de maior vulnerabilidade social, como regiões metropolitanas, e ter um número mínimo de alunos na instituição.
- A escola também deve escolher no mínimo três e no máximo seis macrocampos para desenvolver atividades. O de acompanhamento pedagógico é obrigatório.
- A educação integral que o programa propõe é por adesão voluntária dos alunos, ou seja, não são todos os estudantes que participam.
- As atividades tiveram início em 2008, com a participação de 1.380 escolas, em 55 municípios nos 26 estados e no Distrito Federal, atendendo 386 mil estudantes do país.
- Em 2009, houve a ampliação para 5 mil escolas, 126 municípios, de todos os Estados e no Distrito Federal.
- O programa foi implementado em 389 municípios em 2010, atendendo cerca de 10 mil escolas e beneficiando 2,3 milhões. Neste ano, cerca de 60 mil escolas aderiram ao programa.
- Pelo Plano Nacional de Educação, a meta do governo federal é oferecer educação integral em 50% das escolas públicas de educação básica até 2020.
- Isso não significa apenas ampliar o tempo do aluno na escola, mas colocar a educação além da instrução acadêmica, reforçando atividades de cidadania, de desenvolvimento socioemocional, entre outros.

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