7 de outubro de 2015

Só 5% das escolas públicas têm infraestrutura adequada. Variável, porém, não é a única a explicar resultados de aprendizagem

COLUNA DE 7 DE OUTUBRO


POR ANTÔNIO GOIS
Na semana passada, o movimento Todos Pela Educação divulgou levantamento mostrando que apenas 5% das escolas públicas de ensino fundamental do país possuíam em 2014 infraestrutura adequada. No ensino médio, a proporção era só um pouco melhor: 23% dos colégios com condições adequadas. Um agravante nessas estatísticas é que, desde 2009, elas têm variado muito pouco. Considerando que o país atravessa uma crise financeira e que os cortes orçamentários não pouparam nem a educação, é bem provável que, ao menos no curto prazo, haverá pouca mudança nesses dados.
Para definir o que seria infraestrutura adequada, o Todos trabalhou com o que estava previsto no Plano Nacional de Educação: água tratada; saneamento básico; energia elétrica; acesso à internet com banda larga de alta velocidade; acessibilidade à pessoa com deficiência; biblioteca; espaços para prática esportiva; acesso a bens culturais e laboratórios de ciências. Este não foi o primeiro estudo a identificar o problema. Há dois anos, os pesquisadores Joaquim Soares Neto, Girlene de Jesus, Camila Karino e Dalton de Andrade já haviam constatado, utilizando outros critérios, que apenas 15,5% das escolas públicas do país tinham infraestrutura adequada ou avançada.
A infraestrutura da escola é uma variável nada desprezível para explicar o aprendizado dos alunos. Num estudo financiado pelo BNDES, os pesquisadores Tufi Machado Soares (UFJF) e Amaury Gremaud (USP) compararam características de dois grupos de escolas. Um deles era
formado por estabelecimentos chamados de alto valor agregado, porque seus alunos apresentavam resultados de aprendizagem muito superiores ao que se esperaria considerando a condição socioeconômica das crianças. O outro era composto pelo perfil inverso: colégios com desempenho acadêmico muito inferior ao que se poderia prever de acordo com o perfil dos estudantes.
Soares e Gremaud constataram que as melhores escolas eram as que possuíam recursos mínimos necessários de infraestrutura. Mas eles também identificaram que nem todo tipo de equipamento faz diferença. O investimento em tecnologia, por exemplo, não estava surtindo o efeito esperado por uma razão óbvia, ainda que constantemente esquecida nas decisões públicas sobre melhor alocação dos recursos educacionais: boa parte das escolas ainda não está preparada para receber esse tipo de investimento, “seja pelas suas instalações deficientes, seja pelo grau de preparo de seus professores para lidar com elas”.
A infraestrutura não é, obviamente, a única variável a explicar o sucesso ou fracasso escolar. Soares e Gremaud também identificaram que algumas atitudes dos professores estavam altamente correlacionadas com o aprendizado dos alunos. Nas piores escolas do grupo analisado, os docentes atribuíam o baixo desempenho dos alunos muito mais a causas externas, como a falta de recursos, salários, baixo nível cultural dos pais e falta de esforço dos alunos. Em outras palavras, eles se sentiam menos responsáveis pelos resultados apresentados pelos estudantes. Esses mesmos professores nesses estabelecimentos de pior desempenho apresentavam também índice de faltas ao trabalho muito maior do que nas escolas com melhores resultados.
Dotar todas as escolas de uma infraestrutura básica para seu funcionamento adequado não é um capricho, mas uma necessidade fundamental. Mas isso apenas não basta. Sem professores valorizados, preparados e comprometidos, qualquer investimento na educação será, sempre, subaproveitado.

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