11 de agosto de 2017

Educação desfocada


Apu Gomes - 19.ago.2011/Folhapress
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 19-08-2011, 07h00: Alunos durante aula de Português, na Escola Estadual Washington Alves Natel, no Parque Residencial Cocáia, em São Paulo (SP). Escolas Estaduais de São Paulo possuem mais alunos em sala de aula que o recomendado MEC. (Foto: Apu Gomes/Folhapress, Cotidiano)
Sala de aula em escola pública de São Paulo
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Já se criticou aqui o Plano Nacional de Educação (PNE) por esparramar-se em 254 estratégias —poucas delas quantitativas, a permitir um acompanhamento objetivo. Mesmo estas, contudo, traçam um panorama desnorteado.
Os exemplos começam pela primeira meta, que era universalizar até o ano passado o acesso à educação infantil para crianças de 4 e 5 anos. O último dado disponível é de 2015: 90,5% de cobertura.
Parece pouco provável que 9,5% —meio milhão de crianças— tenham conseguido vagas em 2016. Meta descumprida, portanto.
Também se previa universalizar em 2016 a presença de jovens de 15 a 17 anos no sistema escolar, mesmo que em série inadequada para a faixa etária. Em 2015, a proporção estava em 84%. Vale dizer, ainda havia 1,5 milhão fora da escola.
Apenas seis de 30 itens do plano que deveriam ser cumpridos até 2017 foram efetivados, e alguns deles só parcialmente, avalia o Observatório do PNE (grupo de 24 organizações coordenadas pelo Movimento Todos pela Educação).
Além de destacar a falta de priorização e integração entres objetivos, o Observatório aponta como preocupante o escasso avanço no quesito da desigualdade.
Tome-se, por exemplo, o objetivo de chegar a 2024 com 50% das crianças até 3 anos matriculadas em creches. Quando se consideram só os 25% mais ricos da população, ele já foi alcançado: 52% dos meninos e meninas dessa idade têm vagas. No quartil dos domicílios mais pobres, entretanto, esse índice é de meros 22%.
A mesma disparidade se vê no outro extremo da educação básica, o ensino médio. Em 2015, menos de 63% dos jovens de 15 a 17 anos se encontravam nesse nível, mas a diferença na taxa de atendimento entre os mais ricos e os mais pobres era de 14 pontos percentuais.
O PNE pouco orienta sobre como focalizar o esforço pedagógico nos estratos desfavorecidos —que frequentam as piores escolas, em meio a uma qualidade média de ensino já indigente no país.
Ao contrário, o plano privilegia metas corporativistas e inexequíveis, como alcançar o investimento de 10% do PIB em educação.
Para enveredar num rumo virtuoso, a educação nacional precisa de providências mais básicas, como garantir ênfase a português e matemática na base curricular nacional, dar autonomia a professores e diretores e facilitar a demissão dos piores, além de fechar as escolas ruins ou entregá-las para a gestão de organizações sociais.

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