21 de agosto de 2017

Reformas educacionais no país esquecem o principal, o professor


fábio takahashi
É coordenador do Núcleo de Inteligência da Folha e vice-presidente da Associação de Jornalistas de Educação.


Cingapura e Finlândia eram pobres até meados do século passado. A melhoria da educação básica foi vista em ambos lugares como base para tornar suas sociedades mais produtivas e criativas. Hoje são nações desenvolvidas.
O caminho para impulsionar o ensino teve variações. Os escandinavos optaram por salas de aula e jornada escolar pequenas. Os asiáticos foram para turmas e jornadas maiores
.
Apesar das diferenças, há políticas em comum. A busca por melhores professores é a fundamental, mostra Linda Darling-Hammond, professora emérita da Universidade Stanford, no livro recém-publicado "Empowered Educators" (Educadores Empoderados).
Ela liderou grupo de pesquisadores que analisou redes educacionais de ponta (consideraram também províncias da Austrália, Canadá e China). Encontraram nesses sistemas dura seleção para quem poderá atuar como professor.
Em Cingapura, apenas quem está entre os 30% melhores alunos do ensino médio entra em cursos que formam docentes. Na Finlândia, também ingressam apenas os melhores alunos nos cursos para o magistério, que duram cinco anos, com teoria, prática e pesquisa.
Esse rigor, aliado a salários que ao menos se equiparam ao restante da população com diploma universitário, dá status aos professores. E atrai para escolas algumas das pessoas mais bem preparadas da sociedade.
Por aqui, virtualmente não há seleção para quem quer ser docente. Há abundância de vagas, pois são cursos de baixo custo para faculdades privadas.
Como o magistério não têm grande apelo para jovens com bom desempenho, são alunos abaixo da média no Enem que tendem a aproveitar a oferta na pedagogia e licenciatura.
Nos últimos anos, houve avanços pontuais. A licenciatura passou de três para quatro anos. Em 2008 foi aprovado piso salarial para professores.
As alterações, porém, não fazem parte de projeto sistêmico e foram incompletas. Pouco se discutiu a qualidade dos cursos. E metade dos Estados e municípios não paga o piso de R$ 2.298.
A prioridade na educação hoje é construir bons currículos para alunos do infantil ao médio. O esforço começou durante a gestão Dilma, e agora o governo Temer corre para deixar como sua marca.
Ainda que os guias fiquem bem formatados, eles serão aplicados pelos mesmos professores cujo recrutamento foi falho e que raramente recebem bom treinamento em serviço.
Nos anos 1990, o país também colocou as fichas na melhoria de currículos, com diretrizes do que alunos deveriam aprender (atualmente se busca detalhamento maior).
À época, 12% dos jovens se formavam com conhecimento adequado em matemática. Hoje, o nível caiu para 7%. 

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