Bruno Santos - 12.fev.2017/Folhapress | ||
Obra parada do Centro de Convenções da USP |
Instituição de referência em saúde pública na zona oeste da capital, cuidará agora apenas dos casos pediátricos emergenciais anteriormente encaminhados por postos de atendimento. Para agravar o quadro, alunos de medicina da USP entraram em greve, pela primeira vez desde os anos 1970.
A carência de verbas impede contratações para cobrir as vagas de quem se aposenta. Tanto ensino quanto pesquisa e serviços sofrem com a falta de pessoal. Tal panorama não se alterará pelo menos até o final de 2018.
Pelo quinto exercício seguido, a USP deverá ter deficit em seu orçamento no ano que vem. Segundo projeções em debate no seu Conselho Universitário, faltarão quase R$ 288 milhões para fechar as contas, valor que a reitoria terá de retirar de sua reserva financeira.
Tal fundo, que deveria custear investimentos, já teve saldo de R$ 3 bilhões. Com o novo saque, o montante deve se aproximar de zero.
A principal fonte de financiamento da USP, da Unicamp e da Unesp são repasses de 9,57% da arrecadação do ICMS —estimados em cerca de R$ 10 bilhões em 2018.
Não só a USP passa por um sufoco orçamentário. A queda no recolhimento tributário, fruto da crise econômica que assola o país, aliada a um histórico de administrações imprudentes, deixou as universidades paulistas na penúria.
Em entrevista à Folha, o reitor da Unesp, Sandro Roberto Valentini, informou que sua gestão precisa de no mínimo R$ 170 milhões do governo estadual para pagar o 13º salário de 12.703 servidores.
O peso da folha salarial, de resto, há muito torna insustentável a situação das universidades. Nenhuma organização pode gozar de saúde financeira comprometendo cerca de 100% do orçamento com desembolsos de proventos.
A USP vem realizando um esforço de austeridade, com o qual já se comprometeu seu reitor recém-nomeado, Vahan Agopyan. O estamento universitário precisa, porém, reagir de modo mais corajoso à falta atual de perspectivas.
Não bastam programas de demissões voluntárias e suspensão de contratações. Isso é só o óbvio.
Há que ir mais longe e liderar um debate sério sobre fontes alternativas de receita. Por exemplo, cobrar mensalidades de quem possa pagar —um tema que muitos na comunidade ainda consideram tabu.
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