06 de janeiro de 2016
Estudo do Ipea mostra que a universalização do Ensino Médio para pessoas com mais de 15 anos de idade diminuiria em 42,3% o número de assassinatos no país
Fonte: Correio Braziliense (DF)
O primeiro passo para superar a dura realidade enfrentada pelas jovens é investir em Educação, diz Daniel Cerqueira, diretor de Estudos e Políticas de Estado do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea). “A Educação funciona como um escudo contra os homicídios. É muito mais caro manter um jovem no sistema prisional do que na Escola. Pessoas com baixo grau de Escolaridade são mais expostas à violência, o que gera um custo enorme à sociedade”, afirma. Para ele, um Ensino de qualidade é um investimento que beneficia a produtividade das pessoas e do país.Jovens sem acesso à Educação ficam à margem da sociedade. E para serem vistos como iguais passam a desejar bens de consumo que não podem ter. Com menos oportunidades de emprego e consequente restrição de renda, passam a buscar recursos no tráfico de drogas ou em roubos.
“Essas são as principais pontes entre os jovens com baixa Escolaridade e a criminalidade. Os excluídos têm os elos de pertencimento com a sociedade muito frágeis, e ficam isolados do sistema. Por não se encaixarem, podem acabar sendo atraídos para o crime”, explica a diretora da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, Marlova Noleto.
Essa realidade poderia ser mudada se houvesse engajamento das autoridades. Estudo do Ipea mostra que a universalização do Ensino médio para pessoas com mais de 15 anos de idade diminuiria em 42,3% o número de homicídios no país. “Quando um jovem entra na Escola, fica menos vulnerável ao apelo de bandidos, por receber mais fortemente os valores civilizatórios de cidadania. Quem não teve acesso à Educação, além de alheio a tais ensinamentos e ao convívio social, fica à mercê de pessoas de fora da Escola e se torna presa fácil para a violência”, ressalta Marlova.
Sistema falido
Mas os problemas vão além dos portões das Escolas, reconhece Cerqueira, do Ipea. Na opinião dele, um agravante para os casos de violência juvenil está no fato de o sistema de justiça criminal não funcionar. “Polícia, Ministério Público, toda a parte criminal está falida”, enfatiza. Para ele, é essencial que o sistema passe por reformas. “O que temos hoje é uma polícia que age a qualquer custo, que é orientada por uma ótica belicista, militar e nociva à sociedade”, emenda.
Mas os problemas vão além dos portões das Escolas, reconhece Cerqueira, do Ipea. Na opinião dele, um agravante para os casos de violência juvenil está no fato de o sistema de justiça criminal não funcionar. “Polícia, Ministério Público, toda a parte criminal está falida”, enfatiza. Para ele, é essencial que o sistema passe por reformas. “O que temos hoje é uma polícia que age a qualquer custo, que é orientada por uma ótica belicista, militar e nociva à sociedade”, emenda.
A diarista Luciane de Carvalho, 43 anos, conhece muito bem tais deficiências. Em 2 de janeiro de 2013, foi a última vez que ela se despediu do filho, Rafael, antes de ir trabalhar. Só foi encontrá-lo de novo no velório dele, morto com cinco tiros espalhados pelo corpo. Ele mal tinha completado 18 anos. “Meu filho foi assassinado por um policial, porque entrou em uma casa, que já estava arrombada, para pegar bebidas”, conta. Segundo testemunhas, os policiais chegaram ao local decididos a pôr fim à vida dos cinco jovens desarmados ali presentes. “Eles diziam que era dia 2, portanto queriam matar duas pessoas”, relata a mãe. O melhor amigo de Rafael enfartou com as ameaças dos policiais e morreu aos 21 anos.
Para Cerqueira, a polícia deveria ser defensora da cidadania e dos direitos das pessoas, mas acabou se tornando algoz da juventude. “A polícia tem de agir em conjunto com a sociedade. Quando há um abismo, de autoridades matando pessoas, não há confiança recíproca e não se resolve o problema, só reforça um sistema falido”, afirma o pesquisador do Ipea. (AA)
Peso do racismo
As principais vítimas de violência são os jovens negros, com idade entre 12 e 29 anos, segundo dados do relatório Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial de 2014. No Brasil, as chances de um jovem negro ser assassinado são duas vezes e meia mais altas que as de uma pessoa branca da mesma idade. Em alguns estados, como é o caso da Paraíba, a proporção chega a 13 vezes. Em 2013, o número de negros assassinados no Brasil foi 132% maior do que o de brancos, de acordo com pesquisa realizada pelo Ipea intitulada Vidas Perdidas e Racismo no Brasil.
As principais vítimas de violência são os jovens negros, com idade entre 12 e 29 anos, segundo dados do relatório Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial de 2014. No Brasil, as chances de um jovem negro ser assassinado são duas vezes e meia mais altas que as de uma pessoa branca da mesma idade. Em alguns estados, como é o caso da Paraíba, a proporção chega a 13 vezes. Em 2013, o número de negros assassinados no Brasil foi 132% maior do que o de brancos, de acordo com pesquisa realizada pelo Ipea intitulada Vidas Perdidas e Racismo no Brasil.
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