5 de janeiro de 2016

Um modelo de avaliação de professores sem vínculo com testes padronizados defendido por Diane Ravitch


POR ANTÔNIO GOIS
Na coluna de ontem, falei da experiência da Finlândia, país conhecido por garantir autonomia aos seus professores e sem vincular pagamentos de bônus a resultados medidos por testes. Isso não significa, porém, que a ideia de mérito e avaliação do trabalho em sala de aula seja inexistente no contexto daquele país, como argumento no texto publicado ontem. 
A ideia de que é necessário avaliar o trabalho dos professores para dar suporte a eles (e, em casos extremos, até mesmo afastá-los de sala de aula) também é aceita pela educadora norte-americana Diane Ravitch, uma das mais famosas críticas do sistema de punição e recompensas salariais aos professores baseadas em testes aplicados aos alunos.
No capítulo 28 de seu mais recente livro, “Reign of Error” (“Reino do Erro”, sem tradução no Brasil), Ravitch elogia o sistema implementado no condado americano de Montgomery (Maryland). Lá, foi criado um programa de avaliação de professores que prevê apoio extra, de professores experientes, a novos docentes ou aos que, mesmo experientes, foram avaliados negativamente pelos diretores de suas escolas. Essa avaliação, Ravitch enfatiza, não se baseia em resultados dos alunos em testes padronizados. Mas ela existe. O professional que estiver tendo dificuldades em sala de aula recebe apoio de professores considerados mentores, que os ajudam a melhorar. Como descreve Ravitch no livro, “os professores-mentores ajudam os demais a planejar suas lições, revisar trabalhos de estudantes, modelar lições e identificar estratégias de ensino baseados em pesquisas acadêmicas”.
Após esse apoio, um grupo de oito professores e oito diretores faz uma revisão da performance do professor que recebeu apoio do programa. No caso dos professores mais experientes com má avaliação, esse painel de especialistas decide se o professional terá uma nova oportunidade para melhorar no programa ou se será demitido. Mais de duzentos professores com má avaliação e que não conseguiram melhorar foram afastados de sala de aula. 
No Brasil, é comum as críticas de Diane Ravitch ao sistema de avaliação de escolas e professores baseados em testes padronizados serem lembradas quando debatemos o mesmo assunto por aqui. De fato, Ravitch tem forte oposição à ideia de que vamos melhorar escolas premiando os supostamente melhores professores e punindo os, também em tese, piores por causa do desempenho de seus alunos em testes padronizados de múltipla escolha. 
Porém, o que fica claro numa leitura mais atenta das ideias da educadora norte-americana é que ela não é contrária a qualquer tipo de avaliação (e até mesmo afastamento) de professores. Seu ponto é que essa avaliação precise ser justa e feita a partir de rigorosa observação, por profissionais experientes, do trabalho dos professores em sala de aula, considerando sempre o contexto da escola e o perfil de aluno atendido. Ela enfatiza que o modelo ideal de avaliação de professores, em sua visão, deve sempre ter como objetivo primeiro dar suporte aos que necessitam de ajuda, mas também cobrando dos governos que façam sua parte garantindo as melhores condições de trabalho possíveis. A responsabilização por maus resultados, portanto, não pode recair apenas sobre os ombros dos professores. Ela começa de cima para baixo (dos governos até a sala de aula), e não pelo contrário. Mas isso não significa que professores não possam ser avaliados e até mesmo afastados de sala de aula quando, mesmo após terem recebido apoio, continuarem tendo resultados insatisfatórios.  

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