25 de janeiro de 2016

Sem estudo e sem trabalho. Antonio Gois





Na semana passada, o Banco Mundial divulgou um relatório mostrando que um em cada cinco jovens latino-americanos de 15 a 24 anos nem estudava nem trabalhava, os chamados Nem-Nem. O estudo tem também números do Brasil. Por aqui, a proporção desse grupo não foge à média da região. Como o tema tem merecido cada vez mais atenção da opinião pública, fica a impressão de que o problema cresceu. Os dados apresentados pelo Banco Mundial, porém, confirmam o que outros pesquisadores brasileiros já mostravam: o percentual de jovens nessa situação se encontra estável desde 1992, ao redor do patamar de 20% (o trabalho analisa números até 2013, portanto antes do início da atual crise econômica brasileira, que pode afetar esse quadro).
O estudo, no entanto, chama a atenção para uma mudança na composição desses jovens, com duas tendências bem distintas. Entre mulheres, tanto no Brasil quanto no restante da América Latina, a notícia é positiva: apesar de ainda serem maioria desse grupo, tem caído a proporção das jovens de 15 a 24 anos sem estudar nem trabalhar. Isso tem acontecido principalmente porque elas têm ficado mais tempo na escola. Como a gravidez adolescente é um dos fatores mais associados à entrada de mulheres no grupo dos Nem-Nem, é provável que a redução nas taxas de fecundidade nessa faixa etária também tenha contribuído para esse movimento.
A tendência mais preocupante é verificada entre homens. Mesmo num período em que toda a região verificou crescimento econômico e redução da desigualdade, a proporção dos jovens de 15 a 24 anos sem estudar nem trabalhar cresceu. No Brasil, a variação foi de 11% para 14% de 1992 a 2013. Os autores do relatório identificaram uma tendência preocupante. Especialmente entre os homens, é maior a probabilidade de eles abandonarem cedo a escola para trabalharem no mercado informal, em atividades temporárias e sem nenhuma garantia de direitos trabalhistas. Com frequência, porém, perdem o emprego, não voltam à escola e, sem escolaridade mínima, continuarão com mínimas chances de conseguir um emprego estável.
Cabe lembrar que o Brasil vem registrando nas últimas décadas avanços significativos no acesso à escola. Isso fica claro na análise dos dados de outro levantamento divulgado na semana passada, feito pelo movimento Todos Pela Educação. A proporção de crianças sem estudar dos 4 aos 17 anos caiu de 11% para 6% entre 2005 e 2014. A melhoria foi maior entre as crianças de 4 e 5 anos, especialmente entre as mais pobres. Em 2005, nas famílias que estavam entre as 25% de menor rendimento, 35% das crianças nessa idade não estavam matriculadas. Em 2014, este percentual caiu para 14%.
Essa tendência de melhoria não começou em 2005. Desde a década passada o país já comemorava aumentos sucessivos no acesso à escola. Soubemos formular políticas públicas eficientes para garantir que quase todas as crianças tenham ao menos acesso à escola a partir dos seis anos de idade. Mas não sabemos direito ainda como fazer para mantê-las estudando e aprendendo.

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