26 de julho de 2016

Aprender a ensinar


POR ANTÔNIO GOIS
Como as nações de melhor desempenho educacional formam os professores que darão aulas no ensino fundamental? Essa pergunta motivou os autores de uma pesquisa publicada neste mês nos Estados Unidos a analisarem as políticas de formação de professores da Finlândia, do Japão, de Hong Kong e da província chinesa de Shangai. Elaborado pelo Center on International Education Benchmarking (Centro de Referências Internacionais em Educação), o trabalho mostrou que, apesar das diferenças na organização dos sistemas educacionais, há algumas caraterísticas em comum. A principal delas é a preocupação de que os professores não apenas dominem o conteúdo que vão ensinar às crianças, mas que também tenham sólida formação em como ensinar esses conteúdos específicos.
Parece óbvio, mas, segundo os autores, é uma concepção bem diferente da verificada na maioria das faculdades de educação dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, também não faltam estudos e especialistas que argumentam que os cursos de formação de professores não preparam esses profissionais para os desafios que enfrentarão em sala de aula, dando muita ênfase à teoria, e pouca à prática.
Em vários trechos, o relatório enfatiza que há uma diferença entre dominar o conteúdo que será ensinado e saber como ensiná-lo. Um exemplo destacado é o de um professor que dará aulas de ciências. É certo que esse profissional precisa ter sólido conhecimento a respeito do conceito darwiniano de seleção natural. Mas, para ensinar isso às crianças, ele precisa também saber quais exemplos funcionam melhor em sala de aula e estar já preparado para antecipar dúvidas e perguntas que os alunos provavelmente farão.
“É por isso que apenas atrair candidatos mais ‘espertos’ para o magistério não será suficiente para melhorar o aprendizado. Professores precisam não apenas dominar profundamente os conteúdos fundamentais ensinados em escolas de ensino fundamental, mas também saber como ajudar os alunos a aprender esses conteúdos”, destaca um trecho do relatório.  
Pode-se argumentar que esse tipo de conhecimento é intuitivo ou surge naturalmente com a prática docente. O relatório enfatiza, porém, que esses países de bom desempenho educacional estão permanentemente preocupados em garantir que seus professores que dão ou darão aulas no ensino fundamental aprendam as melhores práticas. E isso não acontece apenas no momento da formação. Em todas as escolas bem sucedidas, há uma cultura forte de troca de experiências e suporte ao trabalho do professor, especialmente dos novatos.
Outro ponto importante é que, em todas as quatro nações analisadas, a carreira docente é atrativa (leia-se valorização profissional e salarial). Isso permite que, no momento do vestibular ou da admissão para o trabalho, os mais preparados sejam selecionados.
Os quatro locais analisados, com maior ou menor ênfase, também incentivam que os professores que dão aulas nos primeiros anos se especializem numa área de conhecimento (matemática, ciências ou linguagem), mesmo que acabem dando aula de todas as disciplinas, como no caso da Finlândia e do Japão. A mensagem clara é a de que dar aulas para crianças no ensino fundamental requer conhecimento de um conteúdo (e sobre como ensiná-lo) tão ou mais sólido quanto o exigido de professores no ensino médio.
Por fim, o relatório traz uma recomendação que serve também ao Brasil: não basta se preocupar em melhorar a titulação dos professores. É preciso estar atento principalmente à qualidade desses cursos, para que eles possam, de fato, fazer a diferença em favor dos alunos. 

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