Ajá histórica crise da educação básica brasileira pode ser vista por diversos ângulos. Por ser assunto complexo, multifacetado, analisa-se o problema por incontáveis aspectos: investimentos do Estado mal alocados; feitos e acompanhados de forma deficiente; falhas de currículo; má gestão em geral e assim por diante. O papel do professor é estratégico, não se discute. Isso não significa culpá-lo por todas as mazelas educacionais, expressas em testes como o internacional Pisa, em que os estudantes brasileiros adolescentes costumam aparecer nos últimos lugares no ranking de proficiência.
Uma primeira barreira a ultrapassar, quando se debate o papel do professor, é a contaminação sindical do tema. Se depender dela, tudo será resolvido por meio de generosos aumentos salariais para uma categoria que é mesmo, em muitos casos, sub-remunerada. Mas, por diversas razões, a agenda sindical está longe de abranger a questão educacional. Não há uma fórmula mágica que só países desenvolvidos escandinavos e orientais dominam, para formar de maneira competente alunos do elementar ao nível superior. No Brasil, há muitos casos de sucesso em regiões improváveis, urbanas e no campo — comunidades carentes, cidades do agreste. Nesses bons exemplos, há sempre uma direção e professores dedicados, e proximidade da família do aluno. Mas o país não consegue replicar esses casos de excelência, em que são atingidas médias de países industrializados.
Seja em que medida for, é certo que há um problema de formação dos professores capaz de influenciar a qualidade do ensino. O Todos pela Educação, com base em informações do Censo Escolar de 2015, constatou que dos 766.860 professores dos últimos anos do ensino fundamental, 54,1% não têm formação na totalidade das disciplinas que ensinam.
No ensino médio, onde não se verificam os mesmos avanços do fundamental, 46,2% dos 494.824 docentes estão na mesma situação, segundo reportagem do GLOBO. Existe, ainda, o professor sem formação em qualquer disciplina que leciona: são 41% do corpo docente no fim do ensino fundamental, e 32% no médio, onde há um atraso especialmente sério na educação básica brasileira.
Existem gargalos específicos, como em Física. Relatam-se casos de graduados em Matemática ensinando a disciplina. Os mais conscienciosos procuram algum curso para compensar a falta de formação. Mas não deve ser a regra.
Especialistas alertam que o novo ensino médio, dividido em quatro áreas de interesse (Ciência da Natureza, Ciências Humanas, Matemática e Técnico), exigirá professores mais bem preparados em disciplinas específicas.
A agenda sindicalista proporá aumentos salariais generalizados para atrair especialistas de outras profissões. Não é tão simples, até devido a razões fiscais. Trata-se de haver uma política definida e factível, com avanços paulatinos e monitorados, sem se esquecer o prêmio por mérito
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