Folha de S.Paulo, 14/2/2015
SÃO PAULO - Na esteira de Yale, Harvard decidiu proibir que seus professores tenham "relações sexuais ou românticas" com alunos da graduação. Como fica o amor?
Não ignoro que universidades lidam mal com denúncias de assédio e abuso sexual. Se isso já acontece quando o episódio envolve apenas estudantes, fica ainda pior quando alguém do corpo docente está metido. Aqui, ao afã de preservar a instituição de escândalos, soma-se o tradicional espírito de corpo para produzir um manto de silêncio leniente.
Não me parece, porém, que a resposta a esse problema seja proibir ligações sexuais ou amorosas entre professores e alunos. O principal argumento é que elas podem em princípio ser perfeitamente legítimas. Nem sempre que um mestre dá em cima de uma estudante ele a está chantageando. Nem sempre que uma aluna vai para a cama com um professor ela está atrás de nota. Especialmente universidades, que deveriam ser uma espécie de templo da razão e da liberdade, não podem erguer barreiras contra o sexo consensual. E, se o sexo não era tão consensual, esse é o fato a ser apurado e que deve eventualmente gerar punições.
A ideia de amor romântico é em boa medida uma construção cultural, mas isso não impede que pessoas se sintam atraídas umas pelas outras por razões absolutamente insondáveis. Se as duas ou mais partes envolvidas estão de acordo com a relação, não cabe a instituições interferir.
Termino com uma provocação, que é o experimento mental concebido por Jonathan Haidt. Julie e Mark são irmãos. Eles estão em férias. Uma noite, sozinhos num bangalô na praia, decidem que seria legal se fizessem amor. Julie já tomava anticoncepcionais. Os dois se esbaldam na cama e curtem a experiência, mas decidem não repeti-la nem contar a ninguém sobre ela. O que eles fizeram é correto? Bem, como não há dano a ninguém, não há como racionalmente condená-los.
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