20 de novembro de 2016

O peso da educação dos pais


Pesquisa do IBGE mostrou a importância da educação dos pais no progresso dos filhos nos estudos; melhoria do ensino básico é determinante para reduzir desigualdade social de forma sólida

Pesquisa do IBGE sobre mobilidade social comprovou que quanto maior for a escolaridade dos pais, maior tende a ser o progresso dos filhos nos estudos. Por conseguinte, as chances profissionais desses jovens dependem, em grande medida, da educação de seus pais. Essas conclusões ajudam a entender por que a melhoria do ensino público básico, aquele que atende as crianças de famílias mais pobres, é determinante para reduzir a desigualdade social de forma sólida, razão pela qual é nesse estágio que deveriam se concentrar os investimentos estatais na área de educação. 
Com a precariedade do ensino público básico, os meninos que hoje desistem da escola antes de adquirir escolaridade minimamente satisfatória – quer porque não conseguem conciliar as aulas com o trabalho precoce, quer porque frequentar a escola não faz sentido nem para eles nem para suas famílias – serão, no futuro, os pais cujos filhos estarão destinados a formar a base da pirâmide social. Esse círculo vicioso precisa ser rompido, para que se pavimente o caminho do desenvolvimento sustentável nas próximas décadas e para que a mobilidade social no Brasil não continue a ser apenas uma ilusão resultante de arroubos populistas e fórmulas mágicas.
A pesquisa Suplemento de Mobilidade Sócio-ocupacional, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014, foi feita com pessoas a partir dos 25 anos e que moravam com os pais aos 15 anos. É o primeiro levantamento do IBGE a abordar de que maneira a origem sócio-ocupacional dos pais exerce influência sobre o futuro dos filhos no que diz respeito à educação e ao trabalho.
Um dos recortes mostra que 23,6% dos filhos cujos pais não foram alfabetizados até os 15 anos de idade também eram analfabetos pelo menos até aquela idade, situação que os condenou aos piores empregos. Apenas 4% dos filhos de pais naquela condição conseguiram completar o ensino superior. Já entre os filhos cujos pais completaram o ensino superior, somente 0,5% não havia se alfabetizado antes dos 15 anos, e nada menos que 69,1% completaram o nível superior.
Esse cenário se repete em relação à renda. Para os trabalhadores sem instrução básica cujos pais são igualmente analfabetos, a renda média é de R$ 717. Já para os trabalhadores sem instrução básica cujos pais atingiram o nível superior de educação, a renda média chega a R$ 2.324. Ou seja, mesmo que o trabalhador não tenha boa formação, seu salário melhorará caso seus pais tenham tido educação até os níveis mais altos. Já os trabalhadores com nível superior cujos pais são analfabetos terão uma renda média de R$ 2.603. O valor sobe para R$ 6.739 caso os pais também tenham nível superior.
Esses números mostram que a baixa escolaridade dos pais dificulta a trajetória profissional e educacional dos filhos. Entre os filhos cujos pais são analfabetos, 63,6% também não tiveram instrução ou avançaram apenas para o início do ensino fundamental. Enquanto isso, dos filhos cujos pais completaram o ensino médio, 12,4% chegaram à universidade e, destes, 41,2% conseguiram diploma de ensino superior.
Isso significa que o avanço da escolaridade dos brasileiros nas últimas décadas ainda não foi suficiente para romper a desigualdade. Mesmo que o número de crianças entre 7 e 14 anos fora da escola tenha caído de mais de 15% na década de 90 para 2% em 2014, os filhos de famílias com menos recursos continuam destinados a ter condições de vida semelhantes às dos pais.
Nada indica que a situação possa melhorar num futuro previsível, especialmente quando se observa a parte da pesquisa a respeito das crianças que precisam trabalhar – e, portanto, não conseguem avançar nos estudos. Entre os filhos cujos pais são agricultores, 59,6% começam a trabalhar antes dos 13 anos de idade, enquanto o porcentual cai para 7,5% entre os filhos cujos pais são acadêmicos, cientistas ou artistas. 
Trocando em miúdos, a origem socioeconômica, como nas antigas sociedades estamentais, tende a condenar parte dos brasileiros à condição de cidadãos de segunda classe.


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