Entre 2000 e 2010, o número de matriculados no ensino superior no Brasil teve crescimento de 102%, e a quantidade de formandos, de 135%. Os dados são do Inep (Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
O aumento é impulsionado, de um lado, pela avaliação de que um diploma se reverte em renda maior, o que leva mais gente a buscá-lo e, de outro, pelo aumento do número de instituições de ensino superior no país, em especial as privadas. Isso é apontado pela pesquisa “O impacto do ensino superior sobre o trabalho e a renda dos municípios brasileiros”, publicado em agosto de 2016 pelo Centro de Políticas Públicas do Insper.
De acordo com o trabalho, a presença de universidades tem um impacto palpável. “O crescimento do ensino superior está associado ao aumento do salário médio, da taxa de ocupação e da renda per capita” dos municípios em que ele ocorre, diz o trabalho.
O aumento de um ponto percentual de graduados entre os adultos de um município está associado, em média, ao crescimento de 0,4 pontos percentuais na taxa de ocupação, de 0,9% do salário médio e de 1,3% na renda domiciliar per capita.
O Brasil perde hoje, de acordo com o Whed (sigla em inglês para Banco de Dados Mundial sobre Universidades), apenas para os Estados Unidos em número de universidades. O mapeamento é feito pela Associação Internacional de Universidades em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
Universidades são um investimento que vale a pena?
O diagnóstico de que universidades têm impacto positivo não é novo. Elas aumentam a qualificação e a produtividade dos trabalhadores e trazem polos de inovação - como ocorre no caso do Vale do Silício.
Além disso, têm também um impacto direto sobre a quantidade de dinheiro que circula onde são implementadas. Elas trazem professores e alunos que gastam dinheiro na economia local.
Nos casos em que são financiadas por dinheiro público federal, a implementação de universidades pode ser encarada, portanto, também como a simples transferência de recursos de um local para outro. Ou seja, têm um efeito que pode ser comparado à construção de estradas ou estruturação de um hospital federal, que geram empregos e gastos, estimulando a economia local.
Os benefícios da abertura de unidades de ensino superior, porém, vai além de um desenvolvimento econômico que poderia ser trazido pelo investimento em qualquer outro setor. Publicado em agosto de 2016, o trabalho “O impacto econômico de universidades: evidências ao redor do globo” trata do assunto.
Os pesquisadores cruzaram dados disponíveis no Whed sobre 16.326 universidades de 185 países, além de sua localização, data de fundação, campos de ensino e qualificações, e os cruzou com informações sobre PIB e outros dados econômicos de países a partir de 1955.
A conclusão da pesquisa é a de que um crescimento de 10% em número de universidades leva a um aumento de 0,4% na renda do local em que isso ocorreu.
Se o desenvolvimento econômico trazido por uma universidade dissesse respeito apenas aos gastos diretos que sua estrutura e alunos trazem, então esse desenvolvimento ocorreria principalmente nos anos iniciais de sua implementação. Mas não é isso que se observa. Os efeitos são duradouros, o que leva a crer que outros fatores têm importância.
Segundo o trabalho, universidades aumentam a oferta de graduados qualificados, que melhora a produtividade das empresas locais. Além disso, impulsionam a inovação, que é medida pelos pesquisadores através do aumento dos registros locais de patentes.
“É interessante notar que os países com o maior número de universidades em 1960 tiveram em geral taxas de crescimento maior entre 1960 e 2000”, diz o estudo.
A pesquisa também afirma que, no longo prazo, as universidades estão relacionadas a pontos de vista mais favoráveis à democracia, até mesmo para cidadãos que não as frequentam.
“Universidades parecem afetar as visões sobre democracia mesmo quando isolamos o fator capital humano, o que é consistente com a teoria de que elas podem ter algum papel em moldar instituições no longo prazo”, diz o estudo.
O trabalho indica que essas instituições são um bom investimento público. E que este investimento se paga.
Segundo os cálculos dos pesquisadores, se o Reino Unido implementasse uma nova universidade em cada uma de suas dez regiões, isso aumentaria a renda nacional em 0,7%. O que significa ganhos de £ 11 bilhões (R$ 46 bilhões). Um valor bem superior aos gastos governamentais, que seriam de £ 1,61 (R$ 6,7 bilhões).
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