2 de março de 2017

Difícil prevenção




gravidez entre jovens de até 19 anos, na maioria das vezes indesejada, não constitui preocupação só no Brasil. Outros países conseguiram enfrentar o problema, que por aqui não dá sinal de queda.
Nada menos que 21,2% dos bebês nascidos no ano passado tinham mães nessa faixa etária, praticamente a mesma proporção observada uma década antes.
Estreitam-se sobremaneira as perspectivas futuras dessas moças e, por extensão, de seus filhos, 431 mil deles nascidos em 2016.
Mais de três quartos das brasileiras de até 17 anos que têm filhos estão fora da escola; 58% nem estudam nem trabalham. A maternidade adolescente, por essa via, configura um poderoso fator de perpetuação do estado de pobreza.
A educação sexual, não há dúvida, deve ser a primeira providência para que essas jovens possam fazer escolhas mais prudentes. Como, apesar dela, terminam sendo frequentes as relações desprotegidas, resta a prevenção contraceptiva.
O Sistema Único de Saúde provê vários métodos, mas alguns dependem da nem sempre confiável disciplina das adolescentes e de seus parceiros. São distribuídos a cada ano 600 milhões de preservativos e quase 20 milhões de cartelas de comprimidos anticoncepcionais.
Nos Estados Unidos, onde se conseguiu derrubar a incidência de gravidez adolescente de 10,5% do total para 5,8%, um instrumento útil foram os contraceptivos de longa duração, como implante subdérmico e dispositivo intrauterino (DIU) liberadores de hormônios.
Seu emprego para prevenir gestações indesejadas tem recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Sua vantagem está em impedir a fertilização ao longo de três a cinco anos.
No Brasil, associações de ginecologistas e obstetras propuseram ao SUS incluir os dois produtos no rol dos distribuídos gratuitamente a mulheres de 15 a 19 anos.
O pedido foi negado pelo Ministério da Saúde em 2016, sob o argumento de que faltam evidências de eficácia superior sobre os meios já oferecidos e de que haveria impacto orçamentário considerável.
Além de camisinhas masculina e feminina e pílulas, o SUS seguirá distribuindo DIU convencional, diafragma, anticoncepcional injetável mensal e trimestral e a chamada pílula do dia seguinte.
Tais opções não resultaram, até aqui, em cifras menos alarmantes. Quanto ao argumento orçamentário, cabe ponderar que 55% das gravidezes no Brasil não são planejadas e que o SUS despende R$ 4,1 bilhões anuais com atendimento hospitalar a elas relacionado.
GOLHA DE S.PAULO, 2/3/2017

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