3 de março de 2017

É possível, Cristovam Buarque


Senador pelo PPS-DF e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB)
A crise de segurança faz do Distrito Federal parte da guerra civil brasileira e nos impõe violência: assaltos, homicídios, sequestros. Enfrentar esse problema exige soluções criativas, que foram usadas no passado. No lugar de apenas aumentar o número de cadeias, é preciso policiais preparados, parceria com o comércio, polícia comunitária, educação para a segurança, iluminação de vias e um sistema de mobilidade integrando segurança-transporte.
O atual sistema de saúde, baseado na hospitalização, fracassou. É preciso retomar a visão sistêmica. Além do atendimento aos doentes, é possível reduzir o número deles, combinando: paz no trânsito, saúde em casa, checapes gratuitos, saneamento universal, promoção de alimentação saudável, incentivo à atividade físico-esportiva, educação de práticas saudáveis nas escolas. No período em que este sistema foi adotado, entre 1995-1999, os hospitais operavam com leitos e remédios disponíveis.
A economia do DF tem de ser refeita. É preciso entender que Brasília não é mais apenas o centro urbano que abriga a capital do Brasil, como foi a ideia em sua origem, com uma população limitada. Nossa cidade tem hoje exigências econômicas e necessidade de geração de emprego para sua população crescente que vãomuito além do emprego público. Além disso, o esgotamento fiscal do governo federal fará com que os recursos do Fundo Constitucional sejam cada vez menos suficientes e mais contestados pelo resto do país. Nosso futuro vai exigir integração na busca de dinamizar a economia, especialmente na produção de bens de alta tecnologia. Os próximos governos do DF devem ter a criação de emprego como um de seus principais propósitos, reunindo, para isso, um diálogo com o comércio, a indústria, as universidades, os órgãos de fiscalização ambientais e de postura.
O futuro exige uma gestão diferente da atual. O governador não pode ser apenas o gestor dos serviços públicos e de seus servidores, deve ser um líder na dinâmica da economia, no equilíbrio ecológico e na justiça social. Nesse sentido, deve ser o principal promotor de uma nova forma de gestão baseada na eficiência dos resultados, na austeridade nos gastos, na promoção da cooperação Estado-privado a serviço do público. O que deve importar é o serviço público com qualidade, independentemente da propriedade e das regras trabalhistas serem estatais ou privadas. Essa combinação deve ser a norma na busca de atender ao interesse dos alunos, dos doentes, dos passageiros. O DF pode ser uma unidade de federação no uso generalizado dos setores estatal e privado, servindo o público de forma republicana e eficiente.
A educação não pode ser tratada apenas como um dos serviços públicos do Estado. Ela deve ser vista como o motor do progresso e do bem-estar. Devemos fazer do DF a capital brasileira da educação de base. O compromisso com a universalização e a qualidade deve ser uma meta que nos permita, em poucos anos, ser a primeira unidade da federação onde a escola privada não seja escolhida por causa da má qualidade da pública, mas sim, por uma opção da família. A classe média não se sacrificaria para pagar uma escola particular que substitua o fracasso da pública.
A educação deve ir além da escola e ser vista na plena atividade cultural, dentro e fora dela; e ser um instrumento de formação para o comportamento cívico, como já demos exemplo com o respeito à faixa de pedestre, à aplicação de multas aos sujões, aos pontos de academias ao ar livre, à coleta seletiva de lixo e à parceria com as cooperativas de carroças verdes.  A educação deve ser a plataforma para crianças se prepararem para um futuro eficiente, participativo, tolerante, cosmopolita, democrático.
Para construir o futuro não bastam ações setoriais: será preciso mudar a maneira como se faz política no DF. A política priorizando o público a longo prazo, e absoluta transparência nas relações entre governo, parlamentares e população. Para tanto, será muito positivo que a escola de administradores de cidades passe por consulta à população, no lugar de permanecer o sistema atual de conchavos para manter o controle do governo ao atender interesses dos partidos e dos parlamentares.

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