Bruno Poletti - 5.nov.16/Folhapress | ||
Alunos chegam para o Enem no bairro da Aclimação, em SP |
O governo anunciou há algumas semanas que, a partir deste ano, não divulgará mais as notas médias dos alunos no Enem por escola.
As preocupações que embasam a decisão são bastante pertinentes, mas a forma radical como a medida será colocada em prática é desnecessária e talvez equivocada.
Os resultados do Enem serviram de insumo, nos últimos anos, para a elaboração de rankings que, segundo Maria Inês Fini, presidente do Inep (instituto de pesquisa ligado ao Ministério da Educação), geraram uma distorção sobre o conceito de qualidade da educação no país.
O Enem —que tem sido usado por várias faculdades como critério de seleção— é um exame que busca aferir o desempenho individual dos alunos. Mas a qualidade do ensino, afirma Maria Inês, deveria considerar diversos outros fatores, como a taxa de aprovação escolar e a competência dos professores.
As notas individuais no Enem não cumpririam esse papel porque, em muitas escolas, o percentual dos estudantes que faz o exame é baixo.
Além disso, nas palavras de Maria Inês, há escolas que "viraram um grande cursinho preparatório para o vestibular", distorção que teria sido alimentada pela publicidade criada com a divulgação dos rankings.
Todos esses argumentos têm sido usados em defesa do fim da divulgação dos resultados das escolas no exame.
Para não deixar pais, educadores e pesquisadores sem uma referência individual das instituições, a saída anunciada pelo governo foi a ampliação do escopo do Ideb. Trata-se de um índice que mede a qualidade do ensino no Brasil e é calculado com base nas notas dos alunos em outra prova (considerada menos conteudista do que o Enem) e na taxa de aprovação das escolas.
Até então, não era possível calcular o Ideb por escola no ensino médio porque a avaliação dos alunos nessa etapa da educação era feita de forma amostral.
Em 2017, ela passará a ser censitária. E, com isso, a cada dois anos —a partir de 2018— teremos o Ideb individual das escolas também no ensino médio.
A ampliação do Ideb é uma boa notícia. O aprimoramento das boas avaliações tem se mostrado um instrumento eficaz para a melhora da qualidade da educação.
O debate sobre o propósito da escola —ensinar para o vestibular, para o mercado de trabalho, para a vida ou para todos esses fins?— também é apropriado e, no caso do Brasil, urgente.
Mas, nesse sentido, a divulgação das notas médias do Enem por escola pode ajudar mais do que atrapalhar a discussão, o que tornaria seu fim abrupto um erro.
Maria Inês diz que "muitos pais foram enganados" pelas estratégias de escolas cujo foco se tornou apenas ficar bem nos rankings do Enem.
Se isso for verdade, ter as duas informações —notas no Enem e Ideb— não ajudaria a desmascarar as instituições com práticas enganosas e guiar os pais a tomar as decisões que lhes pareçam mais apropriadas?
A pressão das famílias é uma arma valiosa para a melhora da educação.
Um estudo dos pesquisadores Braz Camargo, Rafael Camelo, Sergio Firpo e Vladimir Ponczek que avaliou justamente o efeito da divulgação das notas no Enem, indica isso.
A pesquisa mostra que as escolas privadas que vão mal no Enem tendem a melhorar seu desempenho no exame dois anos após a divulgação dos resultados.
E isso não ocorre por mudança no quadro dos alunos ou por mais recursos empregados em sala de aula. Segundo os pesquisadores, tudo indica que a melhora é fruto de um maior esforço das escolas. Certamente, a pressão dos pais contribui para isso.
É importante mencionar que o estudo —que acaba de ser aceito para publicação no "Journal of Human Resources", respeitado periódico de economia— não encontra o mesmo efeito de busca por melhora após a divulgação das notas do Enem entre as escolas públicas.
Isso enseja outras discussões importantes sobre como fazer as informações sobre qualidade do ensino chegar às famílias mais carentes e que incentivos adotar para que os gestores de escolas públicas busquem adotar melhores práticas de ensino.
As preocupações que embasam a decisão são bastante pertinentes, mas a forma radical como a medida será colocada em prática é desnecessária e talvez equivocada.
Os resultados do Enem serviram de insumo, nos últimos anos, para a elaboração de rankings que, segundo Maria Inês Fini, presidente do Inep (instituto de pesquisa ligado ao Ministério da Educação), geraram uma distorção sobre o conceito de qualidade da educação no país.
O Enem —que tem sido usado por várias faculdades como critério de seleção— é um exame que busca aferir o desempenho individual dos alunos. Mas a qualidade do ensino, afirma Maria Inês, deveria considerar diversos outros fatores, como a taxa de aprovação escolar e a competência dos professores.
As notas individuais no Enem não cumpririam esse papel porque, em muitas escolas, o percentual dos estudantes que faz o exame é baixo.
Além disso, nas palavras de Maria Inês, há escolas que "viraram um grande cursinho preparatório para o vestibular", distorção que teria sido alimentada pela publicidade criada com a divulgação dos rankings.
Todos esses argumentos têm sido usados em defesa do fim da divulgação dos resultados das escolas no exame.
Para não deixar pais, educadores e pesquisadores sem uma referência individual das instituições, a saída anunciada pelo governo foi a ampliação do escopo do Ideb. Trata-se de um índice que mede a qualidade do ensino no Brasil e é calculado com base nas notas dos alunos em outra prova (considerada menos conteudista do que o Enem) e na taxa de aprovação das escolas.
Até então, não era possível calcular o Ideb por escola no ensino médio porque a avaliação dos alunos nessa etapa da educação era feita de forma amostral.
Em 2017, ela passará a ser censitária. E, com isso, a cada dois anos —a partir de 2018— teremos o Ideb individual das escolas também no ensino médio.
A ampliação do Ideb é uma boa notícia. O aprimoramento das boas avaliações tem se mostrado um instrumento eficaz para a melhora da qualidade da educação.
O debate sobre o propósito da escola —ensinar para o vestibular, para o mercado de trabalho, para a vida ou para todos esses fins?— também é apropriado e, no caso do Brasil, urgente.
Mas, nesse sentido, a divulgação das notas médias do Enem por escola pode ajudar mais do que atrapalhar a discussão, o que tornaria seu fim abrupto um erro.
Maria Inês diz que "muitos pais foram enganados" pelas estratégias de escolas cujo foco se tornou apenas ficar bem nos rankings do Enem.
Se isso for verdade, ter as duas informações —notas no Enem e Ideb— não ajudaria a desmascarar as instituições com práticas enganosas e guiar os pais a tomar as decisões que lhes pareçam mais apropriadas?
A pressão das famílias é uma arma valiosa para a melhora da educação.
Um estudo dos pesquisadores Braz Camargo, Rafael Camelo, Sergio Firpo e Vladimir Ponczek que avaliou justamente o efeito da divulgação das notas no Enem, indica isso.
A pesquisa mostra que as escolas privadas que vão mal no Enem tendem a melhorar seu desempenho no exame dois anos após a divulgação dos resultados.
E isso não ocorre por mudança no quadro dos alunos ou por mais recursos empregados em sala de aula. Segundo os pesquisadores, tudo indica que a melhora é fruto de um maior esforço das escolas. Certamente, a pressão dos pais contribui para isso.
É importante mencionar que o estudo —que acaba de ser aceito para publicação no "Journal of Human Resources", respeitado periódico de economia— não encontra o mesmo efeito de busca por melhora após a divulgação das notas do Enem entre as escolas públicas.
Isso enseja outras discussões importantes sobre como fazer as informações sobre qualidade do ensino chegar às famílias mais carentes e que incentivos adotar para que os gestores de escolas públicas busquem adotar melhores práticas de ensino.
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