6/5/2013 às 23h02
DIÁRIO DA MANHÃ
LEANDRO ARANTES
O Brasil ocupa o quarto lugar no ranking internacional de mortes violentas de crianças e adolescentes, sendo superado apenas por El Salvador, Venezuela e Trinidad e Tobago. Esses dados foram divulgados, na última semana, pelo Mapa da Violência 2012, que apresenta o retrato das mortes ocorridas no mundo nas últimas décadas. Além das mortes por homicídios, que encabeça a lista, outras causas como afogamentos e acidentes de trânsito deixam esses números ainda mais preocupantes.
O Estado de Goiás não está deslocado desta triste estatística, os noticiários estão recheados de histórias de desentendimento e mortes, onde muitas vezes as principais vítimas são crianças e adolescentes. Ainda ontem foi anunciado o falecimento da menina Kerolly Alves Lopes, de 11 anos, baleada ao tentar defender o pai durante uma briga em uma pizzaria de Aparecida de Goiânia, e no domingo, 5, outra menina, de 12 anos, morreu depois de um rapaz atirar 16 vezes contra a casa onde ela estava, no Jardim Balneário Meia Ponte.
De acordo com o levantamento da pesquisa, somente entre os anos de 2000 a 2010, no Brasil, mais de 1 milhão de crianças e adolescentes perderam a vida por causas não naturais. É o equivalente a mais de 100 mil mortes por ano. Esses números colocam o País como mais violento do que nações como Iraque, Israel e Cazaquistão.
Homicídios
No Brasil, em 2010, os homicídios foram responsáveis por 43,3% das mortes, onde 8.686 pessoas com idade entre 1 e 19 anos perderam a vida dessa maneira trágica, uma média de 13,8 assassinatos para cada 100 mil crianças e adolescentes. Em Goiás esse dado é ainda mais alarmante, visto que durante o período de 1998 até 2010 esses números mais que dobraram, crescendo 119,4%. Com esse ritmo de crescimento em 2010, a taxa do Estado, que era quase metade da nacional, passou a superá-la em 12,2%.
Para o delegado Waldir Soares o principal responsável por esse aumento é o envolvimento dos jovens no mundo do crime e a impunidade. Ele explica que crianças e adolescentes estão matando e estão morrendo, e pouca coisa é feito para evitar isso. “Não temos investimentos Estaduais ou Federais para ocupar o tempo dessas crianças, então elas partem para o mundo do crime”, explica.
Waldir também culpa os pais, que se isentam da função de educar, passando para as escolas essa obrigação. Ele fala que esse é um papel que deve ser exercido pela família e que as escolas têm a função de proporcionar conhecimento à criança, a educação tem que ser dada em casa. Segundo o delegado, a maior parte dessas crianças que estão morrendo, têm alguma relação com o crime, se não eles próprios, os pais ou algum outro parente próximo. “Quando estava trabalhando na região noroeste de Goiânia, vi muitos jovens morrendo por causa de droga”, comenta.
Outro motivo apontado pelo policial, para esse alto número de mortes nessa faixa etária em relação a 10 anos, é o surgimento do crack, que levou muitas crianças e adolescentes ao submundo. A droga fez com que esses jovens passassem a se relacionar com traficantes, aumentando o risco de morte. “O crack não existia a 10 anos atrás, e além disso, hoje, com 11 anos de idade, a criança já está tomando todo tipo de bebida alcoólica”, complementa.
trânsito
A segunda maior causa de mortes de crianças e adolescentes, com idade entre 1 e 19 anos, são os acidentes de transporte. De acordo com dados do Ministério da Justiça houve um aumento no número de óbitos de jovens em decorrência desse tipo de ocorrência. Englobam os acidentes de transporte, além de todos os acidentes de trânsitos, os de aviões e de barco.
Na última década, ouve um aumento de morte entre os extremos das idades analisadas. A mortalidade de crianças com menos de 1 ano de idade, entre os anos de 2000 e 2010, passou de 2,8 para 4,6 mortes a cada 100 mil crianças, um crescimento de 61,4%. Entre os jovens com idade acima de 18 anos, o crescimento das mortes desse período ultrapassa os 50%. As motocicletas são, ainda, os veículos que mais se envolveram em acidentes que terminaram em óbitos dos jovens no trânsito. No período, as mortes de crianças pedestres caíram 27%, as de crianças em automóvel cresceram 82,1%. Mas as mortes de crianças e adolescentes trafegando em motocicleta cresceram de forma bem mais drástica, 376,3%.
De acordo com o major Alencar, do Corpo de Bombeiros, a maior parte dos acidentes de trânsito está associada ao uso de bebidas alcoólicas e de desrespeito às normas de trânsito. Ele explica que falta disciplina, e muitos jovens, ao pegarem a direção de um automóvel, sentem prazer em lhe dar com o perigo. Quanto às crianças, os pais são os culpados, principalmente por ignorarem a necessidade do uso de cadeirinhas e desrespeitarem as leis de trânsito. “A maior parte dos acidentes ocorrem em um momento de transgressão”, avisa o major.
Afogamentos
Outra grande causa de óbitos entre crianças e jovens, nessa faixa etária, são os afogamentos. Embora os números mostrem uma redução nos óbitos, o descuido com as crianças e a ingestão de bebida alcoólica pelos jovens, ainda tira muitas vidas. Em 2010 foram 1.815 mortes por afogamento no país, com maior incidência na faixa etária de 10 a 19 anos.
O major Alencar explica que para cada fase de vida da criança, existem tipos diferentes de perigos. Quando bebê, ele pode se asfixiar com o próprio vômito, quando começa a andar, o perigo está nos baldes ou bacias de água dentro de casa, um pouco maior, as piscinas são onde há o maior risco. “No ano passado tivemos muitos casos de crianças se afogando dentro de baldes”, comenta.
Alencar fala que o adulto nunca pode se descuidar das crianças, e é preciso orientá-las desde pequena, sobre os perigos da água. Mas, de acordo com ele, tem que haver fiscalização contínua, a criança nunca pode ser deixada sozinha. “Se falhar em qualquer desses aspectos, o risco é eminente”. Já entre os jovens, conta que o perigo é novamente o consumo de bebidas alcoólicas. “A ingestão de bebida reduz a capacidade física e aumenta a coragem do indivíduo”, pontua.
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