18 de agosto de 2013

Conectadas, escolas rurais resistem no interior de SP


Em quatro anos, país perdeu 12 mil instituições fora da área urbana
Colégios no campo ganham laboratórios de informática e acesso à internet, mas mantêm classes multisseriadas
JULIANA COISSIDE RIBEIRÃO PRETO, 18.8.2013, Folha de S.Paulo

É só cruzar o portão da escola que Adriane Estefany Martins Branco, 12, acessa a internet pelo celular para checar mensagens do Facebook e notícias.
Quando quer uma tela maior, recorre ao computador da escola ou vai à casa da vizinha Gessica Almeida, 19, para usar seu laptop.
A cena poderia ser de uma adolescente de um colégio paulistano, mas Adriane está longe do asfalto --ela é aluna de uma escola municipal na zona rural de Araraquara (273 km de São Paulo).
Na contramão do êxodo rural, escolas do campo paulistas resistem ao tempo e tentam se adaptar à demanda do novo aluno da roça.
Enquanto algumas já estão conectadas com o mundo, em outras o cenário ainda é do passado: sem internet e com classes multisseriadas --em que o professor ensina duas turmas ao mesmo tempo.
Existem no Brasil atualmente 74.112 escolas do campo, segundo o Censo Escolar 2012. São 12 mil a menos do que em 2008. A redução aconteceu também em São Paulo, que perdeu 173 escolas --hoje são 1.458 no Estado.
Há hoje seis milhões de matriculados na rede rural do país, uma perda de cerca de 740 mil alunos em relação a cinco anos atrás.
CONEXÃO NA ROÇA
É preciso paciência com a conexão da internet no campo, conta Adriane.
Ela mora a poucos metros da escola Hermínio Pagotto, em uma antiga casa de colônia da década de 1940, da antiga fazenda de cana que se tornou o assentamento Bela Vista, em Araraquara.
O pai de Adriane, Adriano Martins Branco, 32, estudou na mesma escola e se impressiona com o quanto o colégio mudou desde que era criança. "Nem comida a gente tinha direito, nem quadra e computador."
Além de laboratório de informática, a escola tem ampla área verde e ganhou um viveiro de mudas.
TAQUARI
A internet deve chegar até o final do ano à escola municipal da fazenda Taquari, de Pedregulho (437 km de São Paulo), onde a professora Gislaine da Silva e Silva, 28, divide a lousa ao meio para ensinar matemática para o 2º e 3º anos ao mesmo tempo.
A maioria dos alunos é filho de colhedores de café e laranja. Duas das três professoras se deslocam todos os dias de ônibus até o local --a outra mora na fazenda.
Para Gislaine, que também leciona na zona urbana, seus alunos do campo têm mais dificuldade de aprendizado.
"Na tarefa de casa, por exemplo, os pais muitas vezes não sabem ajudar porque têm pouca escolaridade".
A avaliação de Gislaine se justifica, segundo a socióloga Cláudia Souza Passador, pesquisadora de políticas públicas e docente da USP de Ribeirão Preto.
"Alunos da zona rural do 9º ano no país têm, em geral, pior desempenho em provas de português e matemática do que os da escola urbana."
Entre as razões, segundo Passador, estão o ensino multisseriado e a alta taxa de evasão escolar.

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