30 de março de 2015

EDUCAÇÃO E MUDANÇA, Jorge Werthein

Em: PAULO FREIRE Uma biobibliografia,  Instituto Paulo Freire, 1996


* Em um de seus transcendentais estudos, Paulo Freire, no seu livro Educação e mudança, agora em sua vigésima edição, nos alimenta com uma exaustiva análise das possibilidades que detém o sistema educacional no processo de mudanças da sociedade. Freire começa seu trabalho referindo-se à responsabilidade do profissional de educação perante a sociedade em cujo contexto desenvolve suas atividades, de seu compromisso em colaborar com um processo de transformação. Rechaça a possibilidade de conceber uma posição neutra deste profissional perante a sua realidade histórica. Aceitar que é neutro é admitir que tem medo de revelar seu verdadeiro compromisso. Assinala também Freire que a educação tem como elemento fundamental, como seu sujeito, o homem que busca, por meio dela, a superação de suas imperfeições, de seu saber relativo. Aqueles que ensinam não estão se comunicando com um grupo de ignorantes, mas com homens que possuem um saber tão relativo quanto o deles. Concebia a educação como um processo permanente, no qual estamos nos educando continuamente, não é válido para Freire falar de educados e não educados, mas de graus de educação que são relativos e não absolutos. Outra categoria de análise que encontramos em seu trabalho é a do papel do trabalhador social em um processo de mudança. Este tem uma atuação destacada na desmistificação da realidade distorcida, provocando o   descobrimento da verdadeira dimensão na qual está imerso o trabalhador, o que poderá ser conseguido por meio da percepção crítica da realidade. Assim, mediante a conscientização dos indivíduos com os quais trabalha e de sua própria conscientização como produto do contato com eles, cumprirá o trabalhador social, o papel de agente de mudança. Finalmente, Freire comenta, com sua habitual lucidez, os diferentes aspectos que devem ser levados em conta no processo de alfabetização e conscientização de adultos. A base fundamental do trabalho educativo e de conscientização é o estabelecimento de uma relação íntima, dialética, com o contexto da sociedade onde se desenvolve este processo. Um trabalho educativo superposto à sociedade ou dela alienado, torna-se inoperante. Esta afirmativa de Freire é uma crítica aberta ao tão difundido como falso dilema “humanismo x tecnologia”. E ele assume a falsidade do dilema ao dizer que o desenvolvimento atual de nossa sociedade demonstra que uma educação oposta à capacidade técnica dos indivíduos é tão ineficiente como a que, na busca desenfreada da especialização, esquece sua humanização. É ainda importante ressaltar, em um momento em que o Brasil começa a aceitar a reintegração em seu seio daqueles que se afastaram por discordar dos rumos estabelecidos, que este trabalho de Paulo Freire, que praticamente coincide com seu regresso ao país, é uma contribuição importantíssima para os que estão interessados em respostas a suas inquietações de como se incorporar, no setor educacional, ao processo de mudança que o Brasil está experimentando. As contribuições oferecidas neste trabalho são muito úteis para a elaboração de propostas que enfrentem os enormes problemas encontrados tanto pela educação urbana como pela rural, em seus distintos níveis de atuação.

Jorge Werthein

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