12 de março de 2015

Três décadas até uma Educação de qualidade

12 de março de 2015
Com base nos indicadores atuais, estudo da Unicef aponta que serão necessários 30 anos para a universalização do acesso ao Ensino Médio

Fonte: Correio Braziliense (DF)



Caso as condições atuais do sistema não mudem, vai levar 30 anos para que uma Educação de qualidade no Ensino médio chegue a todos os jovens brasileiros. A constatação está em um estudo divulgado ontem pelo Fundo das Nações Unidas pela Infância (Unicef), com base em dados estatísticos e uma pesquisa com 250 adolescentes de Escolas públicas em seis cidades brasileiras. O cálculo foi feito a partir de uma média do ritmo dos avanços entre 2004 e 2014, período em que o percentual de adolescentes de 15 a 17 anos no Ensino médio aumentou de 47,5% para 59,5%.
Apesar da evolução no acesso e na permanência nesta etapa, o Ensino médio ainda é o principal desafio do país. Cerca de 1,7 milhão de adolescentes de 15 a 17 anos estão fora das salas de aula. Entre os matriculados, 2,6 milhões — o equivalente a 31,1% — não cursam o ano adequado. Como reflexo, aos 19 anos, apenas 48,7% dos jovens conseguiram concluir essa etapa. Esses dados permitem inferir que a conclusão do Ensino fundamental é um momento crítico para a questão do abandono Escolar.
Dentro da sala de aula, pesam infraestrutura precária, más condições de trabalho para os Docentes, distância entre o currículo e a vida cotidiana e a falta de diálogo entre Alunos, Professores e gestores. Para Mário Volpi, coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes da Unicef no Brasil, a reprovação deve ser evitada, uma vez que é um fator de desestímulo para o Aluno. “A Escola tem que criar uma abordagem que, quando chegar em abril e se perceber que 10 de 35 Alunos não estão conseguindo aprender, você invista nesses 10”, exemplifica. Ele destaca que é preciso acelerar o ritmo de inclusão, especialmente dos que abandonaram os estudos.
A estudante Gabrielly Gusmão de Oliveira, de 17 anos, sente que há um descompasso entre as duas realidades e que a relação com os Professores é o melhor caminho para estimular os Alunos. “É uma forma para que a gente possa se sentir bem na Escola, possa aprender, ser ouvido e também falar”, afirma. A moradora do Recanto das Emas está no 3º ano do Ensino médio e acredita que essa é uma fase determinante, de construção da identidade de dos planos para a vida adulta. Ela sempre estudou em Escolas públicas e pretende cursar psicologia em 2016.
Na visão da pedagoga Vivina Rios Balbino, da Universidade Federal do Ceará, os adolescentes no Ensino médio vivem uma fase comportamental de transição com novos papéis sociais a serem assumidos e muitos conflitos e dúvidas. “Eles precisam encontrar nas Escolas uma boa estrutura de aprendizagem, respostas para os conflitos e uma boa base de apoio para se estruturar e seguir em frente, motivados para os estudos e para os projetos futuros”, afirma.
Fatores externos
Além da realidade da sala de aula, elementos socioeconômicos compõem esse cenário. Trabalho precoce, gravidez e violência em casa ou em torno dos colégios são alguns dos problemas. Em 2011, 31,3% dos adolescentes de 15 a 17 anos eram economicamente ativos. Situações de informalidade e baixo rendimento são comuns nesse grupo, em que apenas 30,4% têm carteira assinada e 57,8% recebem menos de dois salários mínimos por mês. Indicadores de Escolarização e frequência à Escola da população de 14 a 17 anos revelam que adolescentes ocupados apresentam taxas mais baixas que os não ocupados, o que indica que o trabalho prejudica o rendimento Escolar.
Na zona rural, o atraso é mais grave. Cerca de 43% dos Alunos de Ensino médio têm idade superior à recomendada, contra 30,6% em áreas urbanas. As desigualdades também estão presentes entre etnias distintas. Enquanto 71,9% dos adolescentes brancos de 16 anos têm oito anos de Escolaridade, a taxa dos negros é de 55,6% e a dos amarelos e indígenas, é de 50,9%.
Para universalisar o Ensino, a Unicef recomenda “ampliar investimentos, melhorar o fluxo Escolar, mudar a organização e o currículo, valorizar o Professor, lidar com os adolescentes retidos no Ensino fundamental e trazer de volta para a Escola os excluídos do Ensino médio”. Vivina recomenda ainda que “as metodologias de Ensino e conteúdos estejam cada vez mais de acordo com o contexto social, as vivências e as expectativas dos adolescentes” a fim de aumentar a motivação para o estudo.

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