Comissão conclui que unidade é palco de violência sexual e moral, coação e consumo de drogas
Criado após casos de estupro, grupo propõe veto a bebidas destiladas e 'open bar' em festas no local
Violência sexual, abuso moral, coação, discriminação de gênero e orientação sexual, intolerância étnica e religiosa, consumo excessivo de drogas ilícitas e controladas. A lista dos problemas da Faculdade de Medicina da USP é extensa.
A constatação é da própria faculdade. Está apontada em relatório da comissão nomeada para avaliar a série de denúncias de violação de direitos humanos entre alunos do curso mais concorrido no vestibular da universidade.
Entre as soluções apontadas pelo documento, obtido pela Folha, estão o veto a bebidas destiladas, ao "open bar" (consumo livre após pagamento do ingresso) e à venda para quem apresentar sinais de embriaguez nas festas de recepção aos calouros.
Segundo o texto, a semana em que os novos alunos são recebidos é "uma situação preocupante" na qual há intenso consumo de álcool e situações de risco.
Os problemas na faculdade vieram à tona após audiência pública na Assembleia Legislativa em que foram descritos oito casos de violência dentro da USP, entre os quais dois de estupro em festas organizadas na universidade
Duas alunas relataram terem sido estupradas em festas promovidas por alunos da faculdade.
Segundo o relatório, entre outros itens, "a violência sexual ocorre de forma repetida" na unidade, o "abuso moral é prática constante" e "o consumo excessivo de drogas lícitas, ilícitas e de prescrição" é rotineiro.
VETO TOTAL
Formada por cerca de cem pessoas, entre professores titulares, alunos e funcionários, a comissão não chegou a um consenso sobre o veto às bebidas alcoólicas nas festas.
De acordo com o documento, todos os alunos que fizeram parte da comissão foram contrários a essa proibição.
Milton Arruda Martins, atual presidente da comissão, disse à Folha que é favorável a medidas de redução de danos. "Não adianta proibir. Alivia a barra da universidade e joga o problema para outro lugar, porque, é óbvio, as festas vão continuar."
Ele diz que o álcool expõe os jovens a situações de risco, mas é preciso separar e punir os crimes. "Ninguém vira estuprador porque bebeu."
Posição diferente tem o professor associado Arthur Guerra de Andrade, chefe do grupo de álcool e drogas da faculdade. Para ele, as medidas são "românticas" e de difícil execução. Por exemplo, o veto ao destilado. "A molecada entra com garrafa de vodca escondida. Quem vai impedir? Vão revistar todo mundo?"
O relatório com as propostas da comissão será votado na próxima quarta (26) pela congregação da faculdade.
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