Uma das mais novas escolas da Universidade de Oxford –instituição de ensino superior que está entre as melhores e mais antigas do mundo– tem um objetivo ousado: formar bons líderes no setor público de todo o mundo.
Fundada em 2010 a partir de uma doação milionária de um norte-americano, Leonard Blavatnik, a Escola de Governo de Oxford busca alunos que queiram melhorar o serviço público de seus países.
De acordo com Ngaire Woods, diretora da escola, há espaço para brasileiros. No ano passado, cinco candidatos eram daqui –com perfis que variaram de oficial de polícia a banqueiro.
A escola espera que a participação dos brasileiros aumente. Woods esteve por aqui neste mês para uma palestra no Insper, em São Paulo, e para divulgar as inscrições do processo seletivo da Blavatnik, que está com inscrições abertas para o mestrado e para o programa de "visiting fellows" [pesquisador visitante] até janeiro de 2017.
A universidade oferece até duas bolsas para brasileiros aprovados –concedidas pela Fundação Lemann. Leia a entrevista exclusiva abaixo.
Folha - Você é diretora de uma Escola de Governo Blavatinik [na Universidade de Oxford, Reino Unido]. Que tipo de perfil você espera de um estudante?
Ngaire Woods - Nós buscamos candidatos empenhados em melhorar o serviço público, que demonstrem liderança e que tenham capacidade de aprender com o meio ambiente da Universidade de Oxford e com os colegas na sala de aula. Nós criamos uma escola de governo que ajuda os países a aprender uns com os outros -e isso começa na sala de aula. No ano passado, tivemos 117 candidatos de 55 países diferentes e que tinham idades de 21 anos a 51 anos.
No Brasil, estamos diante de uma crise política e econômica. Como a nova geração de estudantes brasileiros pode contribuir para lidar com esta crise? Que tipo de conhecimento que devemos desenvolver?
As instituições democráticas modernas do Brasil são jovens. Depois de 1985, o mundo assistiu ao Brasil construir a sua democracia –com enorme admiração. E, algumas décadas mais tarde, essas instituições estão sobrevivendo, mesmo quando testadas no seu limite. Isso é importante. Muitos outros países não têm essas instituições resilientes. Os brasileiros devem se orgulhar do que construíram.
Uma coisa que a nova geração pode e deve fazer é aprender com outros países que renovaram seu governo e sua economia. O Brasil não está sozinho em sua crise, sofrendo com a desaceleração nos preços das commodities. Países de todo o mundo estão lidando (de maneiras melhores e piores) com isso.
Da mesma forma, há países experimentando uma série de reformas para lidar com a corrupção e para construir a integridade no governo. Há lições úteis para serem aprendidas e erros a serem evitados. Isso não significa que o Brasil deve cegamente aplicar prescrições criadas em outros lugares. Mas, trabalhando com colegas de outros governos e sociedades, brasileiros podem avaliar ainda mais rápido e de forma mais eficaz o que precisam fazer.
E como podemos vencer a corrupção no país?
A evidência sobre a corrupção é interessante. Funcionários públicos, empresários e políticos tendem a agir de forma corrupta, se eles acreditam que todo mundo está agindo assim. Da mesma forma, se todos acreditam que os outros não sendo corruptos, vão desistir. É preciso uma liderança muito clara e a aplicação de tolerância zero de cima para baixo. A chave é construir a integridade de todo o sistema no governo –e o Brasil tem muitos dos elementos para fazer isso com sucesso, incluindo um Poder Judiciário forte e alguns excelentes líderes.
Provavelmente a melhor proteção contra a corrupção no serviço público é ter uma burocracia meritocrática. O mais plenamente meritocrático é o serviço público, mas ele vai atrair e manter as pessoas e promovê-las de acordo com seu desempenho e sua contribuição. Isso é difícil no sistema com um grande número de compromissos políticos. No mínimo, o sistema de nomeação política precisa ser limitado por exigências meritocráticas claras.
Você é cofundadora do programa de líderes Oxford-Princeton. Como você define um bom líder?
A boa liderança é aquela que ajuda um grupo a definir seus objetivos e faz uma mobilização eficaz dos recursos para esse fim. Em resumo, uma boa liderança requer: visão altruísta (um propósito que coloca os outros em primeiro lugar), imparcialidade e equidade. Isso significa agir sem favoritismo para a família, amigos, apoiadores, mas sim agir de forma imparcial, com lealdade e franqueza. Isso exige que os líderes construam uma bússola moral clara para si –e isso é algo que esperamos que nossos alunos possam fazer.
Por que é importante ter uma experiência internacional durante a graduação ou pós-graduação?
Uma experiência internacional te mostra que o seu próprio país não é tão diferente como você pensava anteriormente. Cada país é único, mas quase todos têm desafios compartilhados.
O Brasil enviou recentemente 100 mil estudantes ao exterior, incluindo a universidades britânicas, pelo programa "Ciência sem Fronteiras". Como você vê esse tipo de iniciativa?
Estudar no exterior pode ser poderoso e útil, abre a mente para uma comunidade de estudiosos que podem se tornar parceiros ao longo da vida. A chave é garantir que a experiência traga isso.
O que muda nas universidades britânicas após o "brexit"? Os estudantes de países da União Europeia mantêm seus benefícios em termos de taxas?
Espero que sim. Os termos do novo relacionamento do Reino Unidos com a União Europeia ainda não foram estabelecidos, nem sequer foram esboçados. Portanto, nada está claro. A Escola de Governo Blavatnik, especificamente, tem alunos do mundo todo e não concede benefícios a estudantes britânicos ou europeus, como uma taxa especial ou menor do que os demais. Pretendo continuar contando com estudantes de todo o mundo.
Cargo Diretora da Escola de Governo Blavatnik, da Universidade de Oxford; antes, teve passagem pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento
Formação Economia na Universidade de Auckland (Nova Zelândia), com doutorado em relações internacionais pela Universidade de Oxford
Produção Tem vários livros publicados na área de governo e democracia; pesquisa governança, cooperação entre países e leis
Fundada em 2010 a partir de uma doação milionária de um norte-americano, Leonard Blavatnik, a Escola de Governo de Oxford busca alunos que queiram melhorar o serviço público de seus países.
De acordo com Ngaire Woods, diretora da escola, há espaço para brasileiros. No ano passado, cinco candidatos eram daqui –com perfis que variaram de oficial de polícia a banqueiro.
Leandro Arruda/Divulgação | ||
Ngaire Woods, diretora da Escola de Governo Blavatinik, da Universidade de Oxford |
A universidade oferece até duas bolsas para brasileiros aprovados –concedidas pela Fundação Lemann. Leia a entrevista exclusiva abaixo.
Folha - Você é diretora de uma Escola de Governo Blavatinik [na Universidade de Oxford, Reino Unido]. Que tipo de perfil você espera de um estudante?
Ngaire Woods - Nós buscamos candidatos empenhados em melhorar o serviço público, que demonstrem liderança e que tenham capacidade de aprender com o meio ambiente da Universidade de Oxford e com os colegas na sala de aula. Nós criamos uma escola de governo que ajuda os países a aprender uns com os outros -e isso começa na sala de aula. No ano passado, tivemos 117 candidatos de 55 países diferentes e que tinham idades de 21 anos a 51 anos.
No Brasil, estamos diante de uma crise política e econômica. Como a nova geração de estudantes brasileiros pode contribuir para lidar com esta crise? Que tipo de conhecimento que devemos desenvolver?
As instituições democráticas modernas do Brasil são jovens. Depois de 1985, o mundo assistiu ao Brasil construir a sua democracia –com enorme admiração. E, algumas décadas mais tarde, essas instituições estão sobrevivendo, mesmo quando testadas no seu limite. Isso é importante. Muitos outros países não têm essas instituições resilientes. Os brasileiros devem se orgulhar do que construíram.
Uma coisa que a nova geração pode e deve fazer é aprender com outros países que renovaram seu governo e sua economia. O Brasil não está sozinho em sua crise, sofrendo com a desaceleração nos preços das commodities. Países de todo o mundo estão lidando (de maneiras melhores e piores) com isso.
Da mesma forma, há países experimentando uma série de reformas para lidar com a corrupção e para construir a integridade no governo. Há lições úteis para serem aprendidas e erros a serem evitados. Isso não significa que o Brasil deve cegamente aplicar prescrições criadas em outros lugares. Mas, trabalhando com colegas de outros governos e sociedades, brasileiros podem avaliar ainda mais rápido e de forma mais eficaz o que precisam fazer.
E como podemos vencer a corrupção no país?
A evidência sobre a corrupção é interessante. Funcionários públicos, empresários e políticos tendem a agir de forma corrupta, se eles acreditam que todo mundo está agindo assim. Da mesma forma, se todos acreditam que os outros não sendo corruptos, vão desistir. É preciso uma liderança muito clara e a aplicação de tolerância zero de cima para baixo. A chave é construir a integridade de todo o sistema no governo –e o Brasil tem muitos dos elementos para fazer isso com sucesso, incluindo um Poder Judiciário forte e alguns excelentes líderes.
Provavelmente a melhor proteção contra a corrupção no serviço público é ter uma burocracia meritocrática. O mais plenamente meritocrático é o serviço público, mas ele vai atrair e manter as pessoas e promovê-las de acordo com seu desempenho e sua contribuição. Isso é difícil no sistema com um grande número de compromissos políticos. No mínimo, o sistema de nomeação política precisa ser limitado por exigências meritocráticas claras.
Você é cofundadora do programa de líderes Oxford-Princeton. Como você define um bom líder?
A boa liderança é aquela que ajuda um grupo a definir seus objetivos e faz uma mobilização eficaz dos recursos para esse fim. Em resumo, uma boa liderança requer: visão altruísta (um propósito que coloca os outros em primeiro lugar), imparcialidade e equidade. Isso significa agir sem favoritismo para a família, amigos, apoiadores, mas sim agir de forma imparcial, com lealdade e franqueza. Isso exige que os líderes construam uma bússola moral clara para si –e isso é algo que esperamos que nossos alunos possam fazer.
Por que é importante ter uma experiência internacional durante a graduação ou pós-graduação?
Uma experiência internacional te mostra que o seu próprio país não é tão diferente como você pensava anteriormente. Cada país é único, mas quase todos têm desafios compartilhados.
O Brasil enviou recentemente 100 mil estudantes ao exterior, incluindo a universidades britânicas, pelo programa "Ciência sem Fronteiras". Como você vê esse tipo de iniciativa?
Estudar no exterior pode ser poderoso e útil, abre a mente para uma comunidade de estudiosos que podem se tornar parceiros ao longo da vida. A chave é garantir que a experiência traga isso.
O que muda nas universidades britânicas após o "brexit"? Os estudantes de países da União Europeia mantêm seus benefícios em termos de taxas?
Espero que sim. Os termos do novo relacionamento do Reino Unidos com a União Europeia ainda não foram estabelecidos, nem sequer foram esboçados. Portanto, nada está claro. A Escola de Governo Blavatnik, especificamente, tem alunos do mundo todo e não concede benefícios a estudantes britânicos ou europeus, como uma taxa especial ou menor do que os demais. Pretendo continuar contando com estudantes de todo o mundo.
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Ngaire Woods
Nascimento 1963, na Nova ZelândiaCargo Diretora da Escola de Governo Blavatnik, da Universidade de Oxford; antes, teve passagem pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento
Formação Economia na Universidade de Auckland (Nova Zelândia), com doutorado em relações internacionais pela Universidade de Oxford
Produção Tem vários livros publicados na área de governo e democracia; pesquisa governança, cooperação entre países e leis
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