Nessa semana, diante da divulgação dos resultados do Ideb, escrevi uma análise sobre o problema do ensino médio no país. O índice mostrou que continuamos falhando especialmente na última etapa da educação básica. Os alunos continuam indo mal e largando a escola.
O problema é realmente sério. Quem me conhece minimamente sabe que eu adoro estudar –o que, inclusive, acabou me levando a pesquisar e a escrever sobre educação. E até eu, que amo aprender, quase larguei o ensino médio durante a minha adolescência.
Assim como acontece com a maioria dos alunos, eu fui me desconectando da escola. No começo, eu acordava animada para ir para a escola, gostava da “tia” e das brincadeiras do recreio. Aos poucos, isso foi se perdendo.
Conforme a escola avançava, eu deixava de ter uma relação afetiva com aquilo. A escola passou a me dar medo: da bronca, da nota baixa, da prova, do bullying. Eu mal sabia o nome dos meus professores no começo do ensino médio porque eram muitos –hoje, são 13 disciplinas que compõem o quadro escolar nessa etapa. Eles também não sabiam o meu nome. Eu tinha um número na minha sala: 33.
Eu gostava de fazer contas, mas comecei a lidar mal com elas no ensino médio. A minha paixão pela lógica foi substituída pelo terror à memorização de fórmulas da matemática e da física –aliás, eu não tinha a mais vaga ideia de quão linda pode ser a física, da escala nanométrica à astronomia. Eu detestei física do começo ao fim, até chegar à faculdade.
SONO
Toda noite, durante o ensino médio, eu ia dormir preocupada com a escola. Perdia o sono e, no dia seguinte, mal conseguia acordar antes das 6 horas para estar na aula às 7 horas. Mais tarde, lendo estudos de educação e de psicologia, descobri que, por questões fisiológicas mesmo, os adolescentes têm dificuldades de acordar cedo. A cabeça deles simplesmente não funciona de manhã. Ora, então por que diabos as aulas no ensino médio até hoje começam às 7 horas nas redes pública e privada?
Pois é. É uma tortura mesmo.
Deixei de ver sentido nas horas que passava nas aulas. Todos os dias, chegava em casa e fazia um balanço do que havia aprendido. Na maioria das vezes eu concluía que tinha aprendido coisas “inúteis” porque não via conexão daquilo com a minha vida. E, já que eu não tinha aprendido nada, como pensava, por que eu estava na escola?
Essa é a sensação relatada pela maioria de quem larga os estudos nessa fase: a escola parece perda de tempo. E, no Brasil, muita gente desiste: metade de quem entra na escola não termina os estudos no ensino médio! Claramente temos um problema sério que estamos ignorando.
Por sorte, meus pais não me deixaram desistir. Discutimos ao longo de todo o meu 1º ano do ensino médio o que eu faria da vida, cheguei a mudar da escola. Resolvi seguir nos estudos mediante um plano: eu iria trabalhar nas horas vagas depois da escola e, com o dinheiro poupado, faria intercâmbio no 2º ano do ensino médio. Isso me segurou.
Fui e, lá fora, no Reino Unido, as aulas começavam mais tarde e eu podia fazer disciplinas extracurriculares. Mais independente, comecei a circular sozinha pela cidade, ir a museus e ao cinema. Conheci novos livros. Continuei trabalhando depois da escola.
Quando voltei da empreitada, já estava no 3º ano do ensino médio, preparando-me para o vestibular. Resolvi terminar, faltava pouco! Aos 17 anos, entrei em um curso concorrido de jornalismo em uma universidade estadual paulista. Ufa. E nunca mais parei de estudar.
Toda vez que escrevo sobre os problemas do ensino médio, conto um pouco da minha história. Eu, que amo estudar, e que agora estou planejando até um pós-doutorado, quase parei a escola na minha adolescência. Isso me parece bem grave.
A escola brasileira tem o poder de acabar com o ânimo de seus alunos –e os culpa por isso. Até quando vamos ignorar esse nosso fracasso?
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