FOTO: JEFF EATON/CREATIVE COMMONS/FLICKR
Desigualdade na academia
 CIENTISTAS CRIARAM SITE PARA IDENTIFICAR CONFERÊNCIAS COM POUCAS MULHERES PALESTRANTES
 
Para  neurocientista Yael Niv, professora da Princeton University, a pouca participação feminina entre palestrantes nas grandes conferências de saúde que frequentava era uma constante.
Mas nenhuma ausência a incomodou tanto quando, em agosto, recebeu a notificação de um evento sobre estimulação cerebral - tema importante para o tratamento de depressão e outras desordens mentais. Entre os 21 cientistas listados para falar no evento não havia uma única médica, apesar das organizadoras serem mulheres.
Foi o que levou Niv a reunir um grupo de colegas e criar oBiasWatchNeuro, site dedicado a monitorar a diferença de gênero em conferências das mais diversas áreas da neurociência, comparando os números com a proporção de mulheres na área específica.
Já foram mais de 60 eventos listados desde agosto de 2015, quando o site foi ao ar. Em cerca de metade deles, o número de mulheres palestrantes está de acordo (ou até supera) o número de mulheres na área. Mas o que dá combustível ao projeto é o número de conferências que continuam a mostrar uma discrepância relevante nesse sentido, disse a neurocientista ao “The New York Times”.
Nos 13 eventos onde a participação estava muito abaixo do esperado, havia 11 palestrantes mulheres ao todo, ante 213 homens. Seis deles não tinham sequer uma palestrante do sexo feminino. Para Niv, a discrepância se deve a um “enviesamento implícito”.
“Enviesamento implícito é isso que o nome diz - implícito. Não estamos ciente dele. Não estamos dizendo que os organizadores dessas conferência são preconceituosos e que estão discriminando propositalmente. Eles apenas não sabem evitar”
Yael Niv
Neurocientista, ao “New York Times”
Para a médica, o problema na escala de palestrantes não se restringe à mera falta de representatividade feminina, mas a perpetuação de um ciclo em que mulheres têm menos espaço.
Apresentar-se nesse tipo de evento traz visibilidade ao profissional, que passa a ser conhecido entre colegas e, consequentemente, mais citado e lembrado em demais ocasiões. “Se você não é conhecido na ciência, você pode estar fadado ao fracasso, pois há menos chances de seus artigos serem aceitos e suas empreitadas cientificas, financiadas.”
Não apenas Niv e suas colegas criadoras do site apontaram a questão na internet, como também entraram em contato com organizadores. Alguns foram receptivos à chamada de atenção e adicionaram mais mulheres entre seus conferencistas. Outros foram mais resistentes, argumentando que a escolha de palestrantes é feita com base exclusivamente na excelência científica, e não em noções de equidade de gênero.