2 de setembro de 2016

Senhores candidatos, as crianças estão aprendendo? Claudia Costin


claudia costin
É professora visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Banco Mundial, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração. Escreve às sextas-feiras.

Eduardo Anizelli/Folhapress
SOBRAL, CE, BRASIL, 05-11-2015: OBQDC - BRASIL QUE DA CERTO. Alunos na escola E.I.E.F. Elpidio Ribeiro da Silva, que tem noda 9 no IDEB. Os resultados da cidade de Sobral no interior do Ceara sao impressionantes. Entre todas as escolas do Brasil que atendem alunos pobres e possuem mais de 90 alunos, as 11 melhores estao na cidade (considerando as notas do Ideb 2013, no 5º ano do fundamental). Tambem ha destaques quando analisadas as notas dos alunos do fim do ensino fundamental (9º ano). (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, ESPECIAL) ***EXCLUSIVO***
Alunos na escola E.I.E.F. Elpidio Ribeiro da Silva, em Sobral (CE), que tem noda 9 no Ideb
Há dez anos, vi o bibliófilo José Ephim Mindlin bastante abatido, pois perdera havia pouco sua mulher, Gita, mas uma força o levara às escadarias do Museu do Ipiranga: o lançamento de um grande movimento da sociedade civil para transformar a frágil aprendizagem das crianças e jovens do país. Em 6 de setembro de 2006, foi lançado o Todos pela Educação, com metas para garantir que todos estivessem na escola, com aprendizagem adequada à sua série.
Os resultados da Prova Brasil e do Pisa mostravam um quadro triste. Entre os resultados da Prova Brasil de 2005, chamou-me a atenção que 65% dos alunos do 9º ano não sabiam porcentagem.
No Pisa, o Brasil estava pior que outros países de mesmo estágio de desenvolvimento e as deficiências não eram só da escola pública, os 25% mais ricos do país tinham desempenho pior que os mais pobres da OCDE. Não foi difícil reunir um grupo grande de pessoas em torno de uma ideia: podemos ter uma educação em que os alunos aprendam.
Uma das propostas do Todos foi a de termos, até 2022, no bicentenário da independência do Brasil, resultados de aprendizagem equivalentes aos da média da OCDE. Para tanto, a estratégia construída junto com o governo foi a de divulgar, a cada dois anos, perto do período eleitoral, um indicador, o Ideb, que mostrasse a aprendizagem dos alunos e em que medida eles continuavam na escola e avançavam para as séries seguintes.
Com isso, dar-se-ia mais visibilidade a algo que escapa, muitas vezes, da percepção do cidadão comum. Sabe-se se prédios escolares foram construídos ou se estão em estado ruim, se a merenda ou livros são entregues, mas, afinal, as crianças estão aprendendo? Se não estão, o que exatamente não está adequado?
Dentre as promessas de campanha, a educação certamente aparece, mas será que como algo que vai além da infraestrutura e realmente impacte a competência de leitura e interpretação de textos dos alunos e o raciocínio matemático tão importante para atos simples da vida, como comprar a crédito, analisar discursos de políticos ou ter acesso qualificado ao mundo do trabalho quando tantas funções estão sendo automatizadas?
Na segunda semana de setembro, o Inep deve divulgar o Ideb de 2015. Vamos descobrir o quanto cada cidade avançou em educação. É o momento para avaliar a atuação de prefeitos que almejam a reeleição ou querem indicar quem os suceda. Então, senhores candidatos, haverá competência de gestão para assegurar que avanços existentes se mantenham ou quadros ruins se revertam? O que será feito para que as crianças aprendam? O ano de 2022 vai chegar logo e algo urgente deve ser feito. Com a palavra, os candidatos! 

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