20 de outubro de 2016

Ação exige que MEC defina padrão mínimo de investimento na educação


O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro entrou na Justiça com uma ação civil pública exigindo que a União defina o mecanismo de financiamento à educação chamado CAQI (Custo Aluno Qualidade Inicial). O dispositivo traduz em valores por aluno o investimento necessário para garantir um padrão mínimo de qualidade na educação básica.
O CAQi já deveria estar pronto em junho deste ano, de acordo com o estipulado no PNE (Plano Nacional de Educação). Esta é a primeira ação civil que leva em conta as metas do PNE, aprovado em 2014.
A fixação desse dispositivo é de responsabilidade do MEC (Ministério da Educação). Questionado no início da tarde, o MEC informou apenas que não foi notificado da ação.
O CAQi deve estabelecer um valor de investimento por aluno a partir da criação de um padrão mínimo de qualidade, em que se leva em conta infraestrutura, materiais pedagógicos e salários dos professores. Dessa forma, a União complementaria os valores para cada Estado e município.
Danilo Verpa - 19.fev.2009/Folhapress
ORG XMIT: 425001_1.tif SÃO PAULO, SP, BRASIL, 19-03-2009: Educação: alunos da Escola Estadual Professora Blanca Zwicker Simões durante aula. A escola foi uma das mais bem avaliadas em pesquisa do governo estadual. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, COTIDIANO)
PNE traça metas para a educação em 10 anos
Atualmente, a maior parte dos gastos com o setor na educação básica é de responsabilidade dos Estados e municípios. Com essa complementação, a União aumentaria seu papel no financiamento da educação, reequilibrando a situação entre os entes federativos. Também é uma forma de garantir as mesmas condições de aprendizagem para os alunos de todo país.
Na ação, a procuradora da República Maria Cristina Manella Cordeiro argumenta que a definição do CAQi tornará mensurável a responsabilidade do poder público. "Em tempos de ajuste fiscal severo, a defesa dos recursos vinculados à educação se revela como mecanismo primordial de contenção das arbitrariedades e da própria eficácia do direito fundamental", cita a procuradora.
O Congresso Nacional discute a PEC 241, que estipula teto de gastos públicos em 20 anos. O texto tem causado grande mobilização no setor educacional por representar um risco de redução dos recursos destinados ao setor.
"No contexto em que nos encontramos, marcado por incertezas e riscos às garantias básicas de financiamento à educação, seria um retrocesso incomensurável deixar persistir a omissão da União Federal em implementar o CAQi, com resultados trágicos para os atuais e futuros estudantes e para o desenvolvimento do País", afirma a procuradora na ação.
Além de constar no PNE, a definição de um padrão mínimo de qualidade já é previsto na Constituição, de 1988. O que também foi ressaltado pela procuradora.
Questionado em junho sobre o CAQi, o governo Michel Temer havia informado que realizava uma "análise cuidadosa do orçamento", mas não deu prazos sobre a finalização. O MEC não deu mais detalhes na tarde desta quarta-feira (19). A gestão Dilma Rousseff (PT) também não havia dado passos significativos para a implementação do dispositivo.
Além da crise econômica, colaborou também para que o tema não fosse adiante a falta de definição sobre o que pode ser considerado mínimo para uma educação de qualidade. O MEC nunca homologou um parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre assunto, aprovado em 2010.
ATRASOS
O PNE traçou metas para educação para serem alcançadas até 2024, mas com prazos parciais. Nenhuma meta estipulada para os dois primeiros anos de vigência do plano foi atendida.
O CAQ inicial é só um estágio transitório para que se implemente e defina o Custo Aluno Qualidade, a partir de um reajuste progressivo. Esse mecanismo é a principal estratégia para elevação dos investimentos em educação para o equivalente a 10% do PIB (os dados mais atuais indicam um índice de 6,6%.).
Com relação ao percentual destinado à educação sobre o PIB, o Brasil aparece bem posicionado na comparação com outros países. Mas, de acordo com dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgados no mês passado, o gasto anual por aluno da educação básica no Brasil ainda é cerca de um terço da média dos países ricos. 

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