14 de outubro de 2016

Claudia Costin: Educação de qualidade e o trabalho do professor


Vanessa CO/BBC
O segredo dos professores de Xangai para colocar seus alunos no topo do ranking mundial da educaçãoEm avaliações recentes, metrópole chinesa aparece nos primeiros lugares em matemática, leitura e ciência, na comparação com países e sistemas escolares regionais.
Sala de aula em Xangai, campeã no ranking internacional de educação do Pisa
Celebramos, neste sábado (15), o Dia do Professor, com uma nota um pouco amarga: começam a correr riscos os recursos necessários para tornar a profissão mais atraente e dar aos mestres melhores condições para transformar a educação no país.
Mesmo assim, houve motivos para celebração nos últimos anos. A Lei do Piso, de 2008 (Lei nº 11.738), estabeleceu que o piso salarial dos docentes da educação básica deve ser reajustado anualmente, o que tem ocorrido desde sua aprovação, embora em valores abaixo do esperado.
Além disso, esforços importantes foram adotados em período recente para melhorar as condições de ensino em muitas redes, como diminuir o tamanho de salas, melhorar a infraestrutura e criar mecanismos de apoio ao professor como material didático, profissionais de suporte para inclusão de alunos com deficiência e computadores.
Uma provisão da Lei do Teto, ainda não totalmente implantada em diversas redes, completa o aparato normativo necessário para dotar de qualidade os sistemas escolares e ajudar o professor. Trata-se da reserva de, no mínimo, um terço da carga horária semanal do professor para atividades extra-classe, como as de preparação de aulas, correção de tarefas, capacitação ou estudo.
A implementação da lei trouxe certa dificuldade a Estados e municípios para se ajustarem, dado que demanda a contratação de mais docentes, se não quisermos diminuir ainda mais a diminuta jornada escolar brasileira. Por outro lado, sem estas atividades, o trabalho do professor fica precário. Como assegurar, por exemplo, que as redações dos alunos melhorem, se os docentes não têm tempo para corrigi-las e orientar os alunos acerca de seus erros?
As melhores redes educacionais do mundo reservam parte expressiva da carga horária do professor para atividades extra-classe. Em Xangai, melhor sistema no Pisa, o tempo fora de sala se traduz em colaboração: grupos de professores de uma mesma disciplina pesquisam e estudam juntos, refletem sobre sua prática, observam aulas uns dos outros para oferecer sugestões de aperfeiçoamento e preparam detalhados planos de aula.
Professores mais experientes usam este tempo como mentores dos que iniciam a carreira e isso tudo integra a formação continuada dos profissionais. O mais importante: estas atividades ocorrem dentro da escola, com espaços reservados para estas interações. Afinal, o trabalho dos docentes é necessariamente um trabalho de equipe.
Que as más notícias da frente fiscal não tragam risco a esse relevante, embora ainda incipiente, mecanismo de melhoria da qualidade da educação no Brasil.

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