Relatório da Unesco mostra que bullying afeta tanto o bem-estar quanto o aprendizado de todos
Apesar de o Brasil já ter até uma lei nacional, aprovada em 2015, contra o bullying, ainda hoje há quem encare esse problema como um mal menor nas escolas. Algo que seria corriqueiro, natural da infância ou adolescência, e que bastaria aos professores e diretores punirem os agressores quando praticarem o ato para garantirem que todos estejam seguros e focados no aprendizado.
Um relatório internacional sobre o tema, produzido pela Unesco e divulgado há duas semanas, reforça a importância de encarar o tema como prioritário. O documento faz uma extensa revisão dos estudos acadêmicos em vários países. Lida majoritariamente, portanto, com um conjunto abundante de evidências sobre o assunto, e não com suposições ou opiniões.
Não surpreende, ou ao menos não deveria surpreender, a constatação de que a violência na escola afeta o bem-estar físico e emocional de crianças e adolescentes. Vítimas de bullying sistemático são mais propensos a sofrer de depressão, ansiedade e baixa autoestima, para citar apenas alguns dos efeitos observados. Como é dever da escola zelar pela saúde e bem-estar dos alunos, apenas isso já seria suficiente para justificar ações. Esta é, aliás, uma preocupação mundial, presente em legislações ou políticas nacionais de países como a Coreia do Sul, Finlândia, Austrália, Japão, Chile, Noruega, entre outros.
Mas os estudos citados no documento provam também que há sérios efeitos negativos para todos na aprendizagem. Obviamente, vítimas são as maiores prejudicadas, e há grupos com maior risco de sofrerem bullying. O relatório cita pesquisas na Tailândia, Argentina, Austrália, Chile, Dinamarca, El Salvador, Itália e Polônia que mostram que alunos LGBT que vivenciaram homofobia faltavam mais às aulas, apresentavam maior risco de evasão e tinham notas mais baixas em relações aos colegas que não passaram por essa situação. Outras pesquisas identificaram efeitos semelhantes do bullying por questões de gênero, raça, pobreza, aparência física, religião, deficiência ou imigração. Portanto, é grande o leque de alunos que podem ser vítimas.
No Brasil, um estudo encomendado pelo MEC à USP em 2009 mostrou que em escolas onde é identificado algum tipo de preconceito contra algum grupo, é maior também a chance de outros grupos serem também vítimas. Ou seja, esta não é uma agenda que deveria preocupar apenas a uma minoria, pois a existência de um clima propício ao bullying e à violência na escola acaba afetando a todos.
O relatório da Unesco avança também em algumas recomendações sobre como lidar com o problema nas escolas. Uma constatação é de que é preciso agir preventivamente, propiciando um ambiente em que os alunos se sintam confortáveis em relatar situações pelas quais passaram. Esperar o problema acontecer para depois agir, portanto, é péssima estratégia, até porque é comum que as vítimas tenham medo de relatar agressões. É preciso capacitar todos os profissionais na escola, inclusive com material pedagógico adequado, sobre como agir para garantir um ambiente seguro e um clima de respeito à diversidade.
Como afirma a Unesco num trecho de seu relatório: “A escola é também um lugar onde atitudes que geram violência podem ser mudadas, e a não-violência pode ser aprendida. Tanto o ambiente escolar quanto o conteúdo educacional podem estimular a compreensão de temas como os direitos humanos, igualdade de gênero, valores de respeito e solidariedade, além habilidades para comunicar, negociar e resolver problemas pacificamente”.
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