27 de janeiro de 2017

Combate à corrupção passa por maior equidade, Claudia Costín


claudia costin
É professora visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Banco Mundial, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração. Escreve às sextas-feiras.

Há poucos dias, foi publicado o relatório anual Índice de Percepção da Corrupção Global, organizado pela respeitada ONG Transparência Internacional, cobrindo 176 países. No lançamento, a ONG alertou que haveria fortes sinergias entre corrupção e desigualdade social. De fato, a corrupção afeta desproporcionalmente os mais pobres, que dependem mais de serviços públicos.
No caso do Brasil, a percepção de corrupção se manteve estável desde o ano passado, mas piorou no ranking. Por outro lado, a desigualdade social, que havia melhorado de forma importante nos últimos 20 anos, vem mostrando preocupante tendência de crescimento.
Políticas sociais como o Bolsa Família, o aumento real do salário mínimo e o fomento à escolarização tiveram um impacto relevante na redução da desigualdade. Mas isso pode não ser sustentável no longo prazo. Há que se combater a corrupção por um lado e fortalecer as políticas públicas para que a desigualdade diminua de forma consistente, já que, a despeito de progressos, ainda somos um dos países mais desiguais do mundo.
Entre as políticas sociais, a que pode ter efeitos mais efetivos no crescimento de longo prazo e na diminuição da desigualdade, segundo o economista Eric Hanushek, é a educação. Mas para tanto, ela deve focar não apenas o acesso, mas sobretudo a qualidade do ensino. Sem educação de qualidade para todos, não há diminuição de desigualdade que se sustente.
Há muito que pode ser feito para melhorar a qualidade da educação, mas como evitar que o melhor ensino seja restrito a poucos? É aqui que entra a equidade: sem uma forte ação afirmativa, que assegure os melhores professores e recursos para os alunos mais vulneráveis, dificilmente teremos qualidade para todos.
Isso quer dizer priorizar as crianças do Bolsa Família no acesso a creches, aumentar os incentivos para que professores mais experientes deem aulas em escolas periféricas ou em favelas e montar um bom monitoramento da aprendizagem vinculado a um sistema de reforço escolar. Precisamos saber quem não está aprendendo para agir antes que as lacunas se acumulem.
Para que a equidade e a qualidade caminhem juntas, é preciso também preparar os professores para um processo de ensino que incorpore não apenas competências cognitivas, mas habilidades de vida ou competências socioemocionais, como persistência, autocontrole, resiliência, empatia e abertura a novas experiências.
Relevantes para todos os alunos, ganham particular relevância para os alunos mais pobres, que têm de enfrentar maiores adversidades, entre elas, os efeitos deletérios da corrupção. 


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