18 de janeiro de 2017

Só 7,3% dos alunos do 3º ano do ensino médio tem nível adequado de Matemática

Para especialistas, melhoras no desempenho nos anos iniciais não refletiram nas demais etapas da Educação, como seria esperado


SÃO PAULO - Apenas 7,3% dos estudantes do 3º ano do ensino médio tiveram aprendizado considerado adequado em Matemática em 2015. O índice é inferior ao de 2013, quando 9,3% atingiram o esperado para a etapa. Em Português, o porcentual foi de 27,5% ante 27,3% - o que indica uma estagnação, já que a variação de 0,3 ponto porcentual não é estatisticamente significativa.

Os dados são de um levantamento feito pelo Movimento Todos pela Educação (TPE), com base na avaliação dos alunos pela Prova Brasil e pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), divulgados em setembro. 
O levantamento é parte de uma das metas do movimento, o aprendizado adequado para o ano em que o aluno está. O objetivo é que, até 2022, o Brasil consiga universalizar a educação de qualidade. As médias intermediárias definidas pelo TPE, 40,6% em Matemática e 49% em Português, não foram atingidas.
Apenas no ensino médio não houve melhora nos índices. No 9º ano do ensino fundamental, 33,9% dos alunos têm aprendizado adequado em Português e 18,2%, em Matemática. Em 2013, eram 28,7% e 16,4%, respectivamente. No entanto, sem também conseguir alcançar as médias intermediárias de 49,9% em Português e 45,4% em Matemática. 
É no 5º ano do ensino fundamental que o país registra maior avanço. Nessa etapa, 54,7% dos estudantes aprenderam o considerado adequado em Português - ultrapassando a meta estabelecida de 53,7% - e 42,9%, em Matemática. Em 2013, os índices eram de 45,1% e 39,5%, respectivamente. A meta de Matemática de 49,5% não foi alcançada. 
Para Priscila Cruz, presidente-executiva do TPE, os dados mostram que o ensino nos anos finais e do ensino médio é ruim e que as melhoras nos anos iniciais não se refletiram nas demais etapas da Educação, como muitos especialistas acreditavam. "O País conseguiu definir o ensino nos anos iniciais, sabe qual é a sua função e o que é preciso para os alunos avançarem. O Brasil está acertando nessa etapa, mas não conseguiu que isso refletisse nos anos adiante", disse.
Priscila afirmou que a transição para o fundamental dois (do 6º ao 9º ano) é onde a educação brasileira começa a se perder. "É uma etapa já naturalmente complicada porque coincide com a transição do aluno da infância para a juventude, mas o País ainda não conseguiu um formato exitoso para que essa etapa garanta a aprendizagem adequada", disse. 
Para ela, como os anos finais do fundamental têm a garantia de matrículas compartilhada entre Estados e municípios, a etapa fica "órfã". "É uma etapa invisível para o gestor público. As prefeituras se preocupam com a educação infantil e os anos iniciais e os Estados, com o ensino médio". 
MEC. Maria Helena Guimarães, secretária-executiva do MEC, disse que desde 2007 é observado no País a melhoria nos anos iniciais, mas estagnação nos anos subsequentes, contrariando evidências de pesquisas. "Isso (a consequente melhora) não ocorreu no Brasil e não temos pesquisas que apontem os principais problemas que dificultam a melhoria dos anos finais", disse. 
Segundo ela, alguns indicadores devem ser considerados, como a falta de um processo de transição do 5º ao 6º ano e a formação de professores. "Muitos dos que estão nos anos finais, atuando nas áreas específicas de Português, Matemática, Ciência, História e Geografia são pedagogos que a rigor não são professores especialistas das áreas específicas e muitas vezes não têm a complementação pedagógica", disse. 
Para Maria Helena, a Base Nacional Comum Curricular - documento relativo à educação infantil e ensino fundamental que deve estar totalmente pronto no meio do ano -, a reforma do ensino médio e  um programa de formação inicial e continuada de professores na infraestrutura das escolas podem garantir a melhora do ensino. 
"A reforma do ensino médio é muito importante para mudar a estrutura, a arquitetura do ensino médio, mas só a reforma não é o suficiente. Junto com a reforma, precisamos da Base Curricular Nacional, que também é necessária para os anos finais", afirmou. 

Isabela Palhares ,
O Estado de S. Paulo
18 Janeiro 2017 

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