O resultado do Pisa 2015 não trouxe surpresas. O Brasil continua nas piores posições da avaliação da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que examina as habilidades de leitura, matemática e ciências de jovens de 15 anos em 72 países.
Não vou me alongar neste panorama, já bastante analisado, mas na reflexão sobre os caminhos para superá-lo. Ainda que não haja uma solução miraculosa, sabemos que não vamos vencer nossos problemas com medidas incrementais. Teremos de promover mudanças profundas, e ouso dizer, paradigmáticas, na visão do que é educação de qualidade.
Evidentemente, educação de qualidade pressupõe a aprendizagem plena em leitura, matemática e ciências. Mas é só disso que vamos precisar para o século 21?
Certamente não, e a OCDE reconhece a necessidade de expandir essa fronteira, incluindo desenvolvimento intencional de competências socioemocionais (como persistência, abertura e colaboração). Por isso, na edição de 2015, o Pisa abarcou avaliação de resolução colaborativa de problemas, acenando para a inclusão de aspectos socioemocionais.
Essa inclusão não foi gratuita, mas baseada em evidências. Por meio do seu Ceri (Centro para Pesquisa e Inovação Educacional), a OCDE vem investigando a importância das competências socioemocionais e buscando maneiras de avaliá-las.
No Brasil, parceria entre o Ceri e o Instituto Ayrton Senna possibilitou a elaboração de instrumento de avaliação de competências socioemocionais no contexto escolar, validado por uma aplicação com cerca de 25 mil alunos da rede estadual do Rio de Janeiro.
Os resultados revelaram que os alunos com alto grau de responsabilidade e determinação estavam um terço do ano letivo à frente dos seus colegas em matemática, enquanto os alunos com alto grau de abertura estavam enquanto do ano letivo à frente em português. Diante dessas evidências, não seria o caso de investir no desenvolvimento dessas competências para promover um salto de aprendizagem?
Baseado no impacto de um modelo inovador de ensino médio desenvolvido pelo instituto em conjunto com a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, nosso economista-chefe, Ricardo Paes de Barros, estimou que o Brasil saltaria da 69ª posição do Pisa (considerando alunos que atingiram pelo menos o nível 2 da prova de matemática, em todos os países e territórios avaliados), atrás da Colômbia, e atingiria o 38ª lugar, à frente dos EUA, caso oferecesse educação integral de qualidade para todos.
Para oferecer mais evidências para a tomada de decisão dos gestores públicos, criamos um laboratório para produzir conhecimento científico para subsidiar a formulação de políticas e práticas. Uma das atividades do edulab21 foi a inclusão de itens para avaliação de competências socioemocionais no questionário do Inaf (Índice Nacional de Alfabetismo Funcional), coordenado pelo Instituto Paulo Montenegro.
Os resultados preliminares do Inaf 2015 demonstram que, dentre os brasileiros menos favorecidos, aqueles que atingem os patamares maiores de alfabetismo e realizações na vida (medidas por renda e escolaridade final atingida) são justamente os que possuem maior grau de abertura, persistência e autoestima. Esse dado revela que a promoção dessas competências pode ser uma poderosa aliada para diminuição das desigualdades sociais.
Mais uma vez, tudo indica que as competências socioemocionais têm um poder de transformação que não podemos ignorar.
VIVIANE SENNA é presidente do Instituto Ayrton Senna
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