Jessica Rinaldi - 19.fev.2017/The Boston Globe/Getty Images | ||
Em fevereiro, pesquisadores fizeram protesto em Boston, durante congresso científico |
Os organizadores da Marcha pela Ciência, marcada para este sábado (22) em Washington e em cerca de 570 outras cidades em 60 países, cuidadosamente não fazem, em seu site, qualquer referência direta ao presidente Donald Trump. O temor era diminuir o potencial de adesão, já que cientistas geralmente preferem manter distanciamento da política.
Será difícil, porém, evitar que as manifestações em todo o mundo se tornem um claro movimento contra o presidente que já classificou o aquecimento global como farsa e quer cortar quase um quinto das verbas federais para pesquisa médica nos EUA.
Todo o material de divulgação no site www.marchforscience.com prega que a marcha será "apartidária" e que o objetivo é conscientizar "líderes políticos a tomar decisões com base em evidências científicas" –um recado indireto a negacionistas como Trump.
Os líderes da manifestação –pesquisadores e consultores que se uniram em janeiro para organizar a marcha– se defendem das críticas de que cientistas não deveriam se envolver em protestos.
"Diante de uma tendência alarmante de desacreditar o consenso científico e restringir a descoberta científica, devemos nos perguntar se podemos nos dar ao luxo de não levantar a voz", diz o grupo.
O cientista Steven Pinker, da Universidade Harvard, foi um dos que primeiro questionou a realização da manifestação. "O plano da marcha dos cientistas em Washington compromete seus objetivos com uma retórica de esquerda", escreveu no Twitter.
Outros cientistas temem que os atos aumentem a politização de seu trabalho, afirmando que a ciência precisa ser isenta.
Para Rush Holt, presidente da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), uma das mais importantes entre as 220 organizações do país que devem se juntar à marcha, os cientistas não devem dar como certo que a razão irá prevalecer no cenário político se eles não forem às ruas em defesa da pesquisa.
"Estamos defendendo a ciência e seu papel na sociedade, não uma ideologia particular. Evidências comprovadas cientificamente devem ser usadas como base para decisões políticas", disse Holt à Folha.
Apesar de afirmar que a marcha não é "fundamentalmente sobre Donald Trump", Holt diz não haver dúvidas de que há uma "preocupação" entre a comunidade científica nos últimos meses.
"Se funcionários públicos dizem que fatos alternativos são equivalentes a fatos reais ou que opinião é equivalente a evidências, ou que a evidência é opcional, então é hora de falarmos sobre isso", diz.
Entre as presenças confirmadas, estão a bióloga Lydia Villa-Komaroff, que ajudou a descobrir o processo pelo qual bactérias podem produzir insulina humana, o "science guy" Bill Nye, e Christiana Figueres, secretária-executiva da ONU para a Convenção do Clima, uma das arquitetas do Acordo de Paris.
Para Villa-Komaroff, que discursará em Washington, o prestígio da ciência acabou sendo reduzido nas últimas décadas. "Tudo indica que estamos em um ponto crítico. E os cientistas têm de defender a ciência", disse à Folha. "Os cientistas em geral não se sentem confortáveis com a ideia de marchar na rua. Eu penso que toda atividade humana tem aspectos políticos."
Entre os pontos criticados por quem vai às ruas com o objetivo claro de protestar contra Trump, estão suas propostas de cortar 18% das verbas federais para os Institutos Nacionais de Saúde, responsáveis por desenvolver pesquisas contra o câncer e outras doenças, e 31% do orçamento da Agência de Proteção Ambiental (e um quarto de seus 15 mil funcionários).
Também deve entrar na pauta dos protestos o decreto de Trump que reverteu decisões tomadas pelo governo de Barack Obama para frear o aquecimento global, definindo, por exemplo, o desmantelamento do Plano de Energia Limpa, que restringe a emissão de gases por usinas a carvão.
O republicano havia ainda ameaçado, durante a campanha, tirar os EUA do Acordo de Paris sobre o clima. A promessa ainda não se concretizou, mas Trump chega perto de tornar inatingível a meta de cortes de emissões de gases-estufa ao impulsionar a indústria do carvão.
A marcha dos cientistas ocorre uma semana antes da Marcha Popular pelo Clima, organizada no próximo dia 29, também em Washington, que tem um perfil declaradamente mais político. Os organizadores das duas marchas dizem não haver coordenação entre elas, apesar de as equipes estarem "em contato".
"Precisávamos de uma mobilização contra os ataques de Trump aos nossos clima e comunidades", diz o Movimento Popular pelo Clima, responsável pela segunda manifestação, em comunicado. E
Será difícil, porém, evitar que as manifestações em todo o mundo se tornem um claro movimento contra o presidente que já classificou o aquecimento global como farsa e quer cortar quase um quinto das verbas federais para pesquisa médica nos EUA.
Todo o material de divulgação no site www.marchforscience.com prega que a marcha será "apartidária" e que o objetivo é conscientizar "líderes políticos a tomar decisões com base em evidências científicas" –um recado indireto a negacionistas como Trump.
Os líderes da manifestação –pesquisadores e consultores que se uniram em janeiro para organizar a marcha– se defendem das críticas de que cientistas não deveriam se envolver em protestos.
"Diante de uma tendência alarmante de desacreditar o consenso científico e restringir a descoberta científica, devemos nos perguntar se podemos nos dar ao luxo de não levantar a voz", diz o grupo.
O cientista Steven Pinker, da Universidade Harvard, foi um dos que primeiro questionou a realização da manifestação. "O plano da marcha dos cientistas em Washington compromete seus objetivos com uma retórica de esquerda", escreveu no Twitter.
Outros cientistas temem que os atos aumentem a politização de seu trabalho, afirmando que a ciência precisa ser isenta.
Para Rush Holt, presidente da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), uma das mais importantes entre as 220 organizações do país que devem se juntar à marcha, os cientistas não devem dar como certo que a razão irá prevalecer no cenário político se eles não forem às ruas em defesa da pesquisa.
"Estamos defendendo a ciência e seu papel na sociedade, não uma ideologia particular. Evidências comprovadas cientificamente devem ser usadas como base para decisões políticas", disse Holt à Folha.
Apesar de afirmar que a marcha não é "fundamentalmente sobre Donald Trump", Holt diz não haver dúvidas de que há uma "preocupação" entre a comunidade científica nos últimos meses.
"Se funcionários públicos dizem que fatos alternativos são equivalentes a fatos reais ou que opinião é equivalente a evidências, ou que a evidência é opcional, então é hora de falarmos sobre isso", diz.
Entre as presenças confirmadas, estão a bióloga Lydia Villa-Komaroff, que ajudou a descobrir o processo pelo qual bactérias podem produzir insulina humana, o "science guy" Bill Nye, e Christiana Figueres, secretária-executiva da ONU para a Convenção do Clima, uma das arquitetas do Acordo de Paris.
Para Villa-Komaroff, que discursará em Washington, o prestígio da ciência acabou sendo reduzido nas últimas décadas. "Tudo indica que estamos em um ponto crítico. E os cientistas têm de defender a ciência", disse à Folha. "Os cientistas em geral não se sentem confortáveis com a ideia de marchar na rua. Eu penso que toda atividade humana tem aspectos políticos."
Entre os pontos criticados por quem vai às ruas com o objetivo claro de protestar contra Trump, estão suas propostas de cortar 18% das verbas federais para os Institutos Nacionais de Saúde, responsáveis por desenvolver pesquisas contra o câncer e outras doenças, e 31% do orçamento da Agência de Proteção Ambiental (e um quarto de seus 15 mil funcionários).
Também deve entrar na pauta dos protestos o decreto de Trump que reverteu decisões tomadas pelo governo de Barack Obama para frear o aquecimento global, definindo, por exemplo, o desmantelamento do Plano de Energia Limpa, que restringe a emissão de gases por usinas a carvão.
O republicano havia ainda ameaçado, durante a campanha, tirar os EUA do Acordo de Paris sobre o clima. A promessa ainda não se concretizou, mas Trump chega perto de tornar inatingível a meta de cortes de emissões de gases-estufa ao impulsionar a indústria do carvão.
A marcha dos cientistas ocorre uma semana antes da Marcha Popular pelo Clima, organizada no próximo dia 29, também em Washington, que tem um perfil declaradamente mais político. Os organizadores das duas marchas dizem não haver coordenação entre elas, apesar de as equipes estarem "em contato".
"Precisávamos de uma mobilização contra os ataques de Trump aos nossos clima e comunidades", diz o Movimento Popular pelo Clima, responsável pela segunda manifestação, em comunicado. E
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