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Instituições devem criar escritório para estimular a integridade acadêmica |
Não combater a picaretagem acadêmica pode custar dezenas de milhões de reais para as instituições de pesquisa do Estado de São Paulo.
A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) deve, ainda em 2017, começar a indeferir projetos de melhoria na infraestrutura de instituições que não criarem um escritório voltado ao estímulo da integridade acadêmica.
Para cada projeto de pesquisa aprovado pela Fapesp, um valor correspondente a 10% da verba é destinado à instituição de pesquisa para esses projetos de melhoria. No ano passado foram repassados R$ 56 milhões a tais projetos em 141 entidades.
Segundo Luiz Henrique Lopes dos Santos, membro da diretoria da Fapesp e professor de filosofia da USP, entre as instituições paulistas só a UFABC (Universidade Federal do ABC) tem um órgão do tipo em seu organograma.
"Faz cinco anos que todo mundo está avisado que isso aconteceria. Está no termo de outorga assinado pelo responsável da instituição", diz.
O escritório de integridade acadêmica deve cuidar de atividades de educação, treinamento e investigação de casos de plágio e de outros desvios de conduta, como fraudes em artigos científicos.
"É um recado para os pesquisadores", diz Santos. Para ele, o avanço obtido até então é muito discreto. "Hoje, mesmo as instituições que montam comissões ou sindicâncias para investigar casos de fraude são muito lenientes."
Em 2014, a Fapesp, como parte de seu projeto de boas práticas científicas, publicou uma espécie de "página da vergonha" na internet. A lista tem nomes de pesquisadores que, segundo decisão da fundação (baseada em suas investigações), tiveram conduta irregular.
Para Santos, o número de casos ainda sob investigação é grande e só deve ser reduzido com a implementação de uma política adotada por esses escritórios de integridade acadêmica, de forma que a cultura acadêmica se modifique. Ele defende a ideia de que são as próprias instituições que devem investigar e punir desvios éticos.
"Esperamos um dia não precisar impedir ninguém de pedir recursos para a Fapesp", diz o professor.
FERRAMENTA
Entre os recursos que podem ser utilizados para reduzir o número de plágios estão ferramentas que checam a semelhança entre textos acadêmicos e outros disponíveis na internet e quantificam as informações extraídas de outras fontes –algo como uma porcentagem de plágio.
Laércio Dona, diretor comercial da plataforma Turnitin (adotada por USP, FGV e Unesp, entre outras instituições), explica que os softwares atuais não são capazes de detectar o plágio de ideias, apenas o de texto.
Mas houve avanços nos últimos tempos: já é possível detectar paráfrases, substituição de palavras e expressões por sinônimos, traduções e mudança de orações para a voz passiva, por exemplo.
"Assim como as pessoas aprendem a driblar a tecnologia, é possível aperfeiçoar a tecnologia para reconhecer essas táticas", diz Dona.
Ele afirma que metade dos trabalhos acadêmicos que passam pela plataforma contém mais de 50% de conteúdo não original.
Segundo a pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da Universidade Mackenzie Helena Pereira, esses checadores de plágio oferecem uma segurança jurídica para as instituições privadas.
Segundo ela, no Mackenzie houve reprovações de mestrandos e doutorandos e até demissão de docentes por causa da cópia de textos.
Nas instituições públicas, o cenário é mais complicado, afirma o professor da UnB Hermes França. "Punir o aluno em casos de plágio é muito difícil. Se o professor não tiver o caso bem documentado, é ele quem acaba sendo processado e punido", afirma.
Outro problema citado por França são as represálias a docentes que denunciam desvios éticos dos colegas.
Os escritórios de integridade científica, munidos de ferramentas de análise, podem ser uma solução, diz Pereira, já que, nesses casos, haveria uma "despersonalização" de quem checa a originalidade.
EDUCATIVO
Quando alguém comete uma fraude acadêmica, a preocupação muitas vezes é a de evitar a punição, e não a de evitar prejudicar outro pesquisador ou a própria ciência. O grande desafio das instituições é elaborar estratégias para mudar essa cultura que, segundo especialistas, impera no país.
A adoção de plataformas antiplágio pode ter também um caráter educativo –quando os "índices de semelhança" são compartilhados com os alunos de graduação e pós-graduação e são usados para aperfeiçoar o processo de produção de texto.
Segundo o professor de filosofia da USP Luiz Henrique Santos, a meta é tornar o pesquisador ainda mais consciente de que a ciência é uma construção coletiva e que só faz sentido fazê-la se for algo verdadeiro e potencialmente duradouro.
A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) deve, ainda em 2017, começar a indeferir projetos de melhoria na infraestrutura de instituições que não criarem um escritório voltado ao estímulo da integridade acadêmica.
Para cada projeto de pesquisa aprovado pela Fapesp, um valor correspondente a 10% da verba é destinado à instituição de pesquisa para esses projetos de melhoria. No ano passado foram repassados R$ 56 milhões a tais projetos em 141 entidades.
Segundo Luiz Henrique Lopes dos Santos, membro da diretoria da Fapesp e professor de filosofia da USP, entre as instituições paulistas só a UFABC (Universidade Federal do ABC) tem um órgão do tipo em seu organograma.
"Faz cinco anos que todo mundo está avisado que isso aconteceria. Está no termo de outorga assinado pelo responsável da instituição", diz.
O escritório de integridade acadêmica deve cuidar de atividades de educação, treinamento e investigação de casos de plágio e de outros desvios de conduta, como fraudes em artigos científicos.
"É um recado para os pesquisadores", diz Santos. Para ele, o avanço obtido até então é muito discreto. "Hoje, mesmo as instituições que montam comissões ou sindicâncias para investigar casos de fraude são muito lenientes."
Em 2014, a Fapesp, como parte de seu projeto de boas práticas científicas, publicou uma espécie de "página da vergonha" na internet. A lista tem nomes de pesquisadores que, segundo decisão da fundação (baseada em suas investigações), tiveram conduta irregular.
Para Santos, o número de casos ainda sob investigação é grande e só deve ser reduzido com a implementação de uma política adotada por esses escritórios de integridade acadêmica, de forma que a cultura acadêmica se modifique. Ele defende a ideia de que são as próprias instituições que devem investigar e punir desvios éticos.
"Esperamos um dia não precisar impedir ninguém de pedir recursos para a Fapesp", diz o professor.
FERRAMENTA
Entre os recursos que podem ser utilizados para reduzir o número de plágios estão ferramentas que checam a semelhança entre textos acadêmicos e outros disponíveis na internet e quantificam as informações extraídas de outras fontes –algo como uma porcentagem de plágio.
Laércio Dona, diretor comercial da plataforma Turnitin (adotada por USP, FGV e Unesp, entre outras instituições), explica que os softwares atuais não são capazes de detectar o plágio de ideias, apenas o de texto.
Mas houve avanços nos últimos tempos: já é possível detectar paráfrases, substituição de palavras e expressões por sinônimos, traduções e mudança de orações para a voz passiva, por exemplo.
"Assim como as pessoas aprendem a driblar a tecnologia, é possível aperfeiçoar a tecnologia para reconhecer essas táticas", diz Dona.
Ele afirma que metade dos trabalhos acadêmicos que passam pela plataforma contém mais de 50% de conteúdo não original.
Segundo a pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da Universidade Mackenzie Helena Pereira, esses checadores de plágio oferecem uma segurança jurídica para as instituições privadas.
Segundo ela, no Mackenzie houve reprovações de mestrandos e doutorandos e até demissão de docentes por causa da cópia de textos.
Nas instituições públicas, o cenário é mais complicado, afirma o professor da UnB Hermes França. "Punir o aluno em casos de plágio é muito difícil. Se o professor não tiver o caso bem documentado, é ele quem acaba sendo processado e punido", afirma.
Outro problema citado por França são as represálias a docentes que denunciam desvios éticos dos colegas.
Os escritórios de integridade científica, munidos de ferramentas de análise, podem ser uma solução, diz Pereira, já que, nesses casos, haveria uma "despersonalização" de quem checa a originalidade.
EDUCATIVO
Quando alguém comete uma fraude acadêmica, a preocupação muitas vezes é a de evitar a punição, e não a de evitar prejudicar outro pesquisador ou a própria ciência. O grande desafio das instituições é elaborar estratégias para mudar essa cultura que, segundo especialistas, impera no país.
A adoção de plataformas antiplágio pode ter também um caráter educativo –quando os "índices de semelhança" são compartilhados com os alunos de graduação e pós-graduação e são usados para aperfeiçoar o processo de produção de texto.
Segundo o professor de filosofia da USP Luiz Henrique Santos, a meta é tornar o pesquisador ainda mais consciente de que a ciência é uma construção coletiva e que só faz sentido fazê-la se for algo verdadeiro e potencialmente duradouro.
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