Raquel Cunha - 17.out.2016/Folhapress | ||
Alunos brincam em creche; 74,5% dos menores de 4 anos no país não frequentam estabelecimentos |
Há inúmeras evidências baseadas em pesquisas rigorosas de que o pico da capacidade de desenvolvimento das crianças é atingido logo em seus primeiros anos de vida.
Um grupo de pesquisadores liderados por Sally Grantham-McGregor e Yin Bun Cheung estimou, em um estudo de 2007, que mais de 200 milhões de crianças de países em desenvolvimento não atingiam esse potencial aos cinco anos por problemas como desnutrição e falta de estímulos adequados.
Os autores mostraram que esse deficit tem inúmeras consequências negativas, como renda 20% menor na vida adulta.
As desigualdades de oportunidade na infância cobram, portanto, um preço alto no futuro. Isso ocorre tanto individualmente quanto para o país como um todo, já que crianças que não se desenvolvem plenamente serão profissionais menos produtivos no futuro.
Por isso um coro crescente de especialistas pede mais atenção de governos e famílias para a primeira infância. E esse é um dos motivos pelos quais se fala tanto da importância de ampliar a oferta de vagas em creches.
Uma pesquisa divulgada na semana passada pelo IBGE mostra que, nesse sentido, o Brasil vai muito mal, obrigada.
Com base em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2015, o instituto mostrou que a vasta maioria das crianças brasileiras menores de quatro anos (74,5% do total) não frequenta creches ou escolas.
Nesse grupo, estão justamente as que vêm de famílias mais pobres e, portanto, são mais carentes de estímulos adequados.
Segundo o IBGE, a renda domiciliar das crianças que permanecem em casa o dia todo equivale a 56,7% do rendimento daquelas que frequentam creches em período integral.
Esse dado corrobora uma tendência que já tinha sido apontada por Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper. Com base em dados da Pnad até 2014, o pesquisador e sua equipe notaram que a oferta de vagas em creches no país vinha aumentando mais rapidamente para crianças de famílias menos desfavorecidas.
Além da desigualdade no acesso a creches, os dados elaborados mais recentemente pelo IBGE indicam que o ritmo do crescimento de vagas —para as crianças como um todo— tem sido lento.
Nos últimos anos, a cobertura tem crescido cerca de um ponto percentual por ano. Nessa toada, passaremos dos 25,6% registrados em 2015 para cerca de 35% em 2024, ano em que o país deveria ter pelo menos 50% das crianças menores de quatro anos de idade em creches, segundo meta do PNE (Plano Nacional de Educação).
Dadas as severas restrições orçamentárias enfrentadas pelas administrações públicas do país, sejamos realistas: a maioria das nossas crianças permanecerão fora de creches e escolinhas por muito tempo.
É preciso honestidade sobre esse diagnóstico para pensarmos em alternativas eficazes. E elas existem.
Pesquisas mostram que há formas efetivas de estímulo ao desenvolvimento infantil —jogos, leitura de histórias, incentivos verbais— que podem ser adotadas em casa.
Mas há uma dificuldade à chegada desse tipo de cuidado às crianças mais necessitadas, que é o menor acesso à informação entre seus cuidadores.
Os dados do IBGE mostram, por exemplo, que 26% dos adultos que se declaram os principais responsáveis pelas crianças brasileiras têm baixa escolaridade (menos de sete anos de estudo).
Mas isso não deveria ser uma barreira intransponível.
Há evidências de que programas de visitação domiciliar bem-feitos, em que profissionais treinados levam informações às famílias mais carentes, têm impacto muito positivo no desenvolvimento infantil.
O "Criança Feliz", lançado ano passado pelo governo federal, é uma tentativa de adotar esse tipo de estratégia em larga escala no país.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, responsável pelo projeto, o programa está agora na fase de treinamento dos visitadores. É cedo, portanto, para avaliar seus resultados. Mas é importante que isso comece a ser feito assim que possível.
Um dos inúmeros problemas do Brasil é a falta de avaliação da efetividade das políticas públicas adotadas.
Dada a urgência do acesso a cuidados adequados a todas as crianças brasileiras, não podemos nos dar ao luxo de esperar anos a fio para saber se nossos tiros estão acertando o alvo.
Um grupo de pesquisadores liderados por Sally Grantham-McGregor e Yin Bun Cheung estimou, em um estudo de 2007, que mais de 200 milhões de crianças de países em desenvolvimento não atingiam esse potencial aos cinco anos por problemas como desnutrição e falta de estímulos adequados.
Os autores mostraram que esse deficit tem inúmeras consequências negativas, como renda 20% menor na vida adulta.
As desigualdades de oportunidade na infância cobram, portanto, um preço alto no futuro. Isso ocorre tanto individualmente quanto para o país como um todo, já que crianças que não se desenvolvem plenamente serão profissionais menos produtivos no futuro.
Por isso um coro crescente de especialistas pede mais atenção de governos e famílias para a primeira infância. E esse é um dos motivos pelos quais se fala tanto da importância de ampliar a oferta de vagas em creches.
Uma pesquisa divulgada na semana passada pelo IBGE mostra que, nesse sentido, o Brasil vai muito mal, obrigada.
Com base em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2015, o instituto mostrou que a vasta maioria das crianças brasileiras menores de quatro anos (74,5% do total) não frequenta creches ou escolas.
Nesse grupo, estão justamente as que vêm de famílias mais pobres e, portanto, são mais carentes de estímulos adequados.
Segundo o IBGE, a renda domiciliar das crianças que permanecem em casa o dia todo equivale a 56,7% do rendimento daquelas que frequentam creches em período integral.
Esse dado corrobora uma tendência que já tinha sido apontada por Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper. Com base em dados da Pnad até 2014, o pesquisador e sua equipe notaram que a oferta de vagas em creches no país vinha aumentando mais rapidamente para crianças de famílias menos desfavorecidas.
Além da desigualdade no acesso a creches, os dados elaborados mais recentemente pelo IBGE indicam que o ritmo do crescimento de vagas —para as crianças como um todo— tem sido lento.
Nos últimos anos, a cobertura tem crescido cerca de um ponto percentual por ano. Nessa toada, passaremos dos 25,6% registrados em 2015 para cerca de 35% em 2024, ano em que o país deveria ter pelo menos 50% das crianças menores de quatro anos de idade em creches, segundo meta do PNE (Plano Nacional de Educação).
Dadas as severas restrições orçamentárias enfrentadas pelas administrações públicas do país, sejamos realistas: a maioria das nossas crianças permanecerão fora de creches e escolinhas por muito tempo.
É preciso honestidade sobre esse diagnóstico para pensarmos em alternativas eficazes. E elas existem.
Pesquisas mostram que há formas efetivas de estímulo ao desenvolvimento infantil —jogos, leitura de histórias, incentivos verbais— que podem ser adotadas em casa.
Mas há uma dificuldade à chegada desse tipo de cuidado às crianças mais necessitadas, que é o menor acesso à informação entre seus cuidadores.
Os dados do IBGE mostram, por exemplo, que 26% dos adultos que se declaram os principais responsáveis pelas crianças brasileiras têm baixa escolaridade (menos de sete anos de estudo).
Mas isso não deveria ser uma barreira intransponível.
Há evidências de que programas de visitação domiciliar bem-feitos, em que profissionais treinados levam informações às famílias mais carentes, têm impacto muito positivo no desenvolvimento infantil.
O "Criança Feliz", lançado ano passado pelo governo federal, é uma tentativa de adotar esse tipo de estratégia em larga escala no país.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, responsável pelo projeto, o programa está agora na fase de treinamento dos visitadores. É cedo, portanto, para avaliar seus resultados. Mas é importante que isso comece a ser feito assim que possível.
Um dos inúmeros problemas do Brasil é a falta de avaliação da efetividade das políticas públicas adotadas.
Dada a urgência do acesso a cuidados adequados a todas as crianças brasileiras, não podemos nos dar ao luxo de esperar anos a fio para saber se nossos tiros estão acertando o alvo.
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