Moacyr Lopes Junior - 23.set.16/Folhapress | ||
Jovens durante aula de educação artística em escola pública de São Paulo |
Por que a maioria das escolas não quer ouvir seus alunos, preferindo resolver e tratar com os pais as situações difíceis que os alunos criam ou enfrentam no espaço escolar? Por que não considera os argumentos, posições e opiniões daqueles que são o foco de seu trabalho?
O alunado não tem voz nas escolas, a não ser para dizer o que a escola quer ouvir, e apenas quando ela pede que seja dito. Exatamente como há 10, 50, 100 anos atrás. O pior é que a maioria das famílias quer que seja assim!
Quase todos esperam as inovações tecnológicas com ansiedade. Carros, celulares, computadores, aparelhos eletrônicos domésticos, móveis e peças de vestuário, por exemplo, não devem continuar a ser sempre os mesmos: esperamos que melhorem, que tragam novidades, avanços. Estamos no século 21, afinal!
Mas esse raciocínio não se aplica ao trabalho, ao funcionamento e à organização escolar. É uma minoria de pais que estranha, por exemplo, que a escola os chame para tentar resolver questões da vida de seus filhos, que são alunos da escola.
A mãe de uma jovem que frequenta o ensino médio me escreveu para contar que, num dia de prova, a filha passou muito mal, com intoxicação alimentar. A garota, aluna dedicada, ligou para a escola, explicou o que estava ocorrendo e solicitou uma nova data para realizar a prova. Recebeu uma resposta negativa.
A mãe ficou zangada com a filha por ela ter decidido fazer isso sem consultá-la, foi à escola e, segundo ela mesma, "consertou" a situação, ou seja, a garota pode fazer a prova num outro dia. Depois, pensando melhor, essa mãe me escreveu perguntando se, já que a escola a tinha ouvido, não deveria ter antes ouvido sua aluna?
Outra mãe de aluna, esta já indignada, também escreveu para dizer que sua filha transgrediu uma regra do espaço escolar com outras colegas, e a direção convocou os pais de todas elas para comunicar a suspensão por três dias. Essa mãe estava ciente do ocorrido, mas pediu que as alunas estivessem presentes nessa reunião, e ouviu a direção dizer que aquela não era uma conversa para ter com as alunas, e sim com seus pais. E os demais pais presentes concordaram!
A vida escolar deveria ser tratada e resolvida entre alunos e escola. Diretamente, sem intermediações.
Por que colocar os pais no meio disso, ou melhor, por que eleger os pais como os personagens principais para tratar o que deveria ser tratado, negociado e resolvido diretamente com os alunos?
E ainda temos de ouvir discursos das escolas de que elas educam para a autonomia, o protagonismo, a cidadania, blá-blá-blá! Ora, como praticar essa educação chamando os pais para resolver os problemas?
Um grande número de crianças e jovens estão sendo criados pelas famílias e pelas escolas para que sejam dependentes, isso sim. De um lado, as escolas chamando os pais e contando tudo o que lá acontece com os alunos. Do outro, pais que esperam que seja assim mesmo e que reclamam quando isso não ocorre. Até nos cursos de graduação os pais são chamados!
Nossa sorte é que temos famílias –poucas, ainda– que não pensam assim, e crianças e jovens que não aceitam essa posição de passividade imposta e que, de um modo ou de outro, conseguem expressar que sua presença é a mais valiosa na escola, não a de seus pais.
O alunado não tem voz nas escolas, a não ser para dizer o que a escola quer ouvir, e apenas quando ela pede que seja dito. Exatamente como há 10, 50, 100 anos atrás. O pior é que a maioria das famílias quer que seja assim!
Quase todos esperam as inovações tecnológicas com ansiedade. Carros, celulares, computadores, aparelhos eletrônicos domésticos, móveis e peças de vestuário, por exemplo, não devem continuar a ser sempre os mesmos: esperamos que melhorem, que tragam novidades, avanços. Estamos no século 21, afinal!
Mas esse raciocínio não se aplica ao trabalho, ao funcionamento e à organização escolar. É uma minoria de pais que estranha, por exemplo, que a escola os chame para tentar resolver questões da vida de seus filhos, que são alunos da escola.
A mãe de uma jovem que frequenta o ensino médio me escreveu para contar que, num dia de prova, a filha passou muito mal, com intoxicação alimentar. A garota, aluna dedicada, ligou para a escola, explicou o que estava ocorrendo e solicitou uma nova data para realizar a prova. Recebeu uma resposta negativa.
A mãe ficou zangada com a filha por ela ter decidido fazer isso sem consultá-la, foi à escola e, segundo ela mesma, "consertou" a situação, ou seja, a garota pode fazer a prova num outro dia. Depois, pensando melhor, essa mãe me escreveu perguntando se, já que a escola a tinha ouvido, não deveria ter antes ouvido sua aluna?
Outra mãe de aluna, esta já indignada, também escreveu para dizer que sua filha transgrediu uma regra do espaço escolar com outras colegas, e a direção convocou os pais de todas elas para comunicar a suspensão por três dias. Essa mãe estava ciente do ocorrido, mas pediu que as alunas estivessem presentes nessa reunião, e ouviu a direção dizer que aquela não era uma conversa para ter com as alunas, e sim com seus pais. E os demais pais presentes concordaram!
A vida escolar deveria ser tratada e resolvida entre alunos e escola. Diretamente, sem intermediações.
Por que colocar os pais no meio disso, ou melhor, por que eleger os pais como os personagens principais para tratar o que deveria ser tratado, negociado e resolvido diretamente com os alunos?
E ainda temos de ouvir discursos das escolas de que elas educam para a autonomia, o protagonismo, a cidadania, blá-blá-blá! Ora, como praticar essa educação chamando os pais para resolver os problemas?
Um grande número de crianças e jovens estão sendo criados pelas famílias e pelas escolas para que sejam dependentes, isso sim. De um lado, as escolas chamando os pais e contando tudo o que lá acontece com os alunos. Do outro, pais que esperam que seja assim mesmo e que reclamam quando isso não ocorre. Até nos cursos de graduação os pais são chamados!
Nossa sorte é que temos famílias –poucas, ainda– que não pensam assim, e crianças e jovens que não aceitam essa posição de passividade imposta e que, de um modo ou de outro, conseguem expressar que sua presença é a mais valiosa na escola, não a de seus pais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário