1 de março de 2013

Violencia contra a mulher


Comerciária é morta a facadas no dia de lançamento da campanha pelo fim da violência contra a mulher

01/03/2013 - 18h29
Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O assassinato de uma comerciária em um shopping de Brasília, cometido pelo companheiro dela, a apenas uma semana do Dia Internacional da Mulher (comemorado em 8 de Março), deixa evidente que o fim da violência contra a mulher ainda está longe de ser alcançado. O crime coincide com o exato dia em que o Banco Mundial lança, com a colaboração de celebridades, uma campanha para sensibilizar a população para o problema.
Segundo o Mapa da Violência, publicado em 2012, pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), mais de 92 mil mulheres foram assassinadas no país entre os anos de 1980 e 2010. Durante o período, o número de assassinatos de mulheres mais de três vezes, saltando de 1.353 casos para 4.465 registros. Tendência que, segundo especialistas, se manteve nos últimos dois anos.
Em 2011, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, registrou 70.270 atendimentos a mulheres vítimas da violência. A maioria delas tinha entre 15 e 29 anos e foi agredida por maridos ou namorados. Caso da comerciária Fernanda Grasielly Almeida Alves. Esfaqueada pelo companheiro na manhã de hoje (1º), no interior de uma loja do shopping de Brasília onde trabalhava, ela não resistiu ao ferimento e morreu no local. Detido por seguranças, o homem foi levado para a 3ª Delegacia de Polícia.
A morte da comerciária coincide de forma trágica com o início do Mês da Mulher e com o lançamento da campanha do Banco Mundial. A campanha conta com a participação de atores como Cauã Reymond, Gabriel Braga Nunes e Thiago Fragoso e de atletas como o judoca Flávio Canto. Eles aceitaram posar, gratuitamente, segurando cartazes onde se lê a frase "Homem de Verdade Não Bate em Mulher", mote da campanha. Uma das fotos oficiais traz a biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes. Militante na luta pelos direitos das mulheres, Maria da Penha ficou paraplégica após o ex-marido tentar matá-la. Na luta para que o agressor fosse punido, Maria da Penha acabou inspirando a aprovação da Lei Maria da Penha, sancionada em 2006.
A proposta do Banco Mundial é que cidadãos de todo o país participem da iniciativa. Para tanto, basta tirar uma foto segurando um cartaz com a mensagem "Homem de Verdade Não Bate em Mulher" e postar no Instagram ou no Twitter (@worldbanklac) com a hashtag #souhomemdeverdade.  
Em nota, o Banco Mundial explica que o objetivo da campanha é acabar com o estigma de que a Lei Maria da Penha é contra os homens. “A igualdade entre os gêneros é fundamental para o desenvolvimento e a produtividade econômica. Os homens não perdem nada quando os direitos femininos são promovidos. Pelo contrário, estudos indicam que relações equilibradas são boas para as mulheres, homens e famílias”, argumenta a diretora do Banco Mundial para o Brasil, Deborah Wetzel.
Segundo o sociólogo Julio Jacobo, responsável pela elaboração do Mapa da Violência no Brasil, os dados do Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, revelaram que, em comparação com 2006 e anos anteriores, o número de assassinatos de mulheres chegou a apresentar uma ligeira queda em 2007, primeiro ano de vigência da Lei Maria da Penha. As ocorrências, contudo, voltaram a aumentar a partir de 2008.
“Por um lado, provavelmente aumentou o nível de denúncias apresentadas pelas mulheres. O que antes pertencia a estrita esfera privada, familiar, hoje entrou para a esfera pública, propiciando as denúncias”, disse Jacobo à Agência Brasil. Em relação ao Mapa da Violência, o sociólogo defende que o grande número de assassinatos está frequentemente associado a uma conjuntura marcada por um elevado nível de tolerância à violência contra a mulher.
“Os mecanismos por meio dos quais essa tolerância atua em nosso meio podem ser variados, mas um é preponderante: a culpabilização da vítima como forma de justificar essa forma de violência. É o que ocorre, por exemplo, quando se diz que uma mulher estuprada foi quem provocou o incidente. Ou que ela se vestia como 'vadia'", acrescentou Jacobo.
Edição: Carolina Pimentel//Texto atualizado às 18h56

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