A Universidade de Stanford foi a primeira instituição a apostar no Mooc (Massive Open Online Course, em inglês), em 2011. O curso Inteligência Artificial atraiu 160 mil pessoas ao redor do mundo. Hoje, uma das principais plataformas de Moocs, o Coursera, reúne 62 instituições, como Stanford e Columbia, e tem 4 milhões de usuários. O segredo? Os Moocs são cursos livres – qualquer pessoa pode fazê-los, independentemente do nível de instrução –, não têm seleção, são a distância e gratuitos. Basta se inscrever e cursar.
Agora, os Moocs chegam com força ao Brasil. Já estão em duas das principais instituições do País, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Brasília (UnB), e neste semestre devem ser oferecidos por outras seis: Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Fundação Getúlio Vargas (FGV), Pontifícias Universidades Católicas de São Paulo (PUC-SP) e Rio de Janeiro (PUC-Rio) e Universidade Federal de Campina Grande.
A Unesp, por exemplo, deve oferecer certificados e tutoria para seus cursos online, que hoje estão disponíveis na plataforma Unesp Aberta, transformando-os em Moocs. Atualmente, há um projeto-piloto para funcionários da instituição. Nem todas as instituições oferecem certificados e muitas cobram por eles.
A universidade está elaborando também parcerias com instituições estrangeiras, principalmente dos EUA e da Dinamarca, para promover uma "mobilidade virtual" em disciplinas de graduação a partir de 2014. "Na Unesp, os Moocs dessas universidades valeriam como disciplina optativa", afirma Klaus Schlünzen Junior, coordenador do Núcleo de Educação a Distância da Unesp (NEaD).
A PUC-SP também criou um projeto-piloto: um grupo coordenado pelo professor João Mattar desenvolveu o Mooc de língua portuguesa com a plataforma Redu. Já há mais de 5 mil inscritos. "Estamos também investigando as experiências internacionais. O que vimos é que há uma taxa de evasão muito grande. O nosso desafio é pensar em estratégias para fazer com que mais pessoas cheguem ao fim desses cursos", diz Angelita Quevedo, coordenadora de Educação a Distância da PUC-SP.
Em Harvard, por exemplo, que tem a plataforma edX com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), só 0,9% dos inscritos em Introdução à Ciência da Computação conseguiram concluí-lo (1.388 dos 150.349 matriculados), disse o professor do Mooc, David Malan, em texto publicado na universidade. Em comparação, 703 dos 706 inscritos na forma presencial da mesma disciplina conseguiram terminá-la.
Barreira. O número de brasileiros que se matriculam nos Moocs só não é maior, segundo especialistas, porque as aulas disponíveis na web hoje são principalmente em inglês.
Para ampliar o acesso, a Fundação Lemann vai traduzir para o português os cursos do Coursera. O portal Universia, que possui o site Miríada X, com Moocs em espanhol, também quer adaptar o conteúdo para a língua portuguesa.
Esses cursos encantaram tanto os brasileiros que hoje o País é o terceiro com maior número de usuários registrados no Coursera: 4% dos 4 milhões. Fica atrás dos EUA e da Índia, onde os Moocs revolucionaram a educação.
O designer de jogos paulistano Hugo Daniel Oliveira, de 21 anos, foi convidado para fazer o primeiro Mooc da Stanford e, desde então, não parou mais. Fez outros 15. "Vi que aquilo seria uma mudança na forma como as pessoas aprendem na internet. As universidades brasileiras, infelizmente, ainda estão bem atrás do que se faz nos EUA."
Outro brasileiro que se encantou com os Moocs foi o enfermeiro Júlio Rennê Santos, de 35 anos, de Manaus. Ele faz parte do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da capital do Amazonas e fez o curso de Ciência da Parada Cardíaca, Hipotermia e Ressuscitação da Universidade de Pensilvânia no Coursera.
"No País, temos pouquíssimos centros de referencia em parada cardiorrespiratória e eles estão nas grandes cidades, como São Paulo e Rio. Ficam longe de Manaus e são muito caros", afirma Santos.
O envolvimento dele com o Mooc foi tão grande que o professor responsável pelo curso o convidou para fazer um intercâmbio na Universidade de Pensilvânia em 2014. Ao mesmo tempo, alunos da instituição virão para o Brasil.
Como o enfermeiro, outros brasileiros também podem assistir a aulas de universidades de ponta em casa. "Esses cursos transformam a educação de alta qualidade, tradicionalmente destinada a poucos, em um ensino de massa, que era reconhecido por ter qualidade inferior", afirma Martha Gabriel, especialista em revolução digital na educação e autora do livro Educ@r.
Para todos. Hoje, qualquer pessoa pode assistir a aulas dadas na Engenharia da Escola Politécnica da USP. Docentes da instituição transformaram a disciplina Probabilidade e Estatística, que já era oferecida online aos alunos da graduação desde 2011, em um curso aberto no portal Veduca. "Só dentro da universidade temos mais de mil alunos que já cursaram a disciplina usando essa estrutura, e a aprovação é muito alta", diz André Fleury, um dos coordenadores do Mooc.
A universidade foi a primeira da América Latina a criar seu Mooc. Lançou, junto com o de Probabilidade, o de Física. Juntos, eles já têm mais de 14 mil inscritos.
Neste mês, outra universidade pública – a primeira federal – lançou um Mooc, a UnB, com o tema Bioenergética, também oferecido no site Veduca.
Além das altas taxas de evasão, outro problema encontrado pelas universidades que oferecem Moocs é como comprovar o que o aluno aprendeu. Os métodos de avaliação ainda estão sendo discutidos. No Brasil, para obter um certificado é preciso fazer uma prova presencial.
Para Salman Khan, criador da plataforma digital de educação Khan Academy, o diploma já perdeu seu valor e diz pouco sobre as competências do aluno. "Como dar às pessoas algo que deixe evidente o que elas sabem? Precisamos de uma solução para isso", disse em entrevista ao ‘Estado’, no início do ano.
Há pesquisadores que afirmam que as universidades cobrarão pelos certificados e os Moocs se tornarão, então, novos modelos de negócio. Plataformas como o Coursera já começaram a cobrar.