30 de julho de 2013

Fair Play perde espaço e admiração

LENTE
Mais um Tour de France se encerrou há poucos dias. Agora, entra em cena outro ritual dos esportes de verão: as especulações sobre se o vencedor correu dopado.
Também já existe competição pela atenção das pessoas para esse tipo de escândalo. Um dia depois de Chris Froome vencer a famosa Volta da França, deixando observadores curiosos para saber se sua conquista se deu por meios naturais, as notícias de doping saltaram para a outra margem do Atlântico, onde a Major League Baseball anunciou a suspensão de Ryan Braun, um de seus melhores jogadores, pelo resto da temporada.
Como Lance Armstrong e outros atletas que caíram na teia das drogas que melhoram o desempenho esportivo, Braun alegou sua inocência por muito tempo, até admitir: "Percebo agora que cometi alguns erros".
Em outra área esportiva, três velocistas famosos reconheceram em junho que foram reprovados em exames de doping, levando adiante uma série de casos de doping no atletismo. Entre eles, estão o americano Tyson Gay, ex-campeão mundial, e o jamaicano Asafa Powell, detentor do recorde mundial dos cem metros rasos, até ser superado por Usain Bolt.
Chris Froome e sua equipe vêm se esforçando para convencer os céticos de que o ciclista britânico não recorreu aos atalhos que viraram epidemia nos esportes. Mas as suspeitas, acusações, negações, punições e eventuais confissões se sucedem sem parar.
Os dramas do doping são apenas a manifestação mais visível de um "éthos" de "vencer a qualquer custo", que, embora talvez não seja pior do que no passado, vem sendo exibido recentemente em várias áreas. A ver:
Acusações sobre trapaças de um tipo mais antiquado emergiram na ginástica rítmica -cometidas não por atletas, mas por juízes na tentativa de se qualificarem para atuar nas Olimpíadas e outras competições de alto nível, informou o "New York Times". Dezenas de pessoas são suspeitas de terem copiado as respostas uma das outras, além de cometer outras infrações, durante exames realizados em toda a Europa. Alguns dos inspetores de provas também foram acusados de envolvimento. A Federação Internacional de Ginástica aplicou medidas disciplinares contra vários funcionários olímpicos, e o funcionário de mais alto escalão foi proibido de atuar nas Olimpíadas de 2012.
A notícia não surpreende as pessoas que atuam no esporte. "Problemas com os juízes na ginástica rítmica são quase tão comuns quanto problemas de doping no ciclismo", disse ao NYT a australiana Janine Murray, que competiu nas Olimpíadas do ano passado.
Nos Jogos Universitários Mundiais em Moscou, os anfitriões russos foram criticados, mesmo em seu próprio país, pela equipe que levaram para competir, informou o NYT. Os jogos são um encontro bienal de boa vontade para atletas estudantis, mas a equipe russa, que incluiu 18 medalhistas olímpicos, conquistou 155 medalhas de ouro. Os chineses, no segundo lugar, levaram 26.
Um lapso ético ocorreu até mesmo no críquete, em que o espírito esportivo é altamente valorizado. Numa partida recente contra a Austrália, um batedor inglês causou indignação quando não deixou o campo por sua própria iniciativa, depois de o árbitro ter deixado de lhe dar a ordem.
Denunciar um erro próprio pode ser inimaginável no ciclismo, no beisebol e até na ginástica rítmica, mas é o que muitos esperam no críquete. O radialista britânico Peter Allen perguntou: "Por que não poderíamos ter jogado com 'fair play' aqui, onde os jogadores de críquete agem como cavalheiros e nós sabemos o que é o certo?"
Não é essa a atitude que se verifica numa quadra de handball em Nova York, pelo menos não quando Joe Durso joga. Durso pratica o esporte há 40 anos e tem muitos títulos nacionais. Ele também é campeão dos insultos e críticas ferrenhas. Ele malha seus adversários e os espectadores. Se não concorda com uma atitude do juiz, abandona a quadra. "Praticar esporte não é ser educado, é tentar dominar a outra pessoa", acredita.
ALAN MATTINGLY

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