ÉTORE MEDEIROS, Correio Brasiliense, 31/7/2013
Valparaíso (GO) é a cidade do Entorno que oferece melhor condição de vida para a população, de acordo com o IDHM 2013. O índice leva em conta fatores como educação, renda e expectativa de vida, mas acaba por omitir a influência direta da violência na qualidade de vida. Com Formosa, Cidade Ocidental e Luziânia, o município forma o quarteto de cidades goianas do Entorno com um índice considerado "alto", mas que também frequentam outra lista, bem menos honrosa: a das mais violentas do Brasil. "O IDHM se baseia ainda em um modelo antigo, então, nem sempre capta novos fenômenos ou novas necessidades. Pelo que vi, não existem indicadores sensíveis à violência, por exemplo", avalia Julio Jacobo Waiselfisz, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela).
O pesquisador coordenou a confecção do Mapa da Violência 2013. Segundo a publicação, lançada em julho, as quatro cidades mais bem avaliadas pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Entorno também ocupam altas posições no ranking da violência. Luziânia, por exemplo, é o 12º município com maior número de jovens assassinados, e a 21º em homicídios em todas as faixas etárias. Valparaíso (26ª), Cidade Ocidental (38ª) e Formosa (76ª) também figuram na lista de violência contra os jovens.
"Talvez, alguns indicadores relativos à educação sejam mais sensíveis à violência. Existe uma correlação entre repetência, abandono escolar e violência, não só no Entorno, mas nacionalmente. Ainda assim, é baixa a sensibilidade do IDHM ao fenômeno da violência", explica Julio Jacobo. Entre os fatores avaliados pelo índice do PNUD, a educação é ponto fraco dos quatro municípios goianos, tendo sido classificada como de "médio" desenvolvimento.
"Valparaíso, Águas Lindas e Novo Gama, por exemplo, mostram a forma de o IDHM funcionar para indicadores clássicos ? a renda, por exemplo ?, mas não alcança ainda fenômenos mais contemporâneos, como a cultura da violência", avalia o consultor em segurança pública George Felipe Dantas. Segundo ele, essa cultura se instala sobretudo entre indivíduos jovens e do sexo masculino, e pode ser enfrentada desde a sala de aula. "A escola deve formar o aluno para o mercado de trabalho, mas, principalmente, como cidadão. Infelizmente, existe, nas nossas escolas, uma falta de preparo para a cidadania, e as próprias instituições viraram palcos de reprodução da violência", lamenta o especialista.
Retrato parcial do Entorno
Pesquisa do IDHM aponta avanço nas cidades vizinhas do DF nos últimos 20 anos. Índice, porém, não considera a infraestrutura e a qualidade de serviços, que são as principais reclamações da população da região» ANA POMPEU
» SHEILA OLIVEIRA
Os contrastes continuam imensos, mas é possível ver algum avanço. Distrito Federal e Entorno mostraram melhoras, segundo os dados apresentados pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. Coordenador do estudo pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marco Aurélio Costa entende que as cidades da Região Integrada de Desenvolvimento (Ride) conseguiram evoluir de forma considerável nas últimas duas décadas. "Para algumas pessoas, pode ser uma surpresa dizer que o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) dessas localidades não seja ruim. Mas o índice não trata de infraestrutura e qualidade de serviços, que é o visível. Ele leva em conta as pessoas", esclarece. Nesse sentido, Marco Aurélio exemplifica as mudanças positivas com análises de renda. "Brasília é apenas a 13ª cidade em evolução de renda. Água Fria chegou a 213% de melhora."
A renda per capita de capital é quatro vezes e meia maior que a de Vila Boa, a menor entre os municípios do Ride em 2010. Mesmo com acréscimos significativos, os ganhos das cidades do Entorno não alcançaram, em 2010, o valor per capita que Brasília já registrava em 1991. Naquele ano, os brasilienses ganhavam, em média, R$ 916. Na pesquisa atual, Valparaíso tem renda de R$ 764,73. Apesar do incremento de renda, o coordenador do Ipea afirma que o bom desempenho nos indicadores de educação e longevidade pode ter sido responsável por elevar o IDHM dessas cidades, variando em cada caso.
A falta de acesso aos serviços básicos, como saúde, educação, segurança e transporte, é uma reclamação recorrente entre os moradores do Entorno do DF. Muitos culpam a péssima condição de vida, tais como baixa renda, aumento da fecundidade e mortalidade, por esses problemas. A auxiliar de serviços gerais Cássia de Oliveira, 53 anos, moradora do bairro Lunabel no Novo Gama (GO), percorre todos os dias 60km para trabalhar no Aeroporto Juscelino Kubitschek. "Se houvesse empresas na região onde os habitantes pudessem trabalhar, não precisaríamos sofrer essa via-crúcis do transporte público. Pego uma van e um ônibus para chegar ao emprego. Isso contribui para o desgaste da pessoa. Ficamos doentes", diz.
Enquanto as mulheres em idade reprodutiva de Brasília optam por ter menos filhos, as famílias do Entorno registram o aumento da taxa de fecundidade. Essa situação, na maioria das vezes, se deve à falta de planejamento familiar. Aos 34 anos, a dona de casa Ana Paula Sousa tem três filhos, de 15, 14 e 12 anos. "Tive uma gravidez atrás da outra. Quando chegou o último filho, decidi usar um método contraceptivo. Criar os três em uma região sem infraestrutura, como a cidade Ocidental, é um desafio muito grande", conta.
» SHEILA OLIVEIRA
Os contrastes continuam imensos, mas é possível ver algum avanço. Distrito Federal e Entorno mostraram melhoras, segundo os dados apresentados pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. Coordenador do estudo pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marco Aurélio Costa entende que as cidades da Região Integrada de Desenvolvimento (Ride) conseguiram evoluir de forma considerável nas últimas duas décadas. "Para algumas pessoas, pode ser uma surpresa dizer que o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) dessas localidades não seja ruim. Mas o índice não trata de infraestrutura e qualidade de serviços, que é o visível. Ele leva em conta as pessoas", esclarece. Nesse sentido, Marco Aurélio exemplifica as mudanças positivas com análises de renda. "Brasília é apenas a 13ª cidade em evolução de renda. Água Fria chegou a 213% de melhora."
A renda per capita de capital é quatro vezes e meia maior que a de Vila Boa, a menor entre os municípios do Ride em 2010. Mesmo com acréscimos significativos, os ganhos das cidades do Entorno não alcançaram, em 2010, o valor per capita que Brasília já registrava em 1991. Naquele ano, os brasilienses ganhavam, em média, R$ 916. Na pesquisa atual, Valparaíso tem renda de R$ 764,73. Apesar do incremento de renda, o coordenador do Ipea afirma que o bom desempenho nos indicadores de educação e longevidade pode ter sido responsável por elevar o IDHM dessas cidades, variando em cada caso.
A falta de acesso aos serviços básicos, como saúde, educação, segurança e transporte, é uma reclamação recorrente entre os moradores do Entorno do DF. Muitos culpam a péssima condição de vida, tais como baixa renda, aumento da fecundidade e mortalidade, por esses problemas. A auxiliar de serviços gerais Cássia de Oliveira, 53 anos, moradora do bairro Lunabel no Novo Gama (GO), percorre todos os dias 60km para trabalhar no Aeroporto Juscelino Kubitschek. "Se houvesse empresas na região onde os habitantes pudessem trabalhar, não precisaríamos sofrer essa via-crúcis do transporte público. Pego uma van e um ônibus para chegar ao emprego. Isso contribui para o desgaste da pessoa. Ficamos doentes", diz.
Enquanto as mulheres em idade reprodutiva de Brasília optam por ter menos filhos, as famílias do Entorno registram o aumento da taxa de fecundidade. Essa situação, na maioria das vezes, se deve à falta de planejamento familiar. Aos 34 anos, a dona de casa Ana Paula Sousa tem três filhos, de 15, 14 e 12 anos. "Tive uma gravidez atrás da outra. Quando chegou o último filho, decidi usar um método contraceptivo. Criar os três em uma região sem infraestrutura, como a cidade Ocidental, é um desafio muito grande", conta.
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